Caro Cultor Magno
Seguramente que este novo ministro dos
estrangeiros do Governo do Brasil é uma pessoa de grande cultura em Letras,
pois até sabe Latim e Grego. Mas, o Brasil é um Continente, não inferior em
área ao Continente Australiano, com povos e culturas muito variadas, onde a
maior miséria vive mesmo ao lado da maior riqueza (tenho fotos recentes da
grande cidade de Manaus onde ao lado de edifícios altos e de alto LUXO, se vêm
canoas com gente miserável que, para ir para o seu casebre, têm de ir de canoa,
pois não têm acesso por terra firme. Os casebres amontoam-se apoiados em
“palafitas”. Ora o Brasil é um Pais Rico, a todos os títulos:
-- Rico em universidades federais e em
pontifícias universidades católicas que formam Médicos, Engenheiros de grande
categoria em todos os domínios, além de Arquitectos famosos em todo o Mundo e
de Pessoas de Letras de igual teor.
-- Rico em Escritores de todos os
domínios: poetas, prosadores, Humoristas, Escultores (O Aleijadinho tem
Esculturas miraculosas), etc., etc.
-- Rico em Obras Públicas e Privadas
Grandiosas (Barragens, Portos e Aeroportos, Pontes, Auto-estradas, Edifícios
Majestosos, Metropolitanos, etc., etc..
-- Rico em todos os tipos de minerais , de minérios e de pedras preciosas
(até as
paredes interiores do aeroporto da cidade de Natal estão revestidas de
pedras semipreciosas).
-- Rico em Petróleo (“Ouro Negro”).
-- Rico em todos os tipos de árvores e
plantas (Café, Cacau, Chá, frutos tropicais e outros: até bom melão e boas
uvas); madeiras preciosas; ervas de cheiro magníficas, etc., etc..
-- Rico em prados e fazendas onde se
produz (e pode produzir muito mais) gado de engorda do melhor que há no Mundo,
etc., para consumo interno e exportação.
-- Rico em Empresas Privadas com
Gestores válidos, com representação fora do Brasil, nomeadamente em Portugal e
nos países africanos de Língua Portuguesa.
-- Rico em BONS Profissionais de Futebol
e de muitos outros desportos.
…
Mas, o Brasil tem “VÍCIOS” que travam a sua
grandiosidade.
- O Brasil tem, frequentemente, maus, e
mesmo muito maus Políticos, que de todos os modos desbaratam os bens que os
Brasileiros, TRABALHADORES e HONESTOS, produzem. (O Brasil teve, de
quando em vez, Políticos de grande visão e envergadura, mas o ENORME fosso
entre a LUXÚRIA e a grande MISÉRIA derrubaram – e derrubam- os políticos de
COMPETÊNCIA,VALOR e HONESTIDADE).
- O Brasil não tem “Segregação Racial”,
mas tem GRANDE “Segregação Económica” Interna e Externa (Por exº, no Rio é
Assustador o CONTRASTE entre a LUXÚRIA na zona Sul e a MISÉRIA nas favelas.
Disso se aproveitam os TRAFICANTES de droga, bem armados do Exterior).
Financeiramente, os Banqueiros dos EUA, e outros, são DONOS do Brasil, de
múltiplas formas.
- O Brasil tem uma Administração
ALTAMENTE CORRUPTA. E a Corrupção vai dos mais baixos funcionários até aos mais
altos dos Ministérios. Daí resulta que, no Brasil, a Administração Pública, em
geral, funciona Muito Mal, quando funciona. Muitos funcionários públicos, além
de corruptos são mandriões: faltam frequentemente ao Serviço, com desculpas de
“mau pagador”. Diz-se, frequentemente, que tudo isso foi “importado” de
Portugal e lá “ampliado”. Julgo que têm alguma razão nesse seu juízo, a
respeito dos “portugas” que ficaram em Portugal; não daqueles que demandaram o
Brasil, os países africanos de Língua Portuguesa, Goa, Timor-Leste e outros
países europeus, Canadá, EUA, e até Austrália. Alguém costuma aqui dizer que os
Portugueses, Bons em tudo, emigram, ficando cá “o Resíduo”…
- Os “Trabalhistas” do Brasil, que nada
têm a ver com os Trabalhistas do Reino Unido, não são (nem nunca foram) mais
que “correias de transmissão” de comunistas doutros países limítrofes (Che
Guevara, Fidel de Castro de Cuba, Nicolas Maduro da Venezuela, Evo Morales da
Bolívia, etc.. O pior desses dirigentes foram (e são) as suas UTOPIAS,
“requentadas” das que foram reinantes na União Soviética, mas com
reminiscências hodiernas em Portugal. Daí o facto de, Lula da Silva e a sua
“fiel”(?) apoiante Dilma Rousself, bem conhecida como “Chefa” no Brasil do Grupo de
Guerrilha Che Guevara, terem feito Legislação que permitiu os “Sem Terra”
