Mário Adão Magalhães (jornalista) |
Aprendi a ler e a
desenvolver o gosto pela leitura na Comunicação Social (CS) muito cedo. Ainda
nem sequer tinha idade legal para entrar sozinho nos estabelecimentos de
cafetaria que disponibilizavam um jornal diário.
Ao tempo a impressão a
chumbo deixava as mãos negras e o cheiro que tinha, mesmo na época não era
desagradável. Que saudades!
Uma referência a
Felgueiras num jornal de expansão nacional era motivo para recortar, dar a
conhecer e guardar.
Igualmente muito cedo
comecei a ler os jornais de Felgueiras, quase um produto de elite e
desconhecido pela maioria dos felgueirenses, e quase só circulavam em
"consultórios" de advogados, serviços e estabelecimentos comerciais
distintos.
Recordo, por isso, o
aparecimento do Semanário de Felgueiras (SF), com muita nitidez e muito
agradado. Não exagero ao dizer que foi uma pequena solenidade.
O aparecimento do SF foi
- digo muitas vezes - uma pedrada no charco em Felgueiras. Produto inovador,
revolucionou a CS e despertou interesse basto, passando a marcar a agenda
política e social felgueirense, quase inexistente, além de notoriamente
inspirado no jornal Público que também aparecera por aquele ano.
Foi uma época
importantíssima na CS por todo o país. Era o boom das rádios locais que por si
despertaram ou concentraram sinergias nos jornais com saída irregular dando
origem a novos títulos, sobretudo na imprensa social regional - eu sempre
designei de regional a chamada imprensa local - um pouco por todo o país sendo
responsável por uma boa plêiade de jornalistas e comunicadores.
O SF buliu na política
local e distinguiu-se da letargia dos demais. Houve um - a Gazeta de Felgueiras
(GF), que havia aparecido menos de uma dezena de anos, com que o SF convivia
bem, que sobrevivia razoavelmente graças ao rigor com que era gerida e que era
mais literária e tinha um mercado quase inexistente em Felgueiras e circulava
além-fronteiras. - Era bem mais conhecida que em Felgueiras.
- A GF marcou a minha
passagem pelo mundo das letras e no jornalismo em geral. Não aceitei a sua
propriedade exactamente pelo segmento que tinha, e a par de umas ausências de
Felgueiras a que era obrigado, me fizeram temer não estar à altura do prestígio
que tinha. (A Gazeta de Felgueiras tramitou sem custos por questões
editoriais).
Nessa época já eu
conhecia cerca de duas centenas de jornais, vindo mesmo a trabalhar num
organismo que defendia os interesses dos jornalistas e da imprensa regional,
sobretudo.
Para mim o suporte em
papel é como os discos em vinil. Vou resistir ao máximo à imprensa em papel,
com optimismo, vaticinando mais cem anos. Aliás, tenho muita saudade de
escrever em jornais em suporte de papel.
O Semanário - como
carinhosamente passou logo a ser designado - de acordo com as novas exigências
reinventou-se e muito bem, para sobreviver ao digital. Ao longo da existência
do SF e como é normal, sofreu aclives e declives, está hoje um produto bom. O
mercado em papel está exigente como nunca e diferente de quando se consumia sem
a concorrência do digital.
Eu presumo que se me
pedira uma sugestão mais centrada nesta mutação com o digital, mas não posso
esquecer - é fatal - que estou a escrever para o jornal em papel, cujas
contingências de espaço foi sempre um "calcanhar daqueles".
Mário Adão Magalhães
(Não pratico
deliberadamente o chamado Acordo Ortográfico).
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