sábado, 14 de setembro de 2024

Quase mil páginas de um concelho pequeno com história grande: Isabel Viçoso e o seu livro de ouro

 

Dia 9 de julho último, no salão nobre da Câmara de Boticas, foi apresentado um magnífico volume de 950 páginas, profusamente ilustradas, no formato de 22x28, da autoria da investigadora Maria Isabel Viçoso, intitulado: Boticas – Escreve a sua História.

O concelho de Boticas tem 54 aldeias, distribuídas por dez freguesias. Em 1864 essa parte das Terras de de Barroso tinha cerca de 9300 pessoas. Até 1950 a população cresceu, chegando às 13247 almas. Foi esse o período maior em habitantes. Desde aí passou a descer até aos dias de hoje, rondando as 5500 pessoas.

Atualmente integra-se na Região do Alto Tâmega e Barroso à qual pertencem, além de Boticas e de Montalegre (que formam Barroso): Chaves, Ribeira de Pena, Valpaços e Vila Pouca de Aguiar. Estes seis concelhos somam uma área de aproximadamente 2922 km2. De acordo com os dados dos Censos 2021, do Instituto Nacional de Estatística, a população residente desses seis concelhos andará pelos 84300 habitantes, correspondendo, sensivelmente, a 2,4% da população da Região Norte de Portugal.

Segundo os dados estatísticos nacionais, a atividade agrícola e a agro-industrial, destes seis concelhos da Comunidade Transmontana, detêm um papel de grande relevo no panorama económico deste território de baixa densidade. Os recursos endógenos de destacada qualidade constituem-se como um dos fatores de diferenciação destes municípios, muitos dos quais com garantia de Denominação de Origem Protegida e de Indicação Geográfica Protegida, produtos entre os quais se destacam a carne, o mel, o azeite, a castanha, a batata, o folar, os produtos de fumeiro e os enchidos, entre outros.


Lendo este livro, ficamos também a saber que a atividade turística constitui outra das apostas estratégicas do Alto Tâmega e Barroso, fundada numa oferta de turismo termal e de turismo em espaço rural que complementa a beleza natural da região, contextualizada por grandes áreas de interesse natural e que lhe conferem um enquadramento privilegiado em termos de biodiversidade e de riqueza paisagística. E diz mais a mesma fonte: «também o património cultural apresenta um papel de relevo no panorama turístico, económico e social do Alto Tâmega e Barroso. São de destacar neste caso os monumentos nacionais com grande interesse turístico, distribuídos pelos seis concelhos, assim como manifestações culturais diversas como o artesanato e as tradições etnográficas».

 Nos últimos anos o poder político nacional virou costas às Comunidades regionais do interior profundo. Só abriu os olhos àqueles e àquilo que podia dar votos. Estas comunidades, mormente Boticas e Montalegre, encravadas entre montanhas, sempre foram vítimas dos sonhos dos poderosos. E a democracia não trouxe apenas coisas boas à comunidade do Alto Tâmega e seus pares. Trouxe também perigosas ameaças.

Os protestos populares contra a exploração do lítio nestes concelhos, tradicionalmente esquecidos e destinados ao desaparecimento social, são prova clara de que os seus habitantes sabem reagir às perfídias hostis daqueles que nos julgam parvos. E o concelho de Boticas acaba de aparecer no panorama das boas surpresas mais incríveis para esta narrativa cultural.

Este preâmbulo, com que pretendo contrastar o desprezo político que a região sofreu ao longo dos 9 séculos de existência de Portugal, cujo nascimento será comemorado em 2028, traz a esta tribuna esta grande obra monográfica de Isabel Viçoso, que acaba de ser lançada em Boticas.

Tão profunda e longínqua investigação mereceria a presença dos mais reconhecidos filólogos do poder científico nacional, assim como os mais sonantes canais televisivos, radiofónicos e internéticos, mas, até ao momento em que escrevo este reparo, não só ignoraram aquele evento histórico e cultural, como ainda não farejaram esse livro que merece ser conhecido, propalado e colocado à disposição dos leitores nas bibliotecas públicas, pelo menos do norte do país.

 

Maria Isabel Viçoso surpreendeu tudo e todos

O lançamento da mais completa obra sobre o concelho de Boticas foi presidido por Fernando Queiroga, presidente daquele Município, que afirmou tratar-se de “uma referência que versa sobre a nossa identidade. Existiam algumas publicações sobre o concelho, mas ainda não se escrevera uma obra assim tão completa” e acrescentou que “o objetivo é preservar a nossa história, dar a conhecer às pessoas o nosso património cultural e religioso e servir também para memória futura”.

Esta obra reflete o esforço que temos vindo a fazer nos últimos anos, no sentido de valorizar o património natural, arqueológico e cultural que existe no concelho de Boticas e que nos surpreende com a sua riqueza todos os dias. Eu que conheço o concelho todo, há lugares e pormenores que desconhecia completamente” reforçou o autarca.

