Negócios com Lusa
23 de fevereiro de 2019 às 09:10
Passos Coelho: “Os
ministros que levaram o país à pré-bancarrota são hoje os mesmos que repetem o
discurso de então”.
O antigo primeiro-ministro e líder social-democrata acusa o PS, Bloco de Esquerda e PCP de só se importarem com os cortes na despesa em setores como a saúde e educação quando o PSD era Governo.
Intervindo, na noite desta sexta-feira, 22 de fevereiro, na Academia Política Calvão da Silva, que decorre até domingo em Coimbra, Pedro Passos Coelho avisou que devido a uma pior conjuntura externa - por exemplo, quando grandes economias para onde Portugal exporta entrarem em recessão - e com as receitas do Estado português a cair, o Governo terá de cortar na despesa, mas ironizou que isso "nem pensar, o Tribunal Constitucional não deixa".
"Só se for na
saúde, na educação, no investimento e noutras coisas, porque nessas o Partido
Comunista português, o Bloco de Esquerda e o PS não se importam de cortar. Só
se importavam que nós [PSD] cortássemos, quando são eles a cortar não tem
problema nenhum", alegou Passos Coelho, arrancando aplausos à assistência.
"Nessas eles
cortam mais do que nós cortámos, portanto, a coisa vai funcionando",
acrescentou, questionando se a solução para a eventual queda das receitas
passará por um aumento dos impostos "indiretos, os mais difusos" e se
esses "chegarão".
Passos Coelho disse
ainda que a questão "não é de partidos ou de clubes partidários, é um
problema nacional" e endereçou responsabilidades ao PS, argumentando que
"sempre que estes problemas graves aconteceram, era o PS que tinha a
responsabilidade de tratar destas coisas" porque estava no Governo.
"E mesmo na
véspera das coisas correrem mal havia sempre ministros socialistas importantes
a explicar que tinha sido o melhor ano do mundo, o maior crescimento da Europa,
que estávamos numa trajetória fantástica e os outros eram Velhos do Restelo. Os
mesmos ministros que levaram o país à pré-bancarrota, são os mesmos que hoje
repetem o mesmo discurso de então, em 2009 e 2010. Os mesmos, é uma coisa
notável", acusou o anterior presidente do PSD, que deixou o cargo há cerca
de um ano.
"Pelo menos
poder-se-á dizer que o PS não aprendeu muito com isso", declarou.
Na sua intervenção, ao
longo de cerca de duas horas, onde respondeu também a algumas perguntas da
assistência, constituída maioritariamente por jovens militantes e simpatizantes
do PSD, Passos Coelho insistiu na responsabilização de cada estado-membro da UE
no futuro da Europa e avisou que esse exercício também se tem de fazer em
Portugal.
"Não vale a pena
andar sempre a arranjar pretextos e desculpas para contornar as regras, há
muita esperteza saloia metida nisto, em todos os países, não é só portuguesa. É
uma esperteza saloia que nos cai em cima da cabeça", alegou Passos Coelho,
reiterando que "toda a gente sabe" que as regras do Pacto de
Estabilidade e Crescimento e do Tratado Orçamental têm de ser cumpridas.
"Mete dó, a cada
semestre europeu, o exercício de tentar simular que o desvio [orçamental] face
àquilo que é o desvio admissível, não será um desvio demasiado elevado, aquilo
que se chama, na linguagem europeia, significativo", enfatizou Passos
Coelho.
Sobre esse tema,
aludiu a países que "fazendo as contas de outra maneira", prometem
cumprir as regras orçamentais europeias e frisou que o ministro das Finanças
Mário Centeno "também começou assim".
"Depois em
Bruxelas disseram-lhe 'não, não há outra maneira, as contas são assim, faça
lá'. Diga-se de passagem, o Conselho de Finanças Públicas cá e a UTAO [Unidade
Técnica de Apoio Orçamental] cá também sabiam fazer as contas, leram pelos
mesmos livros e disseram [ao ministro das Finanças] ?não é assim que se faz as
contas'. E o dr. Centeno sabia muito bem como se faziam as contas mas não lhe
dava jeito e, portanto, fez outras", acusou Passos Coelho.
"E depois
mudou-as. E agora está a ensinar a fazer contas", afirmou, numa alusão à
eleição de Centeno como presidente do Eurogrupo.
A academia política
promovida pela JSD e batizada com o nome de Calvão da Silva - ex-ministro,
antigo líder distrital de Coimbra e presidente do Conselho de Jurisdição
Nacional na liderança de Passos Coelho, que faleceu há cerca de um ano, vítima
de doença prolongada - começou sexta-feira e termina domingo, dia em que entre
os oradores convidados estão previstas as presenças de Manuela Ferreira Leite e
Rui Rio.
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