assaltarem fazendas de “Capitalistas”, recheadas de gados de todas as espécies,
e víveres variados, tudo obra de importantes Empresários. E então aconteceu que
os assaltantes foram abatendo e comendo um a um os elementos de gado e os
viveres existentes, nada produzindo em substituição, até cada fazenda ficar
reduzida a Capim. Depois, foram assaltar outra fazenda e fizeram o mesmo (tenho
testemunha familiar de tudo isso). Esse tipo de Governo foi IGUAL ao Governo
Comunista de Samora Machel (e ao INICIAL do MPLA em Angola). Também posso
testemunhar que herdades das vizinhanças da cidade de L Marques, logo designada
de Maputo, recheadas de gados de todas as espécies, e víveres variados, tudo
obra de Proprietários que conheci, foram entregues aos “Serviçais” dessas
herdades. E os resultados foram exactamente os mesmos que os dos Sem Terra no
Brasil. É que os “Idealistas” Comunistas, ontem, como hoje, onde vigoraram (e
vigoram) estabelecem uma “Meta”, sem traçarem qualquer caminho Real para a
atingirem. Por exº., aqui ao nosso lado, estabelecem que o salário mínimo tem
de ser XXX, sem verificarem se isso leva à falência de muitas empresas, por
deixarem de poder competir com rivais nacionais e/ou estrangeiras. Estabelecem
que Portugal deve abandonar a moeda Euro e voltar ao Escudo, para ser um país
“Independente” do Banco Central Europeu, podendo emitir moeda nacional que
favoreça as exportações de produtos portugueses, sem verem as consequências,
altamente desastrosas para toda a economia do Pais. Os comunistas procuram pôr
em prática, de forma cega, todos os seus Idealismos, sem quererem saber das
Leis da Economia e das Finanças, que são tão REAIS como a Lei da Gravidade. Com
isso, frequentemente, prejudicam seriamente os Trabalhadores, que propalam
constantemente querer defender.
No caso presente do Brasil, se o novo PR
Bolsonaro, conseguisse, antes de mais, liquidar os bandos de traficantes de droga,que lançam o pânico e
a morte no Ceará, em Fortaleza, no Rio, em São Paulo, etc., dando um mínimo de
SEGURANÇA às populações que ai vivem e TRABALHAM, daria a TODO o Brasil a “Estabilidade”
indispensável para se poder melhorar o nível de vida dessas populações,
evitando, ao mesmo tempo, que pessoas altamente competentes, portuguesas e de
outros países abandonassem o Brasil, como estão agora a fazer.
É preciso ESPERAR para VER e não,
aprioristicamente, estar a dizer que Bolsonaro é a “peste” que vai desgraçar
ainda mais todo o Brasil…
Abraço
O IMPRESSIONANTE DISCURSO DO NOVO MINISTRO DO ITAMARATY
Nos tempos que correm
não é costume um ministro das Relacões Exteriores proferir um discurso inaugural
citando o Evangelho segundo São João e concluir com uma Ave-Maria. É
compreensível que o establishmentesteja desaustinado, à beira de um ataque
epiléptico mesmo. A AD entendeu ser
importante para além do post de José Luís Andrade , com o vídeo da
comunicação, publicar na íntegra as palavras de Ernesto Araújo. Ei-las:
Inicialmente, gostaria
de agradecer muito vivamente as palavras tão amáveis do ministro e senador
Aloysio Nunes a meu respeito. Agradeço, muito tocado, sua deferência e gostaria
de dizer que a história sempre lembrará a sua condução, sempre segura, serena,
competente, desta Casa, em momentos difíceis, e queria dizer que tive muito
orgulho em trabalhar sob sua chefia em temas importantes desse Ministério. O
senhor deixará um legado muito importante para o Itamaraty.
Gostaria de começar
com uma frase que é absolutamente fundamental para entender o que está
acontecendo no Brasil. Vou dizê-la de uma maneira diferente do que vocês estão
acostumados a ouvir:
Gnosesthe ten
aletheian kai he aletheia eleutherosei umas [Γνώσεσθε την αλήθειαν και χε
αλήθεια ελευθερώσει υμάς].
“Conhecereis a verdade
e a verdade vos libertará”.
Essa convicção íntima
e profunda animou o presidente Jair Bolsonaro na luta extraordinária que ele
travou e está travando para reconquistar o Brasil e devolver o Brasil aos
brasileiros.
Nesse versículo de [Evangelho]
São João há três conceitos cruciais para o pensamento humano, para a vida
humana e para o nosso momento histórico. Nós temos Gnosis, que é o
conhecimento, Alêtheia, a verdade, e Eleuthería, a liberdade.
