segunda-feira, 28 de outubro de 2019

DIA UM de Portugal - 24 de Junho de 1128


BARROSO da FONTE

Image result for josé Manuel gouchaEx.mo Senhor Manuel Luís Goucha
Distinto Apresentador do Programa VOCÊ NA TV

No passado dia 10 de Junho, o programa que Vª Exª regularmente apresenta exibiu uma peça (ver hiperligação seguinte) em que se fizeram várias perguntas a 9 pessoas nas ruas de Guimarães sobre factos históricos relacionados com o nosso país, a primeira das quais foi:
- Quantos anos tem Portugal?

Na falta de respostas inequívocas por parte dos interpelados, Vª Exª concluiu que Portugal deveria ter 840 ou 876 anos, conforme se considerasse ter nascido em 1179 ou 1143. E esclareceu que o ano de 1179 se refere à confirmação pelo Papa Alexandre III, para a qual se inclinou, enquanto o ano de 1143 respeita à assinatura do Tratado de Zamora celebrado entre D. Afonso Henriques e seu primo Afonso VII.
A Grã Ordem Afonsina, subscritora desta carta, é uma associação sem fins lucrativos sediada em Guimarães, que tem como objetivos:
1 - O estudo , investigação e divulgação dos mais variados aspetos da Vida e Obra do Primeiro Rei de Portugal e, em especial, daqueles que constituem um património imaterial da cidade de Guimarães;
2 - A promoção da figura do Primeiro Rei de Portugal como símbolo identitário de Guimarães que lhe serviu de berço, como fundador da nação portuguesa e como pedra angular da construção da grande pátria lusófona.
Nesta qualidade, permitimo-nos discordar da posição que Vª Exª tomou relativamente a esta questão, porque para nós vimaranenses, Portugal completou em 24 de Junho do corrente ano a bonita idade de 891 anos e está prestes a atingir os 9 séculos de vida.
Com efeito, a cidade de Guimarães é considerada o Berço da Pátria e ostenta com muito orgulho na torre da alfândega a frase de exaltação patriótica que todos conhecem:


Porque razão se diz que Portugal nasceu em Guimarães? Será esta frase lapidar uma quimera?
Não se conhece outra razão capaz de justificar este título que não seja o facto histórico de Guimarães ter sido o palco da Batalha de S. Mamede no dia 24 de Junho de 1128, na sequência da qual D. Afonso Henriques assumiu o governo do Condado Portucalense, por ter derrotado os partidários de sua mãe D. Teresa.
Este episódio histórico foi cantado por Camões no canto III dos Lusíadas, com estes versos decassilábicos:
"De Guimarães o campo se tingia
co sangue próprio da intestina guerra
onde a mãe que tão pouco o parecia
a seu filho negava o amor e a terra".
Alguns historiadores consideram exagerado dizer-se que Portugal nasceu em 24 de Junho de 1128, por nesse dia, segundo eles, apenas se ter dado a substituição do governante do Condado.
A verdade, porém, é que este foi um dia determinante no processo da fundação de Portugal ou, como diz o grande historiador José Mattoso, o dia em que se viveu a PRIMEIRA TARDE PORTUGUESA, simbolizada no quadro de Acácio Lino.


De facto, a partir do dia 24 de Junho de 1128, em que derrotou os partidários de sua mãe, D. Afonso Henriques entrou no governo do território do Condado Portucalense, com o propósito firme e inequívoco de romper os vínculos de vassalagem que o território mantinha face ao reino de Leão, onde reinava o seu primo Afonso VII.
Este foi o caminho por si preconizado quando em 1125, com apenas 14 anos de idade, se armou a si próprio cavaleiro, conforme o uso e costumes dos reis, afirmando com este ato a sua legítima pretensão de tomar o governo do Condado Portucalense e de o transformar em reino.
De resto, esta pretensão já existia na mente de seu pai, D. Henrique, enquanto governante do Condado Portucalense. E sua mãe, Dona Teresa, que lhe sucedeu por morte, já em 1121 se auto-intitulou Rainha. E se não fossem os conflitos que ela provocou com o clero e os fidalgos portucalenses ao afastá-los da gestão dos negócios públicos por troca com forasteiros galegos, certamente não se teria registado a insurreição do filho. E se não houvesse a batalha de S. Mamede, este território a que hoje chamamos Portugal poderia não existir com esta geografia, com este honroso nome e com a gloriosa história que Luís Vaz de Camões tão sublimemente cantou.
Reconhecemos que o processo de independência de Portugal se iniciou quando D. Afonso Henriques assumiu o governo do Condado Portucalense em consequência da vitória sobre os partidários da mãe na Batalha de S. Mamede, em 24 de junho de 1128 e que terminou com a confirmação e reconhecimento por parte do Papa Alexandre III em 1179, através da bula Manifestis Probatum.
Além destes dois episódios, durante este período de 51 anos aconteceram outros em que D. Afonso Henriques foi protagonista e que contribuiram para a consolidação da sua política de independência, como por exemplo o Tratado de Tui (4 de Junho de 1137), a batalha de Ourique (25 de Julho de 1139), o Torneio de Valdevez (primavera de 1141), o Tratado de Zamora (5 de Outubro de 1143) e a Bula Devotionem Tuam do Papa Lucio II (1 de Maio de 1144).
Como se sabe, a fundação de Portugal aconteceu na idade média, num período em que vigorava o regime feudal. E em consequência, para qualquer vassalo conseguir a independência de um território teria de romper os vínculos de vassalagem ao respetivo suserano. Como o Condado Portucalense era um feudo do reino de Leão, a independência de Portugal exigia que se afrontasse o suserano, que neste caso era Afonso VII de Leão, primo de D. Afonso Henriques.
Ora, a destituição de sua mãe como governante do Condado Portucalense sem o assentimento do suserano, foi a primeira afronta - e a mais gravosa- que D. Afonso Henriques fez a seu primo Afonso VII. Hoje em dia esta atitude seria classificada como um golpe de estado.
É certo que D. Afonso Henriques não se auto-proclamou Rei após a Batalha de S. Mamede. Mas também é certo que não se deixou tratar por Conde, para não assumir um estatuto de submissão ao Rei de Leão. Deixou-se tratar por infante e por príncipe, para assim se colocar na rota de ascensão à realeza.
Nenhum dos restantes factos históricos, acima referidos, ocorridos durante o reinado de D. Afonso Henriques foi mais importante que a Batalha de S. Mamede para a consolidação da independência de Portugal. Este foi, de facto, o primeiro ato do processo de rutura com a suserania de Leão sobre o território portucalense. O combate em Ourique foi muito importante para o alatgamento do território, mas teve como adversários 5 reís mouros que não exerciam suserania sobre o território do então Condado Portucalense. Em Arcos de Valdevez o confronto com Afonso VII não passou de uma represália que este levou a cabo em consequência dossucessivos ataques que D. Afonso Henriques lhe fazia na Galiza. As duas bulas papais inscrevem-se no processo diplomático que D. Afonso Henriques implementou no sentido de conseguir a vassalagem ao Papa, em substituição da vassalagem a Leão que sempre recusou.
Em conclusão, vimos solicitar de Vª Exª a oportunidade de fazer valer perante o auditório do programa VOCÊ NA TV todo o arrazoado que aqui expressámos em prol da defesa do dia 24 de Junho de 1128 como o DIA UM de Portugal. Toleramos quem pense de outra maneira, mas sentimos a obrigação de expressar aquele que é o sentir e pensar dos vimaranenses.

Guimarães, 25 de OUTUBRO de 2019
João Barroso da Fonte


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