JORGE LAGE |
A Judia brilhosa tem o seu santuário nos imensos soutos da Padrela e Carrazedo
de Montenegro, estando, também, aqui a ser aceite a variedade Martaínha
reboluda que é a nossa castanha rainha e a que melhor se vende monetariamente.
Estas que referi enchem o olho a quem compra castanhas, mas os apreciadores e
as donas de casa preferem a Longal, como o nome diz, de forma alongada.
Enquanto as duas anteriores são de grande tamanho ou calibre, a Longal é de
tamanho médio, com boa conservação, óptimo descasque e de paladar mais
adocicado, encontrando-se em quase todas as regiões em que há
castanheiros/soutos. Na minha peregrinação de vários anos pelo país, com muitos
milhares de quilómetros palmilhado, em busca dos saberes castanhícola, como os
cavaleiros medievos em busca do Santo Graal, na Lapa dos Dinheiros, concelho de
Seia, maciço da Serra da Estrela, todos os castanheiros eram da variedade
Longal, o que é surpreendente. Outro facto curioso, tenho verificado nas Feiras
da Castanha (Rural Castanha) de Vinhais, a Longal é sempre a primeira castanha
a esgotar e não é preciso esperar pelo último dia. É claro que andam a impingir
a compra de castanha híbrida, de hilo muito grande e tamanho invulgar. Mas
quando se come uma apercebemo-nos que não é saborosa. Isto é, que não tem sabor,
uma castanha sem qualidade. A castanha híbrida francesa entrou em Portugal no
final do segundo milénio, pela mão do Engenheiro Trigueiros e para a sua
propriedade na Quinta do Lago, Remelhe – Barcelos. Inicialmente, essa castanha
que aparecia em Setembro era canalizada para decorar hotéis. Depois, os
viveiros Ribadouro, encostados a um ou outro Professor da UTAD começaram a
vender castanheiros importados de França e o negócio tornou-se luzidio para as
carteiras implicadas. Hoje, essa castanha tenta vender-se misturada com
variedades nacionais, iludindo os consumidores. Mas, a nossa produção para
exportação para países exigentes a Martaínha é a que atinge maior preço e a
Judia encanta o olho e as bolsas dos produtores do santuário da Padrela e
Carrazeda Montenegro. Voltando à Carmo, com um sorriso brilhoso nos olhos
dizia-me: - é um espectáculo para mim, ver o souto saudável com os castanheiros
viçosos e carregados de ouriços. Quando vou aos soutos levo sempre lixívia
comigo. Quando vejo um castanheiro com a doença do cancro, limpo tudo por largo
na zona afectada. Curo-os a todos. Deitamos-lhe caldas para combater a doença
da tinta. Quando algum seca desinfectamos e queimamos no local o castanheiro
seco. Limitei-me a dizer-lhe que tudo o que fazemos com paixão, fé e amor é o
melhor caminho para o sucesso. E se a Carmo não tivesse vaidade dos seus
castanheiros a taxa de sucesso seria bem diferente. (Na foto Castanheiro
Monumental da Zarranga, Alto dos Malhões, freguesia de Agrochão, Vinhais e de
variedade Longal.)
Provérbios ou ditos de Novembro:
No Dia de S.
Martinho, com três faz um magustinho.
O Sete-Estrelo,
pelo S. Martinho, vai de bordo a bordinho; à meia-noite está a pino.
Água e vento são
meio sustento.
Jorge Lage – jorge.j.lage@gmail.com
– 28OUT2019
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