"De acordo com um Relatório do Fórum Econômico
Mundial, publicado no último dia 26 de maio, 'em pleno vigor do
flagelo que atinge toda a humanidade, durante os meses de abril e maio, os
superbilionários viram sua fortuna crescer em 19%, o que equivale a um aumento
de 400 bilhões de dólares'. O relatório cita, entre outros, os expoentes da
tecnologia da informática, tais como Amazon, Microsoft, Youtube, Facebook.
Convém não esquecer que no Brasil, um dos países mais desiguais do
planeta, 1% dos mais ricos retêm maior renda
que a metade da população", escreve Alfredo J. Gonçalves,
padre carlista, assessor das Pastorais Sociais e vice-presidente do SPM.
Eis o artigo.
A frase de João Paulo II remonta
ao início dos anos de 1980, quando o então pontífice fez uma visita à Cidade
do México. Mas traduz também um entrave histórico para o “desenvolvimento
integral”, denunciado por uma série de escritos da Doutrina Social da Igreja,
com destaque para os documentos finais das Assembleias do
episcopado da América Latina e
Caribe. O tema das assimetrias socioeconômicas, entre
continentes, regiões, países e no interior mesmo de cada país, aparece
transversalmente em todo o ensino social da Igreja. Encontra-se presente, de
forma particular, nas análises do fenômeno migratório. Este último funciona
como uma espécie de pêndulo que, em vão, tentaria equilibrar os pratos da
balança.
Pesquisas vêm mostrado que o cenário
provocado pela pandemia do Covid-19 tem
agravado ainda mais os desequilíbrios sociais entre povos
e nações. De acordo com um Relatório do Fórum Econômico
Mundial, publicado no último dia 26 de maio, “em pleno vigor do flagelo que
atinge toda a humanidade, durante os meses de abril e maio, os superbilionários
viram sua fortuna crescer em 19%, o que equivale a um aumento de 400 bilhões de
dólares”. O relatório cita, entre outros, os expoentes da tecnologia da
informática, tais como Amazon, Microsoft, Youtube, Facebook.
Convém não esquecer que no Brasil, um dos países
mais desiguais do planeta, 1% dos mais ricos retêm maior renda
que a metade da população.
Desgraçadamente, o aumento exponencial
da renda e da riqueza dos maiores conglomerados transnacionais, mesmo em tempos
de crise (ou devido justamente à crise), não representa novidade
alguma. O economista francês Thomas Piketty, o autor
do best-seller O Capital do século XXI, analisa nessa obra a
crescente desigualdade social que se verifica nas últimas décadas do século XX
e início do atual. Recentemente, o mesmo economista lança o livro Capital e ideologia. Em
entrevista sobre “a superação do hipercapitalismo”, publicada pelo site
da rede Globo, no dia 12 de setembro de 2019, comentando a nova
obra, afirma literalmente o autor francês: “Se nos negarmos a falar sobre a
superação do capitalismo por uma economia mais justa e
descentralizada, corremos o risco de continuar fortalecendo as
narrativas do avanço identitário, do avanço xenófobo. Estas são histórias
niilistas extremamente perigosas para nossas sociedades que se alimentam da
recusa em discutir soluções justas, internacionalistas, soluções igualitárias
de reorganização do sistema econômico”!
A sua fala deixa claro que a teoria
niilista do negacionismo e a
“narrativa do avanço xenófobo”, que costumam caminhar de mãos dadas, se agravam
no solo ambíguo da pandemia. Com efeito, a crise é palco
privilegiado para oportunismos imprevistos. As raras e parcas migalhas que
deixam de chegar às mãos e à mesa dos pobres, escorregam
sub-repticiamente (ou à plena luz do dia) para as contas bancárias dos super ricos.
E esse desequilíbrio constante da balança é fator local, regional e global de
grandes deslocamentos humanos. Os “fugitivos” da violência, da pobreza ou dos
desastres climáticos correm desesperados atrás das migalhas perdidas. Por sua
vez, o aumento das migrações provoca
fortes reações preconceituosas, discriminatórias e xenófobas, tanto por parte
de grupos racistas e neofacistas fechados, quanto por parte
das políticas de extrema direita que
avançam pelo planeta.
Resulta evidente que um sistema político
e econômico de produção-mercado-consumo, levado à quinta potência, cujo motor é
o lucro a qualquer preço e que se nutre através da acumulação do capital, não
pode continuar funcionando indefinidamente. A exploração exacerbada dos recursos
naturais e da força de trabalho humano tropeça com limites
insuperáveis. A mãe-terra, “nossa
casa comum” não suporta o ritmo endiabrado da acumulação capitalista. Daí a
necessidade de mudanças estruturais nesse sistema que Piketty chama
de “hipercapitalismo”. Ele
se revela cada vez mais insustentável, tanto do ponto de vista socioeconômico e
político-cultural, quanto do ponto de vista ecológico. Além disso, continua
levando imensas populações órfãs e errantes à estrada, ao êxodo, ao exílio e à
diáspora.
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É o momento de ver os pobres. Artigo de Joachim von
Braun, Stefano Zamagni e Marcelo Sánchez Sorondo
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