Barroso da Fonte – Voz de Trás-os-Montes
Recuo a 1952 e galgo para
1962, anos da minha entrada e saída do Seminário que me espevitaram para o
resto da minha vida.
Foram 58 anos de esforço
por mim, pelos meus e por aqueles com quem tive o gosto de partilhar os meus
queixumes, os meus fracassos e também bastantes alegrias. Vim do meu pátrio
Barroso, ingénuo, rústico e pouco propenso para o estudo. E o pároco que foi a
primeira pessoa de peso que conheci, de fora de aldeia, bem me disse que eu não
tinha cara de seminarista. Que era melhor ser pastor da vezeira. Mas meu pai
tinha mais nove filhos e gostava que eu fosse pró seminário.
Em 30 de junho de 1962,
entendi sair de vez. Nesse mesmo dia passara de ano. Mas um dos Prefeitos lera
uns versos que enviei a uma moça, na última viagem que fizera à “Missa Nova” de
um conterrâneo. Avisou do púlpito que esse versejador deveria ficar em casa,
depois das férias, porque os seminaristas não devem “namoriscar”. Recordei-me
do pároco que nunca me incentivou. E também desse censor que, dez anos depois,
abandonou o sacerdócio.
Fez, agora, 58 anos. E dou
comigo a ler, neste jornal, um apontamento sobre o Padre Borges – um sacerdote exemplar,
escrito pelo Arquiteto Eduardo Varandas. Comoveu-me este belíssimo testemunho
porque conheci “esta figura de porte atlético, de ar sereno e cativante”, como
padre, como professor e como cidadão. Subscrevo tudo o que este arquiteto
afirma, não só em relação ao “Dr. Borges” como nós o tratávamos, mas todos os
outros que conheci, em dez anos, incluindo quem me trocou as voltas em tão
atribulada missão. Reconheço que foi um privilégio para mim – e penso que para
milhares de meus condiscípulos – ter frequentado essa Instituição de Cultura e
de Formação cívica. Ainda esta semana se falou, positivamente, das escolas
públicas e privadas. Nesses tempos, ir para o seminário era subalternizar os
seus alunos em relação àqueles que iam para os liceus. O mesmo se diga em
relação às instituições do ensino superior. Fiz a licenciatura na católica em
cinco anos. Mestrado na Universidade do Minho em três. Aí completei os cinco
anos curriculares do doutoramento. Ainda não defendia tese, mas logo a
publiquei e já vai com a terceira edição. Nunca me senti inferiorizado quer na
pública quer na privada.
Leio na mesma fonte que a
Câmara de Vila Real deliberou construir mais um parque de estacionamento nos
terrenos do Seminário. É pena, mas é a lei da vida.
Sem comentários:
Enviar um comentário