Era pouco mais do que um miúdo quando
deixou o sossego de Vinhais, vila no nordeste transmontano a cerca de 20
quilómetros da raia galega, para tentar a sua sorte na cidade grande. Portugal
estava, sem saber, a uma meia dúzia de anos da democracia, era Marcello Caetano
presidente do Conselho, liderava um país atrasado e, naquela região,
marcadamente rural. Em Bragança estavam, claro, as oportunidades para o rapaz
que crescera a saltar de aldeia em aldeia pelo distrito, em brincadeiras de
miúdos — e que tinha agora pressa em dar saltos bem mais altos.
Era o mais velho dos três descendentes
dos Martins Vara, família humilde que vivia em Vinhais. A mãe era doméstica, o
pai carpinteiro e Armando António tinha um bom par de braços e cabeça ajuizada
— “era certinho”, como o descreve um amigo — para começar a contribuir para os
gastos e fazer o seu caminho. Saía todos os dias da vila para trabalhar em
Bragança, conta a amiga de infância Mariana Araújo. Aos 14, 15 anos lá ia ele a
atravessar o empedrado da Praça da Sé para se pôr atrás do balcão da Casa das
Malhas. Foi entre malhas e têxteis que começou a ganhar uns tostões e, por
arrasto, a travar conhecimento com as pessoas da terra.
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