O tempo caminhado repercutiu no dia 10 deste
mês, um texto do Observador, caracterizando o conceito ideológico de 1971. Meio
século depois mudou muita coisa, sobretudo na liberdade. Mas não deixa de ser
caricato que aquilo que o marxismo se tenha apossado daquilo que mais detestava
(o Salazarismo), reclamando-o seu (como a Ponte 25 de Abril); e não se bata
pela mudança do dia da Raça, para o verdadeiro dia de Portugal que é o 24 de
Junho (de 1128).
Confronte o leitor os
dois textos e veja as diferenças,
A
Pátria de há 50 anos não era ditosa?
Há 50 anos o dia 10 de
Junho celebrava-se como o dia da raça. Um racismo perfeito que abrangia todas
as raças que eram portuguesas, sem conotações de exclusão discriminatória.
Em Portugal não havia
então complexos colonialistas e, pelo contrário, promovia-se a ideia que a
Nação se estendia do Minho a Timor.
Era uma ideia contra a
corrente de opinião veiculada pela esquerda marxista, ainda internacionalista e
uma direita liberal, de pendor americano-democrata que era compagnon de route
desse entendimento advindo com os "ventos da História".
Não obstante em Portugal
resistia-se a tal entendimento e não havia discussão livre acerca de tais
ideias.
Oficialmente Portugal
continuava uno e indivisível nessa identidade. Era assim que se ensinava nas
escolas e era assim que se noticiavam os acontecimentos, com críticas
implícitas a "derrotistas" e cépticos de tal doutrina. Os opositores
marxistas eram calados pela censura, com um pretexto válido: a guerra no
Ultramar já com uma década de duração.
Hoje em dia, em Portugal
é precisamente o contrário que sucede: quem se atreve a discordar do discurso
marxista oficial leva com uma carga de fassista para arruinar qualquer
credibilidade subsistente, sendo igualmente censurado nos media, com um fervor
não muito diferente do que acontecia há 50 anos. A mentalidade censória é
sempre a mesma: capar ideias alheias contrárias ao poder que está. A Liberdade
nunca passa por aí e era para usufruirem de tal privilégio que os actuais
censores criticavam o antigo regime. Mal se viram no poder alteraram o discurso
oficial, substituiram as palavras por outras e fizeram exactamente o mesmo que
aqueles que criticavam: censuram as vozes discordantes, porque têm medo da
verdade e de serem corridos pela incapacidade e incompetência de que já deram
provas mais que sobejas.
Para perceber o que era
exactamente o espírito do tempo que passou há 50 anos e que era o do regime e
também da população em geral, com exclusão da pequeníssima franja comunista e
socialista, de carácter subversivo e então anti-patriótico, basta ler estas
páginas da revista Observador de 11 de Junho de 1971 In Portadaloja,
dia 10 de Junho de 2020
O simbolismo do dia 10 de Junho
envergonha a História
A
democracia Portuguesa anda muito baralhada porque usa o fascismo para se
glorificar e aceita o dia da Raça para se proteger.
Somos
um país do faz de conta. O dia de Portugal é uma dessas datas que desmentem a
pureza da democracia. Tal e qual. Os dois exemplos que cito atrás são
paradigmáticos. Como a Ponte Salazar foi uma das obras marcantes do
Salazarismo, os revolucionários do 25 de Abril, valeram-se dela e a ela se
agarraram como a era se agarra aos muros, às paredes e às árvores. Ou seja: não
têm coluna vertebral para sobreviverem. Já vamos com quase tantos anos de
democracia como durou o Estado Novo. O Parlamento já teve tempo e quórum para
legalizar as maiores obscenidades humanas; mas ainda não teve um raio de
lucidez para escalonar, acertando, as fífias, as monstruosidades e os cataclismos
da historiografia Portuguesa. Enquanto Portugal cresceu e se transformou num
Império, aumentando a geografia territorial que, ao tempo do Tratado de
Tordesilhas, permitiu dividir com a vizinha Espanha «o mundo a conquistar», a
Raça Lusa construiu o Império Português, belamente exaltado por Camões que
morreu em 1580. Esse poema épico imortalizou-nos; e, desde essa data, o seu
nome e a sua obra, mesmo que não se conheça mais nada da história, todos os
«portugas», citam Camões, os Lusíadas, a Mensagem de Pessoa, a morte do Padre
Eterno e até a Catarina Eufémia.
Não
se pense que o dia 10 de Junho se comemora há séculos. A primeira vez que
aparece referência festiva a esta data foi em 1880 por Decreto de D. Luís I
quis celebrar «o Dia de Festa Nacional de Grande Gala» para invocar os 300 anos
«da hipotética data da morte de Luís de Camões, em10 de Junho de1580».Mas
apenas foi essa festividade celebrada nesse ano.
Com
a implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, foi publicado um decreto,
dois dias depois, para restringir os feriados religiosos.
Mas,
verdadeiramente, o 10 de Junho começou a exaltar o Estado Novo, em 1933, como
propaganda ao período de Salazar, que terminou no 25 de Abril. Em 1944 o mesmo
dia serviu para inaugurar o Estádio Nacional do Jamor. E a partir de 1963 o
pretexto desse mesmo dia foi a homenagem às Forças Armadas, numa clara
exaltação ao poder colonial. Só em 1978 passou a ser o Dia de Portugal, de
Camões e das Comunidades Portuguesas.
Por
esta síntese se conclui que foi o período Salazarista que provocou a revolução
dos cravos, diabolizando o Estado Novo. Os democratas quiseram guardar o
símbolo desse tempo mau, reivindicando as obras como a Ponte sobre o Tejo, o
Estádio do Jamor e o 10 de Junho. Talvez «o dia dos favores políticos, a militares
e amigalhaços».
Porque
o verdadeiro dia de Portugal só deve haver um: o dia em que Portugal nasceu: em
24 de Junho de 1128, data da Batalha de S. Mamede.
Barroso da Fonte
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