Foi das primeiras terras de
Vila Nova de Gaia que nos finais da década de 60 conheci. Depois conheci
outras, mas ao fixar-me em Lisboa só muito raramente voltei a Arcozelo. Mas
vamos à história: Um dia apareceu um ilusionista em São Mamede do Coronado que
fazia equipa com outros. Era conhecido pelo apelido de “Maia”, e um dia
encontrei-me de novo com ele num certame que no Porto decorreu na Av. dos
Aliados. Nesse tempo eu falava pelos cotovelos e tinha muito jeito para
filosofar, de tal forma que tendo adquirido um livro de poesia do qual ele era
coautor logo me agradeceu a carta que lhe dirigi a falar do livro e de pronto
me convidou para ir almoçar a sua casa.
Lá fui parar. Atenção que
esta casa nada tem a ver com a casa desse meu amigo, é doutro. Aproveitei para
fