sábado, 9 de setembro de 2023

O Repasto com Simão, o fariseu - Excerto

 

Por Maria da Graça

 

1-    O Repasto com Simão, o fariseu - Excerto

 

O momento representado é aquele em que a mulher enxuga os pés de Jesus com os cabelos (fig.1) e (fig.2). Curvada, tem junto a si o vaso de alabastro. Os cabelos longos caem-lhe pelos ombros.

Veste uma túnica de manga curta coberta por um manto largo.

Sentado à frente da mesa, Jesus abençoa-a. Enverga túnica comprida até aos pés descalços, com dobras pronunciadas junto ao solo. O cabelo liso e comprido toca-lhe os ombros; a barba é abicada.

No lado contrário da mesa posta, estão atónitos dois convivas e o fariseu Simão, reflectindo sobre a acção do Mestre.

Este episódio relatado por Mateus (XXVI), 6-13), Marcos XIV, 3-9), Lucas VII, 36-50) e João (XIL, 1-8), é diferente em detalhes, não na essência. Contudo, essa diferença não foi fácil de conciliar na arte.

FIG. 1
Nos sinópticos a cena passa-se em casa de Simão o fariseu. João relata um episódio análogo que se desenrola em Betânia pouco tempo antes do ciclo da Paixão, depois da Ceia e das Bodas de Caná, em casa de Lázaro, Marta e Maria.

Os evangelistas não coincidem quanto à mulher que enxugou os pés de Jesus. Para Mateus era uma mulher da cidade. Marcos apenas indica que era uma mulher. Para Lucas era uma mulher não precisando a sua origem, mas não deixou de referir que era uma pecadora. Finalmente João afirma que era Maria, irmã de Lázaro e Marta.

A mulher, durante o repasto, tem um acto de profunda humildade.

Trazendo um vaso de alabastro (atributo de Maria Madalena) com perfume, banhou-lhe os pés com as suas lágrimas, enxugou-lhos depois com os cabelos, cobrindo-os de beijos. Ungindo-os, finalmente, com o seu perfume, como refere Lucas.

A tradição apócrifa e a interpretação dada por São João Crisóstomo, identificam a mulher anónima como sendo Maria Madalena (Stefano Zuffi). 

A Madalena é, sem dúvida, na literatura apócrifa, um elemento sempre presente a quem é atribuído um papel relevante *84.

FIG. 2

A iconografia de Lobrigos (fig.1) segue o relato de Lucas. Embora a descrição seja parecida com a de João, na verdade, Marta não se encontra presente a servir à mesa.

Na arte bizantina, Madalena é representada de pé para ungir os pés do Redentor. Na arte ocidental, pelo contrário, ajoelha-se debaixo da mesa.

Existem grandes semelhanças entre a iconografia de Lobrigos e a estampa do mestre anónimo (fig.2). Na verdade, tanto a mulher como Jesus, embora em posição invertida, apresentam a mesma atitude.

Mesmo os convivas, em maior número na gravura, posicionam-se de forma análoga junto à mesa, igualmente rectangular.

A gravura de Diana Ghisi (Fig.3) possui elementos análogos. Jesus e a Mulher. Embora seja mais dinâmica que a iconografia duriense.

(...)

 

In As Mulheres nos Evangelhos Canónicos

-A Sua Representação na Periferia Duriense -

Armando Palavras

 

 *84 - Evangelho de Filipe (10e 30,64); Evangelho de Tomé (10-113; 20. 114); Diálogo do Salvador (20, 69-83). A sua importância dentro das comunidades primitivas cristãs era tão elevada que lhe atribuíram um apócrifo: O Evangelho de Maria.

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