quarta-feira, 17 de junho de 2020

30 anos do Semanário de Felgueiras


Mário Adão Magalhães
(jornalista)


Aprendi a ler e a desenvolver o gosto pela leitura na Comunicação Social (CS) muito cedo. Ainda nem sequer tinha idade legal para entrar sozinho nos estabelecimentos de cafetaria que disponibilizavam um jornal diário.
Ao tempo a impressão a chumbo deixava as mãos negras e o cheiro que tinha, mesmo na época não era desagradável. Que saudades!
Uma referência a Felgueiras num jornal de expansão nacional era motivo para recortar, dar a conhecer e guardar.
Igualmente muito cedo comecei a ler os jornais de Felgueiras, quase um produto de elite e desconhecido pela maioria dos felgueirenses, e quase só circulavam em "consultórios" de advogados, serviços e estabelecimentos comerciais distintos.
Recordo, por isso, o aparecimento do Semanário de Felgueiras (SF), com muita nitidez e muito agradado. Não exagero ao dizer que foi uma pequena solenidade.
O aparecimento do SF foi - digo muitas vezes - uma pedrada no charco em Felgueiras. Produto inovador, revolucionou a CS e despertou interesse basto, passando a marcar a agenda política e social felgueirense, quase inexistente, além de notoriamente inspirado no jornal Público que também aparecera por aquele ano.
Foi uma época importantíssima na CS por todo o país. Era o boom das rádios locais que por si despertaram ou concentraram sinergias nos jornais com saída irregular dando origem a novos títulos, sobretudo na imprensa social regional - eu sempre designei de regional a chamada imprensa local - um pouco por todo o país sendo responsável por uma boa plêiade de jornalistas e comunicadores.
O SF buliu na política local e distinguiu-se da letargia dos demais. Houve um - a Gazeta de Felgueiras (GF), que havia aparecido menos de uma dezena de anos, com que o SF convivia bem, que sobrevivia razoavelmente graças ao rigor com que era gerida e que era mais literária e tinha um mercado quase inexistente em Felgueiras e circulava além-fronteiras. - Era bem mais conhecida que em Felgueiras.
- A GF marcou a minha passagem pelo mundo das letras e no jornalismo em geral. Não aceitei a sua propriedade exactamente pelo segmento que tinha, e a par de umas ausências de Felgueiras a que era obrigado, me fizeram temer não estar à altura do prestígio que tinha. (A Gazeta de Felgueiras tramitou sem custos por questões editoriais).
Nessa época já eu conhecia cerca de duas centenas de jornais, vindo mesmo a trabalhar num organismo que defendia os interesses dos jornalistas e da imprensa regional, sobretudo.
Para mim o suporte em papel é como os discos em vinil. Vou resistir ao máximo à imprensa em papel, com optimismo, vaticinando mais cem anos. Aliás, tenho muita saudade de escrever em jornais em suporte de papel.
O Semanário - como carinhosamente passou logo a ser designado - de acordo com as novas exigências reinventou-se e muito bem, para sobreviver ao digital. Ao longo da existência do SF e como é normal, sofreu aclives e declives, está hoje um produto bom. O mercado em papel está exigente como nunca e diferente de quando se consumia sem a concorrência do digital.
Eu presumo que se me pedira uma sugestão mais centrada nesta mutação com o digital, mas não posso esquecer - é fatal - que estou a escrever para o jornal em papel, cujas contingências de espaço foi sempre um "calcanhar daqueles".
Mário Adão Magalhães
(Não pratico deliberadamente o chamado Acordo Ortográfico).

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