terça-feira, 12 de novembro de 2019

A paixão, a fé e o amor fazem a diferença


JORGE  LAGE
A vida não é fácil no mundo rural transmontano e do Portugal Interior. A Carmo, vamos chamar assim à nossa interlocutora, é uma mulher d’armas, sempre pronta a vencer os desafios que se lhe deparam na luta do dia-a-dia. Reparte a labuta diária entre a lida da casa, o atendimento no café e os afazeres do campo. Mostra uma satisfação e prazer em tudo o que faz, encarando as contrariedades da vida como desafios a vencer. Ouço-a sempre com muita atenção e a sua fé e crença no que faz tem por trás uma grande vontade de superar as contrariedades. Os soutos novos que plantou assumem-se como promissórias no advir rural e pouco animador. A castanha nacional, digamos as principais, pela ordem de importância para exportação, são as variedades Martaínha e Judia. A primeira do triângulo castanhícola (Penedono, Trancoso e Sernancelhe), santuário dos Soutos da Lapa. 
A Judia brilhosa tem o seu santuário nos imensos soutos da Padrela e Carrazedo de Montenegro, estando, também, aqui a ser aceite a variedade Martaínha reboluda que é a nossa castanha rainha e a que melhor se vende monetariamente. Estas que referi enchem o olho a quem compra castanhas, mas os apreciadores e as donas de casa preferem a Longal, como o nome diz, de forma alongada. Enquanto as duas anteriores são de grande tamanho ou calibre, a Longal é de tamanho médio, com boa conservação, óptimo descasque e de paladar mais adocicado, encontrando-se em quase todas as regiões em que há castanheiros/soutos. Na minha peregrinação de vários anos pelo país, com muitos milhares de quilómetros palmilhado, em busca dos saberes castanhícola, como os cavaleiros medievos em busca do Santo Graal, na Lapa dos Dinheiros, concelho de Seia, maciço da Serra da Estrela, todos os castanheiros eram da variedade Longal, o que é surpreendente. Outro facto curioso, tenho verificado nas Feiras da Castanha (Rural Castanha) de Vinhais, a Longal é sempre a primeira castanha a esgotar e não é preciso esperar pelo último dia. É claro que andam a impingir a compra de castanha híbrida, de hilo muito grande e tamanho invulgar. Mas quando se come uma apercebemo-nos que não é saborosa. Isto é, que não tem sabor, uma castanha sem qualidade. A castanha híbrida francesa entrou em Portugal no final do segundo milénio, pela mão do Engenheiro Trigueiros e para a sua propriedade na Quinta do Lago, Remelhe – Barcelos. Inicialmente, essa castanha que aparecia em Setembro era canalizada para decorar hotéis. Depois, os viveiros Ribadouro, encostados a um ou outro Professor da UTAD começaram a vender castanheiros importados de França e o negócio tornou-se luzidio para as carteiras implicadas. Hoje, essa castanha tenta vender-se misturada com variedades nacionais, iludindo os consumidores. Mas, a nossa produção para exportação para países exigentes a Martaínha é a que atinge maior preço e a Judia encanta o olho e as bolsas dos produtores do santuário da Padrela e Carrazeda Montenegro. Voltando à Carmo, com um sorriso brilhoso nos olhos dizia-me: - é um espectáculo para mim, ver o souto saudável com os castanheiros viçosos e carregados de ouriços. Quando vou aos soutos levo sempre lixívia comigo. Quando vejo um castanheiro com a doença do cancro, limpo tudo por largo na zona afectada. Curo-os a todos. Deitamos-lhe caldas para combater a doença da tinta. Quando algum seca desinfectamos e queimamos no local o castanheiro seco. Limitei-me a dizer-lhe que tudo o que fazemos com paixão, fé e amor é o melhor caminho para o sucesso. E se a Carmo não tivesse vaidade dos seus castanheiros a taxa de sucesso seria bem diferente. (Na foto Castanheiro Monumental da Zarranga, Alto dos Malhões, freguesia de Agrochão, Vinhais e de variedade Longal.)

Provérbios ou ditos de Novembro:
         No Dia de S. Martinho, com três faz um magustinho.
         O Sete-Estrelo, pelo S. Martinho, vai de bordo a bordinho; à meia-noite está a pino.
         Água e vento são meio sustento.
Jorge Lage – jorge.j.lage@gmail.com – 28OUT2019

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