sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Recordações de memória



No passado, dia 3 de Novembro, houve festa rija em Vilarinho, para festejar os 40 anos da oficialização do Ranho Folclórico local, com a presença de outros similares seus. Não estive presente, mas o director do Rancho, Armindo Morais, encarregou-se de ler, por mim, um arrazoado que enviei e que engendrei assim:

“Ex mos. Convidados,
Estimados conterrâneos,
Minhas e senhoras e meus senhores.

Já se passaram quarenta anos que oficialmente nasceu este “bebé”, denominado por Rancho de Vilarinho. O qual deu origem à associação designada por Grupo Folclórico e Recreativo de Vilarinho (GFRV). Teve por padrinhos nomes sonantes da freguesia, que ao tempo viviam em Lisboa, onde se ali fizera o baptizado.
Vamos explicar como tudo se passou. Entre o Costa Pereira e o saudoso José Queiroz, que Deus tem, ouve sempre bom entendimento até que um dia o “Pereira” entendeu meter também o saudoso Padre Correia Guedes ao barulho, e vai de o convidar a participar num daqueles convívios anuais, que os naturais da freguesia anualmente promoviam. Nessa ocasião o Costa Pereira estava no auge da sua actividade jornalística e era preciso aproveitar-lhe a veia…. Estávamos na década de sessenta, e creio que já no IIIº ou IVº Encontro. O senhor padre Guedes, aceitou o convite, e com ele foi daqui quase meia freguesia.


Foi então que também o Rancho de Vilarinho apareceu, modesto, mas com pernas para andar. Logo lembrou ao Queiroz que devia pensar em legalizar o Rancho, até porque só assim é que poderia candidatar-se a possíveis benefícios sociais, que por vezes são dados às associações culturais. Facto é que atuou e agradou. Veio muita gente, a esse Encontro, que decorreu na Casa Pia (secção de Pina Manique-Belém); e teve missa celebrada pelo Sr. Padre Guedes na Igreja da Memória-Calçada do Galvão. Foi um êxito e marcou uma etapa daquelas em que os vilar-ferreirenses saíram do anonimato, por onde normalmente vagueavam.  Mais tarde repetiu-se outra deslocação, mas agora por ocasião duma Semana Cultural que a Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Lisboa, levou a efeito no Casino Estoril. O Costa Pereira fazendo parte do Conselho Regional da referida Associação, propôs que fosse o Ranho de Vilarinho a representar o concelho de Mondim de Basto. E assim aconteceu, com algumas peripécias pelo meio…, que dispensam comentários. É precisamente nessa altura, 1977, que o Costa Pereira fala muito a sério com o José Queiroz, e lhe propõe que vai arranjar modo de legalizar o Rancho, ele concordou. O Queiroz aceita e agora só resta iniciar os convites para que os futuros padrinhos pareçam e paguem as despesas do baptizado. Foi nessa ocasião que o nosso Rancho atuou na Feira Popular de Lisboa, e foi a um Programa do Júlio Isidro, na Praça de Espanha, que o Costa Pereira apresentou, em directo da RTP.  A este, ficou também o encargo, de alinhavar os estatutos, e após a formação da Associação, manter uma Folha Informativa que se manteve cerca duma década. Aqui com a preciosa ajuda do José Francisco Borges Lopes, sempre incansável no dar a sua colaboração. 
O Pereira vem a Vilar e faz uma conferência a que deu o título de “A Região de Basto e as Ferrarias entre Tâmega e Douro” e que foi um autêntico sucesso.  Decorreu no espaço onde inicialmente era para ficar o Salão. Bem ao contrário de um outro que mais tarde publicou e é pena que não tenha merecido a mesma aceitação, dado a ser única monografia que há sobre a freguesia. E tem por designação “Vilar de Ferreiros - no espaço, na história e na etnografia”. E muito a propósito pergunto: quem é que conserva hoje algum dos exemplares que mandava para Vilarinho sempre que a edição saía?
Meus amigos, eu apostei em servir a nossa terra, sem dela me servir, gastei-me a defender os seus direitos e encantos que tem. A um saudoso amigo que foi meu professor devemos a luta que fez regressar o Santuário da Senhora da Graça à paróquia de São Pedro de Vilar de Ferreiros: foi o Dr. Primo Casal Pelayo. A ele ficará eternamente em divida a laboriosa população da minha e nossa terra.
Dos que nesse dia 31 de Outubro de 1979 apadrinharam a oficialização do Rancho já Deus os tem perto dEle: o Adão Gonçalves de Carvalho e o Manuel António, da GFiscal. Por enquanto estou cá eu, e José F. B. Lopes e o Neca Bouça. Ainda há tempos passei rente à igreja da Madalena, em Lisboa, a caminho da igreja de Santo António à Sé, e vi que já lá não existia o Cartório, onde a escritura foi feita. São quarenta anos! Meia vida.
 Meus caros eu saí daqui, mas levei comigo o amor aos calhaus que conheci e aprendi a trepar por riba deles. Comigo levei também o amor à serrania e ao “Iteiro” da Senhora que sempre me protegeu. E hoje pela boca de um “jovem” já entradote, vos saúdo e recordo que vale a pena ser fiel e honrado. Muito obrigados pelo vosso reconhecimento. E atenção a freguesia não é só Vilarinho, chega de Campos à Cucaça e da Senhora da Graça ao Fojo, e ainda do Campo do Seixo ao Fragão de São Paulo. E por aqui me fico dando por terminado este meu arrazoado de Recordações e Memórias, que conservo religiosamente.

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