sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Livre mas sujeito


Mário Adão Magalhães

Estou a interpretar por aí abaixo todo um Portugal a troçar da forma mais vil, a lamentar a estafa que é a gaguez de Joacine Katar Moreira, a deputada eleita pelo partido LIVRE.
A desdenhar a "fita" e o incómodo, e tempo que se gastará para as suas intervenções no Parlamento ou declarações públicas.
Digo a "fita" porque já há quem fale que é encenação para obter a mediatização que o LIVRE não tem, sobretudo porque elegeu o número menor de deputados.
Por mor destas encenações apraz-me registar um senso comum: são os gagos, generalizadamente, quem melhor canta. Por seu turno a deputada diz que gagueja quando fala mas não quando pensa.
Antes tenho que dizer que a senhora deputada tem todo o direito, toda a legitimidade à sua intrevenção pública e cívica, a toda uma actividade que qualquer outro português.
Quase garanto que parte daquela "encenação" é mais pronunciada pelo facto da senhora Joacine Katar Moreira estar rodeada de quem a escrutine. E aí fica pior.
Isto é facto com qualquer pessoa sem visibilidade, nomeadamente sempre que intervém em público. Mas com visibilidade publica é pior, apenas porque sabe que todos os tipos de focos se centram em si. Logo, aqui, não poderia deixar de ser de forma pior e mais prejudicial à perturbação da fluência que Joacine Katar Moreira tem.
Se calhar eu até poderia dizer que quem mais propencia esta perturbação somos cada um de nós. E cada um de nós,q ue não temos garantido que não nos nasça um filho sem aquela perturbação, um familiar nosso, que nos tornemos a cada momento afectados por uma perturbação ou patologia de outro jaez nas nossas vidas.

Nascida na Guiné-Bissau, veio para Portugal aos oito anos pela mão da avó e para um colégio interno. Enquanto se formou, ao nível superior, trabalhou em supermercados e em hotéis para poder pagar a licenciatura em História Moderna e Contemporânea. No currículo conta com um doutoramento em Estudos Africanos.  
E porque é que eu falo disto?
Porque maioritáriamente há que valorize apenas um currículo numa pessoa. Por vezes mesmo que ela o não mereça por aí além.
Mas fundamentalmente porque na nossa sociedade a maioria das pessoas procura uma fraqueza ou defeito, para se tornar sobranceira porque não têm mais nada a que se compararem, o que mostrar.

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