No passado, dia 3 de
Novembro, houve festa rija em Vilarinho, para festejar os 40 anos da
oficialização do Ranho Folclórico local, com a presença de outros similares
seus. Não estive presente, mas o director do Rancho, Armindo Morais,
encarregou-se de ler, por mim, um arrazoado que enviei e que engendrei assim:
“Ex mos. Convidados,
Estimados conterrâneos,
Minhas e senhoras e meus senhores.
Já se passaram quarenta anos que oficialmente nasceu este
“bebé”, denominado por Rancho de Vilarinho. O qual deu origem à associação
designada por Grupo Folclórico e Recreativo de Vilarinho (GFRV). Teve por
padrinhos nomes sonantes da freguesia, que ao tempo viviam em Lisboa, onde se
ali fizera o baptizado.
Vamos explicar como tudo se passou. Entre o Costa Pereira e o
saudoso José Queiroz, que Deus tem, ouve sempre bom entendimento até que um dia
o “Pereira” entendeu meter também o saudoso Padre Correia Guedes ao barulho, e
vai de o convidar a participar num daqueles convívios anuais, que os naturais
da freguesia anualmente promoviam. Nessa ocasião o Costa Pereira estava no auge
da sua actividade jornalística e era preciso aproveitar-lhe a veia…. Estávamos
na década de sessenta, e creio que já no IIIº ou IVº Encontro. O senhor padre
Guedes, aceitou o convite, e com ele foi daqui quase meia freguesia.
Foi então que também o Rancho de Vilarinho apareceu, modesto, mas com pernas para andar. Logo lembrou ao Queiroz que devia pensar em legalizar o Rancho, até porque só assim é que poderia candidatar-se a possíveis benefícios sociais, que por vezes são dados às associações culturais. Facto é que atuou e agradou. Veio muita gente, a esse Encontro, que decorreu na Casa Pia (secção de Pina Manique-Belém); e teve missa celebrada pelo Sr. Padre Guedes na Igreja da Memória-Calçada do Galvão. Foi um êxito e marcou uma etapa daquelas em que os vilar-ferreirenses saíram do anonimato, por onde normalmente vagueavam. Mais tarde repetiu-se outra deslocação, mas agora por ocasião duma Semana Cultural que a Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Lisboa, levou a efeito no Casino Estoril. O Costa Pereira fazendo parte do Conselho Regional da referida Associação, propôs que fosse o Ranho de Vilarinho a representar o concelho de Mondim de Basto. E assim aconteceu, com algumas peripécias pelo meio…, que dispensam comentários. É precisamente nessa altura, 1977, que o Costa Pereira fala muito a sério com o José Queiroz, e lhe propõe que vai arranjar modo de legalizar o Rancho, ele concordou. O Queiroz aceita e agora só resta iniciar os convites para que os futuros padrinhos pareçam e paguem as despesas do baptizado. Foi nessa ocasião que o nosso Rancho atuou na Feira Popular de Lisboa, e foi a um Programa do Júlio Isidro, na Praça de Espanha, que o Costa Pereira apresentou, em directo da RTP. A este, ficou também o encargo, de alinhavar os estatutos, e após a formação da Associação, manter uma Folha Informativa que se manteve cerca duma década. Aqui com a preciosa ajuda do José Francisco Borges Lopes, sempre incansável no dar a sua colaboração.
O Pereira vem a Vilar e faz uma conferência a que deu o título de
“A
Região de Basto e as Ferrarias entre Tâmega e Douro” e
que foi um autêntico sucesso. Decorreu
no espaço onde inicialmente era para ficar o Salão. Bem ao contrário de um
outro que mais tarde publicou e é pena que não tenha merecido a mesma aceitação,
dado a ser única monografia que há sobre a freguesia. E tem por designação “Vilar
de Ferreiros - no espaço, na história e na etnografia”. E muito a
propósito pergunto: quem é que conserva hoje algum dos exemplares que mandava
para Vilarinho sempre que a edição saía?
Meus amigos, eu apostei em servir a nossa terra, sem dela me
servir, gastei-me a defender os seus direitos e encantos que tem. A um saudoso
amigo que foi meu professor devemos a luta que fez regressar o Santuário da
Senhora da Graça à paróquia de São Pedro de Vilar de Ferreiros: foi o Dr. Primo Casal Pelayo. A ele ficará
eternamente em divida a laboriosa população da minha e nossa terra.
Dos que nesse dia 31 de Outubro de 1979 apadrinharam a
oficialização do Rancho já Deus os tem perto dEle: o Adão Gonçalves de Carvalho
e o Manuel António, da GFiscal. Por enquanto estou cá eu, e José F. B. Lopes e
o Neca Bouça. Ainda há tempos passei rente à igreja da Madalena, em Lisboa, a
caminho da igreja de Santo António à Sé, e vi que já lá não existia o Cartório,
onde a escritura foi feita. São quarenta anos! Meia vida.
Meus caros eu saí
daqui, mas levei comigo o amor aos calhaus que conheci e aprendi a trepar por
riba deles. Comigo levei também o amor à serrania e ao “Iteiro” da Senhora que
sempre me protegeu. E hoje pela boca de um “jovem” já entradote, vos saúdo e
recordo que vale a pena ser fiel e honrado. Muito obrigados pelo vosso
reconhecimento. E atenção a freguesia não é só Vilarinho, chega de Campos à
Cucaça e da Senhora da Graça ao Fojo, e ainda do Campo do Seixo ao Fragão de
São Paulo. E por aqui me fico dando por terminado este meu arrazoado de
Recordações e Memórias, que conservo religiosamente.
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