Alêtheia. A tradução
mais literal dessa palavra grega seria “desvelamento”, ou, melhor ainda,
“desesquecimento”. Lethe é esquecimento. Lethe é o rio do esquecimento que, na
tradição grega, os mortos cruzavam para ir para o outro lado. Então Alêtheia é
cruzar o rio de volta para cá. Alêtheia é a superação do esquecimento. Algo que
está esquecido e escondido e que de repente se recupera.
Alêtheia envolve uma
experiência autêntica, individual, sentimental, de tal maneira que o nosso
conceito actual de “verdade” é muito pobre diante desse conceito original.
Nosso conceito de verdade normalmente se refere apenas à verdade factual, é um
conceito um pouco técnico e frio, quando deveria ser algo orgânico e vivido.
A Alêtheia nos faz
desesquecer e reconectar-nos connosco mesmo, e nesse redescobrimento e reconexão
connosco mesmos é que a verdade liberta. Pois onde estava preso aquele que se
vê libertado pela verdade? Estava preso fora de si mesmo. Estava procurando ser
o que não é. O Brasil estava preso fora de si mesmo. E eu arriscaria dizer que
a política externa brasileira estava presa fora do Brasil.
Eleuthería,
eleutherosei umas. Eleuthería é outra palavra genial criada pelos gregos. Eu
não conheço nenhuma outra língua antiga, não conheço tantas, enfim, não conheço
hitita, não conheço sânscrito, mas não conheço nenhuma outra língua antiga que
possua esse conceito, excepto o latim libertas, mas que já é uma tradução
tardia do grego.
Então, mesmo assim, na
Grécia antiga, eleuthería significava basicamente a liberdade civil, era um
termo jurídico. Somente com a literatura cristã, e, especialmente com esse
trecho de São João, eleuthería se tornou algo mais completo, mais profundo e
mais elevado.
É um conceito que se
desgastou também ao longo dos séculos, a palavra liberdade se desgastou ao
longo dos séculos, mas preserva uma força incrível. A palavra liberdade ainda é
uma palavra que acende o coração das pessoas. A pessoa pode estar lá,
desanimada, no seu canto, mas quando escuta a palavra “liberdade”, não há quem
não levante a cabeça, subitamente alerta, e pergunte: liberdade? Onde? Eu
quero.
O presidente Bolsonaro
está libertando o Brasil, por meio da verdade. Nós vamos também libertar a
política externa brasileira, vamos libertar o Itamaraty, como o presidente
Bolsonaro prometeu que faríamos, em seu discurso de vitória.
Bem, nós falamos da
verdade e da liberdade, mas ainda não falamos do conhecimento, da gnosis. A
verdade liberta, mas para chegar à verdade é preciso conhecê-la. E não se trata
aqui de um conhecimento racional, pois a verdade não pode ser ensinada, a
verdade nesse sentido profundo não pode ser ensinada por dedução analítica.
Gnosis é o conhecimento no sentido de uma experiência mais íntima. A verdade é
essencial, mas não pode ser ensinada nem aprendida. Mas se é assim, como é que
nós vamos conhecer a verdade, que é a chave de isso tudo?
Para explicar isso eu
queria apelar a um brasiliense ilustre, Renato Russo, quando ele diz: “é só o
amor, é só o amor que conhece o que é verdade”.
Não são a cautela ou a
prudência que conhecem o que é a verdade, mas o amor. A cautela, a prudência e
o pragmatismo são bons instrumentos, quando sabemos para onde queremos ir, mas
eles não nos ensinam para onde ir, não nos mostram o que somos, não nos
explicam a nós mesmos.
É só o amor que
explica o Brasil. O amor, o amor e a coragem que do amor decorre, conduziram os
nossos ancestrais a formarem esta nação imensa e complexa. Nós passamos anos na
escola, quase todos nós, eu acho, escutando que foi a ganância ou o anseio de
riqueza, ou pior ainda, o acaso, que formou o Brasil, mas não foi. Foram o
amor, a coragem e a fé que trouxeram até aqui, através do oceano, através das
florestas, pessoas que nos fundaram, pessoas que disseram coisas como esta que
vou ler agora:
Anuê Jaci,
etinisemba-ê /Indê irú manunhê /Yara rekô embobeuká tupirã /Rekôku ya subí
/Embobeuká tupirabê /Nge membyrá Tupã
Essa é a Ave-Maria em
tupi, na versão original do padre José de Anchieta, onde ele traduz Maria por
Jaci, a lua, Anuê Jaci, e Jesus por Tupã, o trovão.
E aqui precisamos da
Alêtheia. O desesquecimento. Precisamos libertar a nossa memória histórica da
qual essa modesta oração faz parte.