Por seu lado, a Autora disse que, depois da elaboração “acabei por me apaixonar muito mais pelo Município de Boticas, pelo seu passado e pelo seu valioso presente, desde as suas paisagens naturais à ancestralidade histórica, à antiguidade clássica da época romana e sobretudo o património construído e recuperado”.

Após a morte de Júlio Montalvão Machado, em 2013, Isabel Viçoso assumiu a direcção da revista Aquae Flaviae, desde o número 46 até ao nº 68 que está em preparação. Além destes 22 números da revista, neste período, para exemplo, publicou três obras de folêgo, a saber: A Igreja de Santa Maria Maior; Chaves: percurso de históricas memórias e História da Misericórdia de Chaves:  500 anos de vida .

A autora é mãe da Sofia, médica em Guimarães, que lhe deu os dois netinhos: Gabriel e Filipe. Tão afortunada investigadora apareceu no salão nobre de Boticas com a monografia enciclopédica mais completa, mais profunda e mais atualizada das autarquias do Alto Tâmega. Maria Isabel Viçoso gastou os últimos oito anos, mais propícios à convivência com a família, a interpretar a evolução científica. Esta obra é o resultado de um vasto trabalho levado a cabo sobre o património histórico, cultural e religioso do concelho de Boticas.

Boticas, Montalegre e Chaves foram território do qual proviémos. Mais propriamente da Gallaecia. , por aqui nos encrespámos: nos socalcos, desfiladeiros e rios embruxados, como o Minho, Rabagão, o Cávado, e o Tâmega, cujos santuários do paganismo se cruzam nos contrafortes do Gerês, mais propriamente na Ponte da Misarela que o deus Larouco batiza, no ventre das «senhorinhas» que os «gervázios» geram.

Maria Isabel Viçoso, nasceu em Gralhós (Montalegre), estudou em Coimbra e fixou residência em Chaves. Sempre foi uma Barrosã distinta, quer como docente de Matemática, quer como cidadã que nunca deixou de ser, liderando as causas mais nobres da cidade e da região do Alto Tâmega. Sua mãe fora uma Professora distinta, dessa geração de heróis e heroínas que enfrentaram as carências de toda a natureza. Atravessou a implantação da República e, dessa mudança alastrou o chamado Estado Novo que se bateu contra as duas grandes Guerras, contra a peste negra ou bubónica e contra as novas mudanças ideológicas que em cerca de meio século gerou cerca de quarenta governos.

O interior do país, mormente o norte, como Trás-os-Montes, perdeu os jovens mais válidos, uns pelo recrutamento militar, outros pela emigração, deixaram os campos e, salvo, um ou outro, cujos pais tinham influência material e social, puderam estudar para preencherem os lugares do ensino e outros serviços públicos. Isabel Viçoso, graças aos esforços familiares, conseguiu ser um caso raro e disso beneficiou a sociedade Flaviense. A filha singrou na área da matemática e, tal estatuto, permitiu-lhe ser selecionada para ser docente na tele-escola. A família foi bafejada pelo casamento desta grande Senhora com o Presidente da Câmara de Boticas que fora seu condiscípulo em Coimbra. Não foi preciso mudar de residência pela curta distância entre Chaves e Boticas. Ambos conciliaram as suas vidas profissionais. E quer Chaves quer Boticas beneficiaram esses dois concelhos. Tanto o Dr. José Joaquim de Sousa Fernandes, quer a Drª Isabel Viçoso deixaram obra marcante. Este esforço regional, nomeadamente no concerne ao estudo monográfico traduziu-se no campo bibliografia dos três concelhos que se circunscrevem entre si.

Fernando Queiroga que tem vindo a ser um dos sucessores de Sousa Fernandes à frente do concelho de Boticas afirmou que esta obra pretendia "que soubéssemos e conhecêssemos a história de Boticas desde a época da pré-história até à atualidade. O livro dá a conhecer as muitas realidades que tem o concelho, umas à mostra, outras ainda muito escondidas, porque Boticas é detentora de uma relevante história. Há aqui factos da história que aconteceu na Europa há milhares de anos, e encontramos aqui reflexos dessas passagens”.

E Isabel Viçoso garantiu que “quem ler este livro sabe como viveram há muitos anos neste território, porque vemos os castros e não sabemos o que aconteceu naquelas terras, como viveram naquela época. Quem ler esta obra fica a saber um pouco mais. Porque este livro escreve a sua História” documenta o património cultural, religioso arquitetónico, paisagístico, etnográfico. É constituído por três fases, que dão a conhecer de forma detalhada e pormenorizada 54 povoações que fazem parte do concelho de Boticas. Foram oito anos de fascinante investigação reveladora da presença deste território em cada um dos períodos da História da Humanidade».

Confesso que não pudemos estar presente nesta importante sessão cultural. Só agora nos chegou às mãos este valioso livro se deve chamar, com verdade e objetividade, um grande livro grande.

Mas voltaremos a falar dele para que seja conhecido quando, em 24 de Junho de 2028, Portugal celebrar os 900 anos do seu nascimento, no rescaldo da vitória de D. Afonso Henriques na Batalha de S. Mamede.

Barroso da Fonte


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