Por Maria
da Graça
«Pelo S.Brás, a cegonha verás», é o dito do
início do ciclo do despertar da Natureza que tem outra efeméride colada,
precedendo-a e tapando-a, a festa da Candelária ou da Senhora das Candeias tem
o dito meteorológico invernal:
Quando a Candelária ri,
está o Inverno para vir,
e quando chora,
está o Inverno a ir-se embora.
Quer chore quer cante,
Inverno atrás ou adiante.
Para rir devemos entender: não chover, bom tempo ou fazer
sol.
Porque se o Inverno não tiver vindo, há-de vir.
O santo em questão é o S.Brás de Caravelas que dista uma
vintena de quilómetros de Mirandela ...
No meio do Terreiro da Fonte, a grande fogueira de cepos
de sobreiros mortos aqueciam a festa. Esta mantém-se crepitante até às duas da
madrugada, testemunhando a carrada de troncos de reserva e de guarda de honra.
Uma conversa franca com os homens da fogueira e os
anciãos deixara-me mais informado sobre as tradições do S.Brás de Caravelas. Em
vez da Missa cantada, dei uma volta ao adro da igreja. Deliciei-me a contemplar
as casas de avermelhado xisto, mas doía-me o abandono ou ruína de muitas.
Finda a missa em honra do orago S.Brás, patrono das
gargantas, tinha que haver a procissão, povo acima e Terreiro abaixo, com
cânticos, orações e ladainhas para esconjurar os males e propiciar um bom ano
agrícola. A procissão com o florido andor de S.Brás, sem armadores e sem
grandes figurantes e com o estandarte paroquial, seguiu junto à belíssima Fonte
de chafurdo, entre cânticos e orações e no seu demorado passo, termina no adro.
Mas não vi ninguém a andar de lado, porque faltava o áspero Zéfiro, estando
muito manso.
Antigamente é que era, diziam, com três dias de festejo
em honra de S.Brás:
-Era um assombro!
No primeiro era o «dia dos carros»:
-Vinham carros de bois de todo o lado, até de Bragança,
carregados de produtos da terra, para serem vendidos!
Carros de tracção animal, todos de madeira, desde o
pinalho, ao chavelhão, às treitouras e aos barbiões.
No segundo era «o dia do fumeiro» e de outros produtos,
fruto da generosidade da terra e do suor e saber dos lavradores.
No terceiro vinham vendedores de toda a região e
era «o dia dos tendeiros».
Tendeiros? Só lá vi um, de Sambade, a vender sapatos e
que me dizia:
-Os negócios estão no fim!
No fim!? ... Queixava-se dos polícias da alimentação,
dizendo que estavam ao serviço dos grandes lóbis portugueses e duma Europa
desligada das pequenas realidades e memórias imateriais locais. Por isso, nem
cheirar uma caçoula de pingo ou uma talhada de carne gorda de porco de curral,quanto
mais outro fumeiro mimoso e divino!
Mas, as 26 carroças presentes lá estavam alinhadas no
Terreiro, encabeçadas pelo carro de burros e ladeado por dois carrinhos de mão.
De bois nem um carro carregado de telha, que recordasse o antigo fabrico da mesma
por artesãos locais.
Após a parte religiosa da festa, houve discursos do
Presidente do Município, José Silvano, e Carlos Cunha, Presidente da Junta para
inaugurar a cobertura dum tanque e os sanitários públicos junto à Fonte.
As dezenas de pessoas presentes já ougavam pelas
febras(do talho) no braseiro e, apesar de muitas investidas ainda sobraram, bem
como o pão caseiro de Caravelas ...
Fui puxado, pelo Padre Coelho e pelo Amândio Pires para
casa do Presidente da Junta para um «lauto alomoço a S. Brás», com
rojões, marrã, pão e vinho. Os rojões dos folhos, redenho ou sobentre,
de porco do cortelho consolaram-me o corpo e a alma.
( ...)
Jorge Lage (excerto)
O sr. Dr.Jorge Lage sempre aparece nas festinhas religiosas, mas é quando dão marrã assada ou alheira de Mirandela nas brasas ...-não falha!
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