Para libertar o
Itamaraty através da verdade, precisamos recuperar o papel do Itamaraty como
guardião da continuidade da memória brasileira.
Eu me lembro da emoção
que eu senti pela primeira vez, quando era terceiro-secretário, que subi as
escadas para este terceiro andar, e vi, logo ao subir a escada, o quadro da
Coroação de Dom Pedro I e o quadro do Grito do Ipiranga.
Imediatamente, eu, que
tinha 22 anos, me lembrei de quando tinha 5 anos e assisti maravilhado no
cinema ao filme “Independência ou Morte”, com Tarcísio Meira e Glória Menezes.
E pensei: então tudo isso existe, né? Tudo isso existe… e tudo isso é aqui!
Eu me lembro desse
momento muito marcadamente e eu percebi: olha, isso aqui não é simplesmente uma
repartição pública, isso aqui é uma espécie de um santuário. É uma espécie de
túnel do tempo, onde os heróis estão vivos, os heróis famosos e os heróis
anónimos, onde nós convivemos com os descobridores, com Alexandre de Gusmão,
José de Anchieta, com D. João VI, com os imperadores e as princesas, com os
bandeirantes e os abolicionistas, com os seringueiros e garimpeiros e tropeiros
que construíram essa nação, e até mesmo com o estranho caso de um barão
monarquista que se tornou o grande ídolo da República.
Eu não sei se alguns
de vocês já tenham assistido provavelmente a um seriado espanhol chamado
Ministerio del Tiempo. Eu recomendo. E eu diria que o Itamaraty, em certo
sentido, não é somente um Ministério das Relações Exteriores, é também um
Ministério do Tempo. Como talvez nenhuma outra instituição no Brasil, nós temos
a responsabilidade de proteger e regar esse tronco histórico multissecular por
onde corre a seiva da nacionalidade.
O presidente Bolsonaro
disse que nós estamos vivendo o momento de uma nova Independência. É isso que
[nós] os brasileiros profundamente sentimos. E deveríamos senti-lo e vivê-lo
ainda mais aqui no Itamaraty, onde a história está tão presente. Deveríamos
deixar fluir por estes salões e corredores a emoção deste novo nascimento da
pátria.
Precisamos desesquecer
e lembrar quem somos, de quem estamos voltando a ser.
Diz o lema do Barão:
Ubique Patriae Memor. Normalmente se traduz como “em todos os lugares,
lembrar-se da pátria.” Aqui, os senhores me perdoarão, a um professor de latim
frustrado, que nunca fui, antes de querer ser diplomata, para dizer que está
errada essa tradução. Memor é uma primeira pessoa. Então, na verdade é: “em
todos os lugares, eu me lembro da pátria.” É um compromisso de vida pessoal que
cada um de nós assume, e não uma simples anotação na agenda. Onde quer que
seja, eu me lembro da pátria.
E “eu me lembro da
pátria” aqui não significa simplesmente que, quando estamos no exterior,
devemos pensar no Brasil. Significa, se nós pensarmos no conceito de Alêtheia:
eu sinto essa verdade profunda que é a pátria, eu sinto o que é ter uma pátria
e lembrar-se da pátria, portanto, como uma verdade central, essa verdade que
liberta e que só se pode conhecer pelo amor.
“Lembrar-se da
pátria”. Não é lembrar-se da ordem liberal internacional, não é lembrar-se da
ordem global, não é lembrar-se do que diz o último artigo da Foreign Affairs ou
a última matéria do New York Times. É lembrar-se da pátria como uma realidade
essencial.
Não estamos aqui para
trabalhar pela ordem global. Aqui é o Brasil.
Não tenham medo de ser
Brasil.
Não tenham medo.
Pensem, por exemplo,
em Dom Sebastião. Quando preparava sua expedição à África, algum nobre da corte
portuguesa perguntou a Dom Sebastião se ele não tinha medo. Dom Sebastião olhou
e perguntou: “De que cor é o medo?”
Alguém objectará que
Dom Sebastião morreu pouco depois no areal do Alcácer Quibir, que é verdade,
mas nós estamos falando aqui dele, não é? Nós sabemos quem ele é. Dom Sebastião
se tornou um mito, aquele que há-de voltar das ondas do mar, num dia de muita
névoa. Nós não nos lembramos das pessoas que ficaram em casa, daqueles que não
foram a Alcácer Quibir. A Alêtheia que liberta está com os que foram, com os
que seguiram a bandeira dos seus reis e dos seus santos, sem saber se iriam
voltar, sem se importar se iriam voltar.
O mito ensina a não
ter medo, e é curioso que o mito é o mito e no momento actual o mito é o
apelido carinhoso que o povo brasileiro deu ao presidente Bolsonaro.
Marcel Proust dizia
que os nossos sentimentos vão se atrofiando por medo, por medo de sofrer. E eu
acho que a nossa política externa vem se atrofiando por medo de ser criticada.
