sábado, 11 de julho de 2020

Seminário de Santa Clara — um aceno de simpatia



Barroso da FonteVoz de Trás-os-Montes

Recuo a 1952 e galgo para 1962, anos da minha entrada e saída do Seminário que me espevitaram para o resto da minha vida.
Foram 58 anos de esforço por mim, pelos meus e por aqueles com quem tive o gosto de partilhar os meus queixumes, os meus fracassos e também bastantes alegrias. Vim do meu pátrio Barroso, ingénuo, rústico e pouco propenso para o estudo. E o pároco que foi a primeira pessoa de peso que conheci, de fora de aldeia, bem me disse que eu não tinha cara de seminarista. Que era melhor ser pastor da vezeira. Mas meu pai tinha mais nove filhos e gostava que eu fosse pró seminário.
Em 30 de junho de 1962, entendi sair de vez. Nesse mesmo dia passara de ano. Mas um dos Prefeitos lera uns versos que enviei a uma moça, na última viagem que fizera à “Missa Nova” de um conterrâneo. Avisou do púlpito que esse versejador deveria ficar em casa, depois das férias, porque os seminaristas não devem “namoriscar”. Recordei-me do pároco que nunca me incentivou. E também desse censor que, dez anos depois, abandonou o sacerdócio.
Fez, agora, 58 anos. E dou comigo a ler, neste jornal, um apontamento sobre o Padre Borges – um sacerdote exemplar, escrito pelo Arquiteto Eduardo Varandas. Comoveu-me este belíssimo testemunho porque conheci “esta figura de porte atlético, de ar sereno e cativante”, como padre, como professor e como cidadão. Subscrevo tudo o que este arquiteto afirma, não só em relação ao “Dr. Borges” como nós o tratávamos, mas todos os outros que conheci, em dez anos, incluindo quem me trocou as voltas em tão atribulada missão. Reconheço que foi um privilégio para mim – e penso que para milhares de meus condiscípulos – ter frequentado essa Instituição de Cultura e de Formação cívica. Ainda esta semana se falou, positivamente, das escolas públicas e privadas. Nesses tempos, ir para o seminário era subalternizar os seus alunos em relação àqueles que iam para os liceus. O mesmo se diga em relação às instituições do ensino superior. Fiz a licenciatura na católica em cinco anos. Mestrado na Universidade do Minho em três. Aí completei os cinco anos curriculares do doutoramento. Ainda não defendia tese, mas logo a publiquei e já vai com a terceira edição. Nunca me senti inferiorizado quer na pública quer na privada.
Leio na mesma fonte que a Câmara de Vila Real deliberou construir mais um parque de estacionamento nos terrenos do Seminário. É pena, mas é a lei da vida.

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