quarta-feira, 16 de agosto de 2023

ISABEL - A VISITAÇÃO

 Por Maria da Graça


FIG.  1
Contada apenas por LUCAS (I,39-56) de forma sumária, o episódio diz-nos que por aqueles dias, Maria se dirigiu apressadamente a uma povoação nas montanhas da Judeia, para visitar a sua prima Isabel que se encontrava grávida de seis meses.

Entretanto em casa de Zacarias, marido de Isabel, cumprimentou a prima. Quando Isabel ouviu a saudação da prima, a criança mexeu-se dentro dela. (fig.1)

FIG. 3
FIG.  2
Isabel descendente de Arão, irmão de Moisés, era esposa de Zacarias, sacerdote numa cidade nas colinas de Judá. Isabel, além de estéril, já tinha uma idade avançada, assim como o seu marido. Certo dia, o anjo Gabriel apareceu a Zacarias no templo, junto do santuário, e anunciou-lhe que as suas orações haviam sido ouvidas. Por esse motivo, Isabel iria dar à luz um filho, a quem deveriam dar o nome de João. Como Zacarias não acreditou, o anjo disse-lhe que ficaria incapaz de falar até que isso acontecesse. Quando Zacarias saiu do santuário, dirigindo-se para casa, apenas gesticulava. Dias depois Isabel concebeu.

FIG. 4

A representação deste tema baseia-se, segundo Émile Mâle, em dois modelos distintos: o da arte helenística, onde as mulheres avançavam ao encontro uma da outra em atitude reservada e o modelo sírio em que trocavam um abraço terno. (fig. 2 e 3) .

Estas duas tradições iconográficas remontam ao século VI. Santiago de Vorágine diz-nos, na " Lenda Dourada " que o culto da visitação foi instituído pelo Papa Urbano VI, preocupado com o "Grande Cisma" do Ocidente. (fig 4 e 5). 

FIG. 7

Estas representações cumprem os preceitos do tratadista sevilhano, Francisco Pacheco. Ou seja, seguem os versículos de São Lucas, influenciada pelos preceitos contra-reformistas. Ao contrário de outras que preferiram a visão dos místicos, como é demonstrado por Luís Teixeira acerca da Visitação de Viseu (Fig.7 - imagem da Lavandeira, Carrazeda de Ansiães).
O encontro das duas primas tem um carácter afectuoso, abraçando-se com ternura, ao contrário do encontro da "Anunciação", mais solene e austero.

Maria aparenta a idade de uma mulher jovem, como recomenda a tradição. Isabel esboça uma genuflexão e uma ligeira vénia com a cabeça. Isabel aparenta a idade de uma mulher idosa.

Além das duas primas, esta cena é, muitas vezes, completada com outras personagens, entre elas, Zacarias e José. 

Em alguns casos, além do abraço, 

beijam-se. O tema foi artisticamente explorado de diversas formas, reflectindo a evolução do fervor mariano. A variante da genuflexão aparece em inícios do século XV nos livros de horas, adoptada pela arte italiana em finais do mesmo, impondo-se após do Concílio de Trento na arte barroca.

É também comum, representar-se a Virgem muito mais jovem na Anunciação do que na Visitação...

( ...) 

In AS MULHERES NOS EVENGELHOS CANÓNICOS

- A Sua Representação na Periferia Duriense

ARMANDO PALAVRAS


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