Então não tenham medo de sofrer e não tenham medo de ser criticados.
Por sua vez, Clarice
Lispector dizia, falando do Brasil e do nacionalismo: “A nossa evidente
tendência nacionalista não provém de nenhuma vontade de isolamento: ela é
movimento sobretudo de autoconhecimento.” Autoconhecimento, a verdade.
Alêtheia, a verdade que liberta.
Então, para não ter
medo, vamos ler menos Foreign Affairs, e mais Clarice Lispector ou Cecília
Meireles.
Vamos ler menos The
New York Times, e mais José de Alencar e Gonçalves Dias.
Vamos escutar menos a
CNN e mais Raul Seixas.
Por que Raul Seixas?
“Não fiquemos no trono de um apartamento”, ou de uma Embaixada, “com a boca
escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar”.
Vamos fazer alguma
coisa pelas nossas vidas e pelo nosso país. Mergulhemos no oceano de sentimento
e na esperança do nosso povo. Não mergulhemos nessa piscina sem água que é a
ordem global.
O Itamaraty existe
para o Brasil, não existe para a ordem global.
O Itamaraty existe
para o Brasil, não existe para si mesmo. Nós somos uma casa de excelência?
Somos, claro que sim. Mas para sê-lo precisamos mostrá-lo, e não ficar
simplesmente repetindo isso uns para os outros. Nós vamos cuidar da nossa
administração, do fluxo de carreira, vamos solucionar esse e muitos outros
problemas, se Deus quiser, que legitimamente afligem a instituição, para que o
ministério possa melhor se capacitar para sua tarefa maior.
Queria dizer que nós
não precisamos e não vamos abrir os quadros do Itamaraty para pessoas de fora
da carreira, além dos casos que já existem. O presidente Bolsonaro confia
plenamente na capacidade dessa casa e dessa carreira de implementar a sua
política. Nós simplesmente estamos tomando a medida de flexibilizar a ocupação
de cargos no Itamaraty por funcionários da carreira em determinados níveis
hierárquicos justamente para arejar o fluxo da carreira e inclusive estimular
os nossos colegas a ocuparem esses cargos.
Nós temos tradições, é
claro, mas precisamos empregá-las como estímulo para buscar a verdade e a
liberdade, como serviço à pátria, como serviço a todos os brasileiros, tanto os
mais humildes, quanto os mais afortunados do nosso povo, esse povo que uma
ideologia perversa não mais divide.
Temos tradições, mas,
como dizia o embaixador Azeredo da Silveira, na frase famosa, “a maior tradição
do Itamaraty é saber renovar-se”.
Eu quando ingressei no
Itamaraty, repetia-se essa frase a torto e a direito. Você não conseguia cruzar
um corredor sem ouvir essa frase da tradição do Itamaraty sabendo renovar-se;
mas há alguns anos, há muito tempo, eu pessoalmente já não tenho escutado essa
frase. Não sei bem porquê. Talvez seja por um pouco desse ensimesmamento, de um
certo comodismo que se criou.
Nós nos apegamos muito
à nossa própria auto-imagem e fizemos dela uma espécie de ídolo, e ficamos nos
olhando um pouco no espelho e dizendo que nós somos o máximo, e dizendo que os
governos não nos entendem, mas que o Itamaraty está acima dos governos. Nós nos
tornámos diplomatas que fazem coisas que só são importantes para outros
diplomatas. Isso precisa acabar. Deixemos de olhar no espelho e passemos a
olhar pela janela. Ou melhor ainda, vamos sair à rua para o Brasil verdadeiro.
Não tenhamos medo do
povo brasileiro. Somos parte do povo brasileiro.
Certa vez, ainda no
Instituto Rio Branco, eu ouvi de um diplomata antigo o seguinte: “o Itamaraty
não pode ser melhor do que o Brasil”. Nessa época, eu tomei isso como um sinal
de um grande pessimismo. Era um momento difícil na história do Brasil e eu
achei que ele estava dizendo, olha, o Brasil está ruim, e o Itamaraty está
igual. Mas hoje eu acho que finalmente eu compreendo o que ele queria dizer.
O Itamaraty não pode
achar que é melhor do que o Brasil. O Itamaraty não pode achar que não faz
parte do Brasil. Fazemos parte, voltamos a fazer parte de uma aventura
magnífica.
A partir de hoje, o
Itamaraty regressa ao seio da pátria amada.
O Itamaraty voltou,
porque o Brasil voltou.
Fernando Pessoa
afirmava o seguinte: “o poeta superior diz o que pensa”. Ou melhor, o poeta
superior diz o que sente. O que pensa, também. “O poeta superior diz o que
sente. O poeta médio diz o que decide sentir. O poeta inferior diz o que acha
que deve sentir.”
