terça-feira, 28 de março de 2023

MAIESTAS DOMINI NA REVISTA DA LUSOFONIA


Por Maria da Graça


http://tempocaminhado.blogspot.
com/2020/07/a-bandeira-processional-
das-almas-de_12.html

ARMANDO MANUEL GOMES PALAVRAS 

Licenciado em Belas Artes (Pintura), Doutorado em História, na área específica de História da Arte, e Investigador integrado do CITAD, Centro de Investigação em Território, Arquitectura e Design, do ILID (Agrupamento de Centros de Investigação), financiado pela FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia), desde 2010.

Nos últimos seis anos publicou, na sua área académica, vários artigos em revistas como Brigantia (Bragança), Tellus (Vila Real) e Beira Alta (Viseu). Publicou recentemente (2020) ensaio sobre a Bandeira processional de Lagoaça.

 



MAIESTAS DOMINI NO ROMÂNICO RURAL PORTUGUÊS

...   (...)

Durante os períodos de perseguição aos Cristãos, no Império Romano, as igrejas e as salas de reunião eram pequenas, de aspecto insignificante. Contudo, quando a Igreja, a partir do ano 311 d.C. com Constantino passou a ser o poder supremo no império, todo o seu relacionamento com a arte teve que ser reexaminado. ... ...


A basílica foi assim adaptada pelos Cristãos, com a influência da mãe "Helena, mais tarde canonizada pela Igreja "Santa Helena", a quem também está ligada a tradição da descoberta da vera cruz).

Reconstituição da Basílica de São Pedro
em Roma, segundo Krautheimer

Este tipo de construções, acarretaram enormes problemas ao imperador. Desde logo porque se colocava a questão de como as decorar, na medida em que fazia ressurgir o problema geral da imagem e do seu uso na religião, suscitando violentas disputas. Ao tempo todos os Cristãos concordavam num ponto: na Casa do Senhor não deveriam existir estátuas, na medida em que estas se aproximavam às antigas imagens esculpidas de ídolos pagãos que o Antigo Testamento condenava. Procurava-se, desta forma, não confundir os espíritos dos pagãos recentemente convertidos à nova fé. Contudo, divergiam em relação à pintura. Muitos destes cristãos consideravam-nas úteis porque ajudavam a comunidade a recordar os ensinamentos recebidos e mantinham viva a memória das cenas sagradas. Ponto de vista que logo foi adoptado, desde o início, na parte latina (Ocidental) do Império Romano. E foi essa prerrogativa a seguida pelo Papa Gregório Magno.

Para esta autoridade da Igreja as cenas sagradas reportadas na pintura eram vitais para os fiéis que não sabiam ler nem escrever. E essas imagens eram fundamentais para os ensinar. Dizia: "A pintura pode fazer pelos analfabetos o que a escrita faz pelos que sabem ler" (Alain Erlande - Brandenburg).

Esta sentença foi de uma importância vital para a História da Arte, porque era repetida sempre que alguns fiéis atacavam o uso de imagens nas igrejas.

Para que este propósito fosse atendido, a história dos episódios sagrados tinha de ser contada de forma clara e simples. Por essa razão os artistas foram gradualmente produzindo uma arte concentrada no estritamente necessário, omitindo aquilo que desviasse a atenção desse propósito. Os mosaicos de Santo Apolinário Novo, em Ravena (c.500 d.C.) são a prova onde esses princípios foram aplicados. 

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CULTURA- IN REVISTA DA LUSOFONIA


O PANTOCRATOR  (Maiestas Domini no românico rural português)

Abside da Catedral de Monreale,
na Sicília, c. 1180 / 1190.

Por volta do século IV, a iconografia de Cristo sofre uma mudança radical. Deixa de ser representado como um homem imberbe com as características romanas da iconografia das catacumbas e dos primeiros mosaicos bizantinos, para ser representado com barba e feições semíticas. Ou seja, com as características do Pantocrator, ou senhor do Universo, que segue os preceitos dos verdadeiros "ícones".

São Salvador de Ansiães
Além do Pantocrator de Monreale, podemos referir outros como o do mosteiro bizantino de Daphni, na Grécia (século XII), o da igreja ortodoxa grega bizantina medieval, preservada como Museu Chora em Edirnekapi, Istambul, cercado de profetas, ou os das igrejas da Capadócia (actual Turquia) datadas dos séculos XI e XII. A questão que se coloca é a da origem desses "ícones" e dessa transformação iconográfica. 

Alguns fervorosos da tradição rebuscam-na em duas tradições fundamentadas nas acheiropoieton, imagens que não foram feitas por mãos humanas. Neste caso o VÉU DE VERÒNICA e o MANDYLION DE EDESSA.


O VÉU DE VERÓNICA

 

Rogier van der Weyden - triptico St Veronica 

Comovida pelos sofrimentos de Cristo no caminho para o calvário, uma mulher a quem os evangelhos canónicos não fazem referência, sai de entre as mulheres que o seguiam e com uma mantilha limpa o suor e o sangue que escorriam no rosto de Cristo. Segundo a tradição a imagem do rosto sagrado teria ficado impressa no tecido. 

Este aquiropeto deu origem a um dos episódios mais populares. Acrescentado, segundo a maioria dos comentadores, pela tradição apócrifa, narrado no texto "Actos de Pilatos", também conhecido por "Evangelho de Nicodemo". ... 

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Pantocrator do mosteiro de Santa Catarina
do Sinai, século VI.
Uma das mais antigas imagens, se não a mais antiga deste "ícone", é o Cristo Pantocrator do século VI do mosteiro de Santa Catarina, no monte Sinai, no Egipto. E como se pode observar segue os preceitos modelares antigos que foram exigidos aos artistas, estabelecendo-se assim, uma tipologia universal:

a) - Ausência de perspectiva;

b) - Fundo dourado com ausência de elementos decorativos;

c) - Os rostos são o centro espiritual do "ícone", representados frontalmente, para haver um "contacto directo" com quem contempla;

d) - Como para a tradição oriental, o rosto de Cristo nos "ícones", é o do Mandylion, o rosto é alongado, olhos grandes marcados por sobrancelhas arqueadas, imóveis. O olhar é penetrante e dirigido para o infinito;

e) - Nariz longo, fino e delicado;

f) - O pescoço é longo e alargado, denunciando uma ou duas pregas como se estivesse a soprar;

g) - A barba é longa, terminando em ponta arredondada, ou abicada;

h) - O bigode caído, cabelos ondulados recolhidos à altura das orelhas, descendo sobre os ombros;

i) - A figura é pouco realista, pois pretende transmitir uma mensagem espiritual; representada a meio corpo e sozinha;

https://www.calameo.com/read/00587320296
160a7883ed


j) - Desprovida de volume, mas com ampla roupagem;

k) - A roupagem é constituída por duas peças: a túnica (vermelha) e o manto (azul);

l) - A figura destaca-se do fundo dourado que simboliza o Céu;

m)- A auréola, também designada coroa ou glória é desenhada a traço fino, e nela estão desenhados três braços de uma cruz;

n) - No "ícone" estão presentes inscrições, em grego, que indicam a identidade divina e humana da figura. Para Jesus Cristo essas inscrições são constituídas por dois diagramas: ICXC;

... ... (...)

IN REVISTA DA LUSOFONIA - Armando  Palavras

 



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