Por Maria da Graça
http://tempocaminhado.blogspot. com/2020/07/a-bandeira-processional- das-almas-de_12.html |
Licenciado em Belas Artes (Pintura), Doutorado em História, na área específica de História da Arte, e Investigador integrado do CITAD, Centro de Investigação em Território, Arquitectura e Design, do ILID (Agrupamento de Centros de Investigação), financiado pela FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia), desde 2010.
Nos últimos seis anos
publicou, na sua área académica, vários artigos em revistas como Brigantia
(Bragança), Tellus (Vila Real) e Beira Alta (Viseu). Publicou recentemente
(2020) ensaio sobre a Bandeira processional de Lagoaça.
MAIESTAS DOMINI NO ROMÂNICO RURAL PORTUGUÊS
... (...)
Durante os períodos de
perseguição aos Cristãos, no Império Romano, as igrejas e as salas de reunião
eram pequenas, de aspecto insignificante. Contudo, quando a Igreja, a partir do
ano 311 d.C. com Constantino passou a ser o poder supremo no império, todo o
seu relacionamento com a arte teve que ser reexaminado. ... ...
A basílica foi assim
adaptada pelos Cristãos, com a influência da mãe "Helena, mais tarde canonizada
pela Igreja "Santa Helena", a quem também está ligada a tradição
da descoberta da vera cruz).
Reconstituição da Basílica de São Pedro em Roma, segundo Krautheimer |
Este tipo de construções,
acarretaram enormes problemas ao imperador. Desde logo porque se colocava a
questão de como as decorar, na medida em que fazia ressurgir o problema geral
da imagem e do seu uso na religião, suscitando violentas disputas. Ao tempo
todos os Cristãos concordavam num ponto: na Casa do Senhor não deveriam existir
estátuas, na medida em que estas se aproximavam às antigas imagens esculpidas
de ídolos pagãos que o Antigo Testamento condenava. Procurava-se, desta forma,
não confundir os espíritos dos pagãos recentemente convertidos à nova fé.
Contudo, divergiam em relação à pintura. Muitos destes cristãos
consideravam-nas úteis porque ajudavam a comunidade a recordar os ensinamentos
recebidos e mantinham viva a memória das cenas sagradas. Ponto de vista que
logo foi adoptado, desde o início, na parte latina (Ocidental) do Império
Romano. E foi essa prerrogativa a seguida pelo Papa Gregório Magno.
Para esta autoridade da
Igreja as cenas sagradas reportadas na pintura eram vitais para os fiéis
que não sabiam ler nem escrever. E essas imagens eram fundamentais para os
ensinar. Dizia: "A pintura pode fazer pelos analfabetos o que a escrita faz
pelos que sabem ler" (Alain Erlande - Brandenburg).
Esta sentença foi de uma
importância vital para a História da Arte, porque era repetida sempre que
alguns fiéis atacavam o uso de imagens nas igrejas.
Para que este propósito
fosse atendido, a história dos episódios sagrados tinha de ser contada de
forma clara e simples. Por essa razão os
artistas foram gradualmente produzindo uma arte concentrada no estritamente
necessário, omitindo aquilo que desviasse a atenção desse propósito. Os
mosaicos de Santo Apolinário Novo, em Ravena (c.500 d.C.) são a prova onde
esses princípios foram aplicados.
... ... ...
CULTURA-
IN REVISTA DA LUSOFONIA
O PANTOCRATOR (Maiestas Domini no românico rural português)
Abside da Catedral de Monreale, na Sicília, c. 1180 / 1190. |
Por volta do século IV, a
iconografia de Cristo sofre uma mudança radical. Deixa de ser representado como
um homem imberbe com as características romanas da iconografia das catacumbas e
dos primeiros mosaicos bizantinos, para ser representado com barba e feições
semíticas. Ou seja, com as características do Pantocrator, ou senhor do
Universo, que segue os preceitos dos verdadeiros "ícones".
São Salvador de Ansiães |
Alguns fervorosos da tradição rebuscam-na em duas tradições fundamentadas nas acheiropoieton, imagens que não foram feitas por mãos humanas. Neste caso o VÉU DE VERÒNICA e o MANDYLION DE EDESSA.
O VÉU DE VERÓNICA
Rogier van der Weyden - triptico St Veronica |
Comovida pelos sofrimentos
de Cristo no caminho para o calvário, uma mulher a quem os evangelhos canónicos
não fazem referência, sai de entre as mulheres que o seguiam e com uma mantilha
limpa o suor e o sangue que escorriam no rosto de Cristo. Segundo a tradição a
imagem do rosto sagrado teria ficado impressa no tecido.
Este aquiropeto deu origem a um dos episódios mais populares. Acrescentado, segundo a maioria dos comentadores, pela tradição apócrifa, narrado no texto "Actos de Pilatos", também conhecido por "Evangelho de Nicodemo". ...
...Pantocrator do mosteiro de Santa
Catarina do Sinai, século VI. |
a) - Ausência de
perspectiva;
b) - Fundo dourado com
ausência de elementos decorativos;
c) - Os rostos são o
centro espiritual do "ícone", representados frontalmente, para haver
um "contacto directo" com quem contempla;
d) - Como para a tradição
oriental, o rosto de Cristo nos "ícones", é o do Mandylion, o rosto é
alongado, olhos grandes marcados por sobrancelhas arqueadas, imóveis. O olhar é
penetrante e dirigido para o infinito;
e) - Nariz longo, fino e
delicado;
f) - O pescoço é longo e
alargado, denunciando uma ou duas pregas como se estivesse a soprar;
g) - A barba é longa,
terminando em ponta arredondada, ou abicada;
h) - O bigode caído,
cabelos ondulados recolhidos à altura das orelhas, descendo sobre os ombros;
i) - A figura é pouco
realista, pois pretende transmitir uma mensagem espiritual; representada a meio
corpo e sozinha;
https://www.calameo.com/read/00587320296 160a7883ed |
k) - A roupagem é constituída por duas peças: a túnica (vermelha) e o manto (azul);
l) - A figura destaca-se
do fundo dourado que simboliza o Céu;
m)- A auréola, também
designada coroa ou glória é desenhada a traço fino, e nela estão desenhados
três braços de uma cruz;
n) - No "ícone" estão presentes inscrições, em grego, que indicam a identidade divina e humana da figura. Para Jesus Cristo essas inscrições são constituídas por dois diagramas: ICXC;
... ... (...)
IN REVISTA DA LUSOFONIA -
Armando Palavras
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