O mesmo talvez se
possa dizer do diplomata. E o mesmo se aplica ao um país na sua presença
internacional.
Por muito tempo o
Brasil dizia o que achava que devia dizer. Era um país que falava para agradar
os administradores da ordem global. Queríamos ser um bom aluno na escola do
globalismo, e achávamos que isso era tudo. Éramos um país inferior, aplicando a
classificação de Fernando Pessoa.
Mas o Brasil volta a
dizer o que sente, e a sentir o que é.
Vocês podem dizer que
isso é “quixotesco”, talvez, e as pessoas nos chamam, às vezes, ou me chamam de
tantas coisas bem piores, que então “quixotesco”, só para dizer que talvez já
estaria bom, “quixotesco” já seria um bom adjectivo. Mas isso me lembra algo
que escutei do professor Olavo de Carvalho, um homem que, após o presidente
Jair Bolsonaro, talvez seja o grande responsável pela imensa transformação que
o Brasil está vivendo.
Certa vez eu ouvi o
professor Olavo referir-se a um trecho do Dom Quixote de Cervantes, que é
talvez o ponto central dessa obra. É quando Dom Quixote está caído à beira do
caminho, em algum lugar de La Mancha, em espécie de delírio, e começa a
conversar com os passantes como se fossem o marquês disto, o conde daquilo, ou
algum herói de cavalaria, enquanto fala das suas próprias façanhas.
Lá pelas tantas, ele
se refere a um camponês que está passando como “Marquês de Mântua”. E o
camponês para e olha para ele e diz: “Per’aí. Eu sei quem é o senhor. Eu não
sou o marquês de Mântua, eu sou seu vizinho, o Pedro Alfonso. E o senhor não é
Dom Quixote, o senhor é um bom homem, que conheço há muitos anos, o senhor é
Alonso Quijano.” E Dom Quixote para um segundo, pensa, e responde: “Yo sé quién
soy.”
Algumas pessoas dirão
que o Brasil não é isso tudo que o presidente Bolsonaro acredita e que eu
também acredito, dirão que o Brasil não tem capacidade de influir nos destinos
do mundo, de defender os valores maiores da humanidade, que devemos apenas exportar
produtos e atrair investimentos, pois afinal somos um bom país, quieto e
pacífico, mas não temos poder para nada. Dirão que o Brasil é apenas Alonso
Quijano. Mas o Brasil responderá: Eu sei quem eu sou.
Eu sei quem eu sou.
Somos um país universalista,
é certo, e a partir desse universalismo queremos construir algo bom e produtivo
com cada parceiro. Mas universalismo não significa não ter opiniões.
Universalismo não significa uma geleia geral. Não significa querer agradar a
todos. A vocação do Brasil não é ser um país que simplesmente existe para
agradar. Queremos ser escutados, mas queremos ser escutados não por repetir
alguns dogmas insignificantes e algumas frases assépticas, queremos ser
escutados por ter algo a dizer.
Nós buscaremos as
parcerias e as alianças que nos permitam chegar aonde queremos, não pediremos
permissão à ordem global, o que quer que ela seja. Defenderemos a liberdade e a
vida. Defenderemos o direito de cada povo de ser o que é, com liberdade e
dignidade, com a dignidade que unicamente a liberdade proporciona.
Quem ama, luta pelo
que ama. Então nós admiramos quem luta, admiramos aqueles que lutam pela sua
pátria e aqueles que se amam como povo, por isso admiramos por exemplo Israel,
que nunca deixou de ser uma nação, mesmo quando não tinha solo – em contraste
com algumas nações de hoje, que mesmo tendo seu solo, suas igrejas e seus
castelos, já não querem ser nação.
Por isso admiramos os
Estados Unidos da América, aqueles que hasteiam sua bandeira e cultuam seus
heróis. Admiramos os países latino-americanos que se libertaram dos regimes do
Foro de São Paulo. Admiramos nossos irmãos do outro lado do Atlântico que estão
construindo uma África pujante e livre. Admiramos os que lutam contra a tirania
na Venezuela e em outros lugares. Por isso admiramos a nova Itália, por isso
admiramos a Hungria e a Polónia, admiramos aqueles que se afirmam e não aqueles
que se negam.
O problema do mundo
não é a xenofobia, mas a oikofobia – de oikos, oikía, o lar. Oikofobia é odiar
o próprio lar, o próprio povo, repudiar o próprio passado.
É mais fácil não amar,
não lutar, porque amar e lutar também significam sofrer, significam muitas
vezes não ser compreendido, significam suscitar o ódio, o desprezo, a inveja –
então muitas nações, assim como muitas pessoas optam pelo conforto e pela
facilidade de não amar e de não lutar. Nós aqui não optamos nem pelo conforto,
nem pela facilidade.
