Por Maria
da Graça
O momento representado é
aquele em que a mulher enxuga os pés de Jesus com os cabelos (fig.1) e
(fig.2). Curvada, tem junto a si o vaso de alabastro. Os cabelos longos
caem-lhe pelos ombros.
Veste uma túnica de manga
curta coberta por um manto largo.
Sentado à frente da mesa,
Jesus abençoa-a. Enverga túnica comprida até aos pés descalços, com dobras
pronunciadas junto ao solo. O cabelo liso e comprido toca-lhe os ombros; a
barba é abicada.
No lado contrário da mesa
posta, estão atónitos dois convivas e o fariseu Simão, reflectindo sobre a
acção do Mestre.
Este episódio relatado
por Mateus (XXVI), 6-13), Marcos XIV, 3-9), Lucas VII, 36-50) e João (XIL,
1-8), é diferente em detalhes, não na essência. Contudo, essa diferença não foi
fácil de conciliar na arte.
FIG. 1 |
Os evangelistas não
coincidem quanto à mulher que enxugou os pés de Jesus. Para Mateus era uma
mulher da cidade. Marcos apenas indica que era uma mulher. Para Lucas era uma
mulher não precisando a sua origem, mas não deixou de referir que era uma
pecadora. Finalmente João afirma que era Maria, irmã de Lázaro e Marta.
A mulher, durante o
repasto, tem um acto de profunda humildade.
Trazendo um vaso de
alabastro (atributo de Maria Madalena) com perfume, banhou-lhe os pés com as
suas lágrimas, enxugou-lhos depois com os cabelos, cobrindo-os de beijos.
Ungindo-os, finalmente, com o seu perfume, como refere Lucas.
A tradição apócrifa e a
interpretação dada por São João Crisóstomo, identificam a mulher anónima como
sendo Maria Madalena (Stefano Zuffi).
A Madalena é, sem dúvida,
na literatura apócrifa, um elemento sempre presente a quem é atribuído um papel
relevante *84.FIG. 2
A iconografia de Lobrigos
(fig.1) segue o relato de Lucas. Embora a descrição seja parecida com a de
João, na verdade, Marta não se encontra presente a servir à mesa.
Na arte bizantina,
Madalena é representada de pé para ungir os pés do Redentor. Na arte ocidental,
pelo contrário, ajoelha-se debaixo da mesa.
Existem grandes
semelhanças entre a iconografia de Lobrigos e a estampa do mestre anónimo
(fig.2). Na verdade, tanto a mulher como Jesus, embora em posição invertida,
apresentam a mesma atitude.
Mesmo os convivas, em
maior número na gravura, posicionam-se de forma análoga junto à mesa,
igualmente rectangular.
A gravura de Diana Ghisi
(Fig.3) possui elementos análogos. Jesus e a Mulher. Embora seja mais dinâmica
que a iconografia duriense.
(...)
In As Mulheres nos
Evangelhos Canónicos
-A Sua Representação na
Periferia Duriense -
Armando Palavras
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