Por Maria
da Graça
O homem é
o somatório daquilo que acrescenta ao saber dos outros. E os outros são todos
aqueles que fazem o mesmo na sucessão cósmica que integra tudo e todos.
Na vida
tudo interage numa relação de oposição entre o sujeito pensante e o objecto
pensado. É nesta interacção intemporal que o homem vale pelo que acrescenta ao
que preexiste e que se chama progresso. Foi também nesta perspectiva
antropológica que Ortega y Gasset abordou a sua teoria sobre «o homem e a sua
circunstância». É também esta dimensão antropológica que suporta o espírito da
junção biográfica de Barroso da Fonte, condensada nas 256 páginas deste volume.
Sessenta anos de militância diária no jornalismo de intervenção social, não é
acto comum à maioria dos mortais. Sobretudo quando o mesmo autor se parte e
reparte por tantíssimas outras causas públicas que geram casos de interacção
pública de níveis comunitários.
Estes 60
anos de intervenção militante em todos os ramos da discussão social e política
têm, naturalmente, um mediatismo e relevância que não podem nem devem
confundir-se com questões paroquiais, com boatos de feira, ou com ficções
regionalistas que morrem por cada nova estação.
O autor
de quem aqui se fala não é um trepador de montanha, nem um maratonista de
grande curso. Bastará ler nas entrelinhas de cada causa e de cada caso aqui
aflorado para perceber que se trata de um somatório de causas e de casos que
vão muito para além dos horizontes dos Cornos das Alturas de Barroso, do marco
geodésico do Larouco, ou dos penhascos da Mourela ou do Gerês. A sua
mundividência intelectual, cultural e cívica galgou montes e vales; atravessou
fronteiras, sobrevoou terra, mar e ar. Semeou nos longes de África ideias,
projectos e convicções. Cheirou a Ásia, inspirou a pureza tropical da América
do Sul, inscreveu a marca da sua personalidade em Manaus, descobriu Londrina e
levou ás comunidades da Lusofonia norte-americana, desde S. Diego, ao Clube
Vasco da Gama em Bridgeport, às saudosas
Torres Gémeas de Nova Iorque, ao Museu de Hartford ou Centro Cultural de
Newark, o abraço da fraternidade Lusa. Foi um périplo de transumância global
que cumpriu uma espécie de aprendizagem permanente que abre os olhos a quem
julga que nasceu com eles abertos e gera calafrios na alma de quem, pensando
ter feito muito, com o pouco que fez à sua volta, regressa à terra, embrulhado
num esquife que desaparece com o pó das primeiras ventanias.
Como
filósofo de formação e antropólogo de vivência sistemática, cedo adoptou para
lema de vida a máxima de Sócrates: quanto mais sei, mais reconheço que nada
sei.
Barroso da
Fonte costuma dizer que não teve tempo de ser criança. Foi assim a sua geração
em Terras do Barroso que ele transformou no centro do seu Mundo. E foi sempre
polémico por respeito às suas convicções.
E também
nunca foi um estranho nas terras por onde passou. Em Chaves, no Porto, em
Guimarães. Quando falava em público, arranjava sempre contexto para falar de
Trás-os-Montes e de Barroso. Ainda que mais não fosse para dizer que não é ali
que Portugal acaba, mas sim que Portugal começa. Foi dali, ou por ali, que
vieram D.Teresa e o Conde D.Henrique, os primeiros Condes de Portugal. Essa
reivindicação historiográfica confirmou-a na sua penúltima obra que obrigou a
Academia Portuguesa de História a corrigir as 1693 páginas dos dois volumes da
História dos Reis de Portugal, Bastaria este exemplo para considerar Barroso da
Fonte um autor ao nível da Lusofonia.
JOÃO PEDRO MIRANDA - CONTRA - CAPA DO LIVRO " 60 ANOS DE JORNALISMO DE CAUSAS E CASOS"
DE ANTÓNIO DIAS VIEIRA E JOÃO PEDRO MIRANDA
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