Além da oikofobia, o
ódio contra o próprio lar, deveria preocupar-nos, também, cada vez mais, a
teofobia, o ódio contra Deus. Há uma teofobia horrenda, gritante, na nossa
cultura. Não só no Brasil, em todo o mundo. Um ódio contra Deus, proveniente
sabe-se lá de onde, canalizado por todos os códigos de pensamento e de não
pensamento que perfazem a agenda global.
Para destruir a
humanidade é preciso acabar com as nações e afastar o homem de Deus, e é isso
que estão tentando, e é contra isso que nos insurgimos.
O globalismo se
constitui no ódio, através das suas várias ramificações ideológicas e seus
instrumentos contrários à nação, contrários à natureza humana, e contrários ao
próprio nascimento humano. Nação, natureza e nascimento, todos provém da mesma
raiz etimológica e isso se dá porque possuem entre si uma conexão profunda.
Aqueles que dizem que
não existem homens e mulheres são os mesmos que pregam que os países não têm
direito a guardar suas fronteiras, são os mesmos que propalam que um feto
humano é um amontoado de células descartável, são os mesmos que dizem que a
espécie humana é uma doença e que deveria desaparecer para salvar o planeta.
Por isso a luta pela nação é a mesma luta pela família e a mesma luta pela
vida, a mesma luta pela humanidade em sua dignidade infinita de criatura.
Quando eu era criança,
ouvia, e adolescente também, ouvia muita gente dizendo: “O mundo caminha
inexoravelmente para o socialismo”. Mas não caminhou. Não caminhou porque
alguém foi lá e não deixou.
Hoje escutamos que a
marcha do globalismo é irreversível.
Mas não é
irreversível.
Nós vamos lutar para
reverter o globalismo e empurrá-lo de volta ao seu ponto de partida.
Nós queremos levar a
toda parte o grito sagrado da liberdade, eleuthería. Esse foi o primeiro grito
de guerra do Ocidente em seu nascimento, na batalha de Salamina, Eleutheroûte
Patrída. Libertai a pátria.
Então temos aqui o
Barão dizendo “eu me lembro da pátria”, eu trago a pátria de dentro do seu
escondimento, eu vivo a pátria na verdade. E temos Ésquilo gritando pela
liberdade, libertai a pátria, Eleuthería. Mas Alêtheia e Eleuthería só são
possíveis pelo conhecimento da pátria, que se dá pelo amor.
Um dos instrumentos do
globalismo, para abafar aqueles que se insurgem contra ele, é espalhar que,
para fazer comércio e negócios, não se pode ter ideias nem defender valores.
Nós provaremos que isso é completamente falso. O Itamaraty terá, a partir de
agora, o perfil mais elevado e mais engajado que jamais teve na promoção do
agronegócio, do comércio, dos investimentos e da tecnologia.
De fato, ao se
distanciar do Brasil e do povo brasileiro, o Itamaraty havia-se distanciado
também do sector produtivo nacional. Pois agora estaremos junto com o sector
produtivo nacional, como nunca estivemos. Nós não vamos mais apenas “acompanhar
os temas”, como se diz no jargão antigo, o jargão daquele Itamaraty fechado ao
povo.
O Itamaraty não será
mais um ministério que só fica olhando. Vamos trabalhar sem descanso para
promover o comércio agrícola, a indústria, o turismo, a inovação, a capacitação
tecnológica, os investimentos em infra-estrutura e energia, avançando ombro a
ombro com os outros Ministérios – graças a essa extraordinária equipe
ministerial que o presidente Bolsonaro criou com um espírito de harmonia e um
sentido de missão sem precedentes.
Quando digo
extraordinária, me exceptuo, porque não quero falar de mim mesmo. Estou falando
dos outros 21 ministros.
Formularemos com cada
parceiro internacional um programa de trabalho específico, para desenvolver o
potencial de cada relação, de maneira criativa e dinâmica. Para isso
contaremos, entre outros, com esse instrumento extraordinário que é a APEX, uma
APEX renovada, redinamizada e integrada no conjunto da nossa estratégia de
política externa.
Contaremos também com
um sector de Promoção Comercial dentro do Itamaraty que multiplicaremos por
quatro, vamos desburocratizar os sectores de promoção comercial nas Embaixadas
no Exterior, transformando-os em verdadeiros escritórios comerciais capazes de
gerar negócios e ocupar novos mercados para os nossos produtores.
Implementaremos uma
política de negociações comerciais para os dias de hoje. Estivemos negociando
acordos comerciais, alguns mais exitosamente, outros menos, mas em muitos casos
no modelo dos anos 1990. Em alguns casos também estamos negociando esses
acordos desde os anos 1990, e até agora, em alguns casos, vão involuindo com o
passar do tempo.
Nós negociamos esses
instrumentos em abstracto, e não aquilo que deveríamos fazer, que são
entendimentos efectivos direccionados às nossas potencialidades concretas. Nós
negociamos muitas vezes a partir de uma posição de fraqueza, como se
estivéssemos implorando acesso a mercados, quando na verdade deveríamos
negociar a partir de uma posição de força, como um dos maiores e potencialmente
o maior produtor de alimentos do mundo, por exemplo.
Nós orientaremos todas
as relações bilaterais e multilaterais para a geração de resultados concretos
para o emprego, a renda e para a segurança dos brasileiros. Ao mesmo tempo que
as relações bilaterais, investiremos renovado esforço também nas negociações
multilaterais, especialmente na OMC, que está construindo uma nova e promissora
agenda da qual, hoje, o Brasil ainda está de fora, mas na qual entrará com todo
o seu peso e toda sua criatividade.
No sistema
multilateral político, especialmente na ONU, vamos reorientar a actuação do
Brasil em favor daquilo que é importante para os brasileiros – não do que é
importante para as ONGs. Defenderemos a soberania. Defenderemos a liberdade – a
liberdade de expressão, a liberdade de crença, a liberdade na internet, a
liberdade política. Defenderemos os direitos básicos da humanidade, o principal
dos quais talvez seja, se me permitem usar o título de uma novela dos anos
1960, O Direito de Nascer.
Abriremos o Itamaraty
para a sociedade, seremos a casa de todos os brasileiros. Muito se escuta que o
brasileiro não se interessa por política externa. Na verdade, o brasileiro não
se interessava por política externa quando achava que política externa era
simplesmente um exercício de estilo, infinitas variações para não dizer nada em
um discurso da ONU.
Desde a eleição do
presidente Bolsonaro, o brasileiro está profundamente interessado e envolvido
em política externa, mesmo porque o presidente dá uma atenção enorme a essa
área, pois a considera algo profundamente integrado na vida nacional, e não
alguma disciplina arcana à qual só teriam acesso alguns especialistas.
O brasileiro sente que
na frente externa se dá uma das principais, senão a principal batalha pelos
seus ideais e valores mais profundos. O brasileiro entende que da frente
externa depende em grande medida a sobrevivência e o êxito do projecto de
redescoberta e libertação, esta aventura de alêtheia e eleuthería que estamos
vivendo com amor e com coragem.
Falar com a sociedade
não é simplesmente falar, é principalmente ouvir. Vou dar um exemplo do que temos
para ouvir. É o comentário de uma pessoa que segue a minha conta do Twitter,
que diz o seguinte (li isso ontem): “Antes eu não entendia o amor do povo da
Inglaterra pela rainha. Agora entendo. Quando temos alguém que ama seu país e
seu povo e os defende, ganha amor e respeito. Não conhecíamos isso antes de
Bolsonaro.”
A isso me proponho
aqui. Fazer do Itamaraty um instrumento de amor pelo nosso país e pelo nosso
povo.
Estou certo de que
podemos tornar o Brasil ao mesmo tempo mais competitivo e mais autêntico, ao
mesmo tempo mais económica e comercialmente dinâmico e mais verdadeiro, mais
respeitado internacionalmente e mais fiel a si mesmo.
Não deixem o
globalismo matar a sua alma em nome da competitividade. Não acreditem no que o
globalismo diz quando diz que para ter eficiência económica é preciso sufocar o
coração da pátria e não amar a pátria. Não escutem o globalismo quando ele diz
que paz significa não lutar.
Os senhores me
perguntarão: e como faremos isso?
Pela palavra.
Acreditemos no poder
infinito da palavra, que é o logos criador.
O presidente Jair
Bolsonaro está aqui, chegou até aqui, e nós com ele, porque diz o que sente.
Porque diz a verdade. E isso é o logos.
Eu vou terminar
falando do princípio e citando novamente São João, a abertura do Evangelho de
São João, quando diz “en archê ên ho logos“. O princípio era o logos. A
Palavra. O Verbo. Archê, a última palavra em grego que eu vou dizer aqui hoje,
significa princípio, tanto no sentido de início, quanto no sentido,
principalmente, de força estruturante, princípio estruturante. A realidade,
pelo menos a realidade humana, está estruturada em torno da linguagem, da
palavra, do verbo, portanto do logos.
Tudo o que temos, tudo
de que precisamos, é a Palavra. Ela está aprisionada, mas com amor e com coragem
havemos de libertá-La.
Que Deus abençoe a
todos vocês, aos que crêem e aos que não crêem, aos que estão connosco e aos
que ainda não estão connosco. Que Deus abençoe o presidente Jair Bolsonaro e
que Deus abençoe o Brasil.
Anuê Jaci! [Ave Maria]
Muito obrigado.
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