sábado, 2 de setembro de 2023

Para além dos horizontes dos Cornos das Alturas de Barroso

 

Por Maria da Graça

 

O homem é o somatório daquilo que acrescenta ao saber dos outros. E os outros são todos aqueles que fazem o mesmo na sucessão cósmica que integra tudo e todos.

Na vida tudo interage numa relação de oposição entre o sujeito pensante e o objecto pensado. É nesta interacção intemporal que o homem vale pelo que acrescenta ao que preexiste e que se chama progresso. Foi também nesta perspectiva antropológica que Ortega y Gasset abordou a sua teoria sobre «o homem e a sua circunstância». É também esta dimensão antropológica que suporta o espírito da junção biográfica de Barroso da Fonte, condensada nas 256 páginas deste volume. Sessenta anos de militância diária no jornalismo de intervenção social, não é acto comum à maioria dos mortais. Sobretudo quando o mesmo autor se parte e reparte por tantíssimas outras causas públicas que geram casos de interacção pública de níveis comunitários.

Estes 60 anos de intervenção militante em todos os ramos da discussão social e política têm, naturalmente, um mediatismo e relevância que não podem nem devem confundir-se com questões paroquiais, com boatos de feira, ou com ficções regionalistas que morrem por cada nova estação.

O autor de quem aqui se fala não é um trepador de montanha, nem um maratonista de grande curso. Bastará ler nas entrelinhas de cada causa e de cada caso aqui aflorado para perceber que se trata de um somatório de causas e de casos que vão muito para além dos horizontes dos Cornos das Alturas de Barroso, do marco geodésico do Larouco, ou dos penhascos da Mourela ou do Gerês. A sua mundividência intelectual, cultural e cívica galgou montes e vales; atravessou fronteiras, sobrevoou terra, mar e ar. Semeou nos longes de África ideias, projectos e convicções. Cheirou a Ásia, inspirou a pureza tropical da América do Sul, inscreveu a marca da sua personalidade em Manaus, descobriu Londrina e levou ás comunidades da Lusofonia norte-americana, desde S. Diego, ao Clube Vasco da Gama em Bridgeport, às saudosas  Torres Gémeas de Nova Iorque, ao Museu de Hartford ou Centro Cultural de Newark, o abraço da fraternidade Lusa. Foi um périplo de transumância global que cumpriu uma espécie de aprendizagem permanente que abre os olhos a quem julga que nasceu com eles abertos e gera calafrios na alma de quem, pensando ter feito muito, com o pouco que fez à sua volta, regressa à terra, embrulhado num esquife que desaparece com o pó das primeiras ventanias.

Como filósofo de formação e antropólogo de vivência sistemática, cedo adoptou para lema de vida a máxima de Sócrates: quanto mais sei, mais reconheço que nada sei.

Barroso da Fonte costuma dizer que não teve tempo de ser criança. Foi assim a sua geração em Terras do Barroso que ele transformou no centro do seu Mundo. E foi sempre polémico por respeito às suas convicções.

E também nunca foi um estranho nas terras por onde passou. Em Chaves, no Porto, em Guimarães. Quando falava em público, arranjava sempre contexto para falar de Trás-os-Montes e de Barroso. Ainda que mais não fosse para dizer que não é ali que Portugal acaba, mas sim que Portugal começa. Foi dali, ou por ali, que vieram D.Teresa e o Conde D.Henrique, os primeiros Condes de Portugal. Essa reivindicação historiográfica confirmou-a na sua penúltima obra que obrigou a Academia Portuguesa de História a corrigir as 1693 páginas dos dois volumes da História dos Reis de Portugal, Bastaria este exemplo para considerar Barroso da Fonte um autor ao nível da Lusofonia.

 

JOÃO PEDRO MIRANDA - CONTRA - CAPA  DO LIVRO " 60 ANOS DE JORNALISMO DE CAUSAS E CASOS"

DE ANTÓNIO DIAS VIEIRA E JOÃO PEDRO MIRANDA

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