Por
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Manuel
de Almeida / Lusa
Na atual legislatura liderada por António Costa já são mais de 20
os governantes com relações de parentesco no mundo da política. Essas ligações
não se ficam pelos ministros, passando igualmente pelos secretários de Estado,
deputados, ex-governantes e assessores.
Uma das situações que mais contribuiu
para aquecer a polémica à volta deste tema ocorreu quando foram anunciados os
novos nomes que compõem o Governo. Os escolhidos para substituir os escolhidos
pelo Partido Socialista (PS) nas eleições europeias de maio,
colocam a questão das relações familiares dentro no executivo na ordem do dia.
Um dos exemplos é o caso do atual
ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, José António
Vieira da Silva, casado com Sónia Fertuzinhos, a deputada socialista
envolvida no caso da Raríssimas.
Com esta última remodelação, a filha do
ministro, Mariana Vieira da Silva, que, até 18 de fevereiro de 2019
ocupava o cargo de secretária de Estado Adjunta do primeiro-ministro, assumiu a
pasta de ministra da Presidência e Modernização Administrativa, substituindo
Maria Manuel Leitão Marques, candidata socialista ao Parlamento Europeu.
Por sua vez, Maria Manuel Leitão Marques
é casada com Vital Moreira, um antigo deputado socialista.
Outro dos exemplos é o do Pedro
Nuno Santos, ex-líder da Juventude Socialista (JS), que, depois de ter sido
deputado e secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, assumiu o
Ministério das Infraestruturas e da Habitação. Pedro Marques, até então
ministro do Planeamento e Infraestruturas, é o cabeça de lista do PS às
europeias.
Pedro Nuno Santos é casado com Ana Catarina
Gamboa, também ex-dirigente da JS e, mais recentemente, assessora do ex-vice
presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Duarte Cordeiro, agora
secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro e dos Assuntos Parlamentares.
Este último é casado com Susana
Ramos, diretora do departamento social da autarquia, até março de 2017 e
atual coordenadora da Unidade Nacional de Gestão do Mecanismo Financeiro do
Espaço Económico Europeu (UNG-MFEEE).
Outro dos casos é o da secretária de
Estado da Saúde, Rosa Matos Zorrinho, casada com Carlos Zorrinho,
atual deputado e ex-governante do PS.
Já o secretário de Estado das
Infraestruturas, Guilherme Waldemar de Oliveira Martins, é filho de
Guilherme d’Oliveira Martins, ex-governante do PS e ex-presidente do Tribunal
de Contas e atual administrador da Fundação Calouste Gulbenkian.
Por sua vez, o ministro da Administração
Interna, Eduardo Cabrita, é casado com a ministra do Mar, Ana
Paula Vitorino. É ainda amigo próximo de António Costa, tal como o
ministro-adjunto, Pedro Siza Vieira.
Amigo próximo do primeiro-ministro é
também Diogo Lacerda Machado, que foi ser consultor até 30 de junho
de 2017, alterou em que integrou a administração da TAP. Dois dos filhos do
administrador trabalham no Estado: Francisco Lacerda Machado, como técnico
especialista do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e João Maria Lacerda
Machado, como assessor da idD – Plataforma das Indústrias de Defesa
Nacionais, uma empresa estatal.
A adjunta do gabinete do
primeiro-ministro, Patrícia Melo e Castro, é cunhada de Ana Catarina
Mendes, secretária-geral adjunta do PS, que, por sua vez, é irmã de António
Mendonça Mendes, secretário de Estado dos Assuntos Fiscais.
Jorge Seguro Sanches, secretário de Estado da Energia, é primo de António
José Seguro, ex-governante e ex-líder socialista.
O ministro do Ambiente e da Transição
Energética, João Pedro Matos Fernandeschegou a trabalhar com a
mulher, Isabel Marrana, que foi chefe do gabinete da Secretária de Estado do
Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza, até ter pedido a
demissão, há menos de seis meses.
A ministra da Justiça, Francisca
Van Dunem, é esposa de Eduardo Paz Ferreira, presidente da Comissão de
Renegociação da Concessão do Terminal de Sines, nomeado em outubro de 2018 por
Ana Paula Vitorino.
Questionado sobre este tema, numa
reportagem da RTP, transmitida a 22 de fevereiro, o eurodeputado social-democrata Paulo
Rangel afirmou que não conhecia “nenhum país democrático onde num
governo este tipo de relações familiares existe”, considerando que esta é uma
situação “sinceramente grave”.
Igualmente questionado sobre a polémica,
o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, indicou “a situação é
exatamente a mesma” desde que tomou posse, “sempre atendendo que a escolha que
foi feita baseada no reconhecimento da qualidade das pessoas”.
À RTP, o presidente da
Associação Transparência e Integridade, João Paulo Batalha, referiu que existe
“uma lógica de circuito fechado, de confiança pessoal que, às
vezes, quase se confunde com promiscuidade, em que só os da família, em sentido
literal, é que cumprem os requisitos” necessários para ingressar no governo.
Na mesma entrevista, o investigador do
Instituo de Ciências Sociais, Luís de Sousa, disse que, apesar de Portugal ser
um país pequeno, “em que toda a gente se conhece”, “isso não serve de
justificação”.
Segundo a reportagem da RTP,
exemplo semelhante ao português só é encontrado nos Estados Unidos, onde o
presidente Donald Trump contornou uma lei de 1967 – que impede
que a contratação de familiares para cargos públicos – e nomeou a filha e o
genro para conselheira e assessor.
Em 2017, a França aprovou uma lei
anti-nepotismo para prevenir governos familiares.
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