quarta-feira, 8 de julho de 2020

A Paula sente-se abençoada


Mário Adão Magalhães
Jornalista

https://bomdia.lu/

A Paula é uma mulher linda, tipo aquelas que aos olhos dos nossos dias é comummente estereotipada como uma mulher fútil.
Memorizei a Paula num dia de greve às Provas Globais, bem no início da década de 90, inserida no meio dos colegas que dificultavam a passagem automóvel mas que eu concordei com o correspondente gesto do dedo.
A Paula é de uma família razoavelmente conhecida dos meus familiares menos novos que eu. Eu já conheço mal.
A Paula merece-me certos encómios que eu oculto exactamente com esta minha senha: Quando os encómios são superlativos, a palavra, o verbo cala.
A Paula tem uma irmã que se chama Eunice a quem se designa de especial e é menos nova que a Paula. A Eunice é vítima de um parto muito complicado que resultou em dificuldades físicas e mentais materializadas na fala, tratar de si e de mobilidade.


O anacíclico Eunice x Ecinue é o nome Eunice que em grego significa 
"boa vitória", "a que vence sempre", ou "a que alcança muitas vitórias".
Nesta confluência a Paula devia ser homónima da sua irmã. E talvez por isso "sente-se abençoada".
A prosa infra dispensa considerandos meus:
Paula e Eunice

"Não sei exatamente em que altura da minha vida eu percebi que teria de cuidar de ti. Mas lembro-me que pedia sempre um brinquedo para nós as duas ao Pai-Natal.
Lembro-me da cara feia que eu fazia às pessoas que olhavam para ti de uma forma estranha! Eu ficava brava quando riam de ti e no fim chorava de dor e tristeza por não conseguir defender-te.
Não me lembro se brincaste comigo às bonecas, mas lembro-me de saltar à corda contigo... jogar com a tua bolinha de raquete que ainda hoje não largas um minuto... como aprendeste a andar de bicicleta dando só meio pedal... como gostas de cães atirando-lhe todas as vezes com os chinelos... até eles sentem que tu és especial.
Lembro-me quando a nossa Mãe partiu... Nunca vou saber o que tu entendes sobre a Mulher mais importante das nossas vidas. Mas eu sei que tu sabes o que é saudade, porque quando o Pai demora a chegar tu abres a janela vezes sem fim e ficas à espera dele...
Sabes? Eu não sabia se tu sentias o nosso amor! Mas ao longo dos anos, tudo o que eu sei sobre amor, foi-me ensinado por ti.
Tu ensinaste-me a dar afeto e a valorizar as coisas pequenas. Se hoje eu gosto de estrelas e abraços, a culpa é tua! E coisas sobre força, fé, resignação e coragem foram-me ensinadas pela nossa Mãe. Ela é o meu exemplo e a minha super heroína.
O meu maior sonho era um dia ouvir-te falar. Dizes muito bem Paula, aliás, tu rompes-me o nome, como eu gostava de te ouvir dizer "Paula! Eu Amo-te".
Eu não sei se esse dia vai chegar, mas sei que nós conseguimo-nos entender uma à outra. Tu agarras no meu braço, olhas nos meus olhos e eu já entendo o recado.
Como se “entender-te” fosse algo destinado a nascer comigo.
Acredito que tu és a responsável pelas partes mais bonitas do meu jeito, do meu caráter e da minha alma.
O teu abraço sempre que te dou banho... Dou-te um iogurte e no fim coloco-te a dormir. Eu acho que esta é a tua forma de dizer "obrigada". Mas no final das contas sou eu quem tem que te agradecer por tudo o que sou.
Contigo eu aprendi a ter sentidos, o que faz de mim um ser sensível o bastante para reconhecer os sentimentos de outras pessoas.
Crescer contigo, foi aprender o significado de cada pequeno passo.
Eunice - "Nicinha" - nunca te ouvi dizer que me amas, mas eu sei que sim... Paula Pereira, 10 de abril de 2019" 

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