O
Presidente, o governo e comentadores selectos estão muito preocupados com
o crowdfunding e com a greve heterodoxa dos enfermeiros. Não me
interessam os argumentos de oportunidade; são a cozinha do costume. Mas, por
trás deles, está o horror a que os sindicatos se tornem independentes dos
partidos. A CGTP e a UGT são parceiros conhecidos, com quem se pode negociar;
negociar directamente com grevistas é muito diferente.
Este
conservadorismo apoia-se numa lenda histórica. As centrais sindicais nasceram,
de 1920 a 1930, com a divisão do movimento socialista entre a II e a III
Internacional, no fundo, entre social-democratas e comunistas. Antes, as
divisões eram outras e a tendência para a unidade muito mais forte. De resto,
o crowdfundingtambém era frequente. Na maior greve portuguesa da
era moderna, a greve dos têxteis do Porto, em 1903, abriram-se subscrições por
todo o país e até foi elegante contribuir. Mesmo João Franco, se bem me lembro,
deu a sua esmola.
13
de Fevereiro
Vinte
e seis militantes do Bloco saíram com estrondo do partido por dissidência
política com a direcção. Acusam Catarina Martins e os seus pares de se terem
“institucionalizado”, ou seja, aburguesado. É o conflito clássico
dos partidos radicais desde o fundo dos tempos. Por um lado, querem igualdade.
E, por outro, promoção social.
O
mentor do Bloco, Francisco Louçã, é um bom exemplo disso: de revolucionário
ardente e delegado aos congressos da Internacional trotskista chegou ao
Conselho de Estado, ao conselho consultivo do Banco de Portugal, a professor
catedrático do ISEG e a colunista do Expresso e comentador
residente da SIC, os órgãos por excelência da ortodoxia do regime.
Não percebo como os 26 “puros” militantes de hoje só agora deram pelo que se
estava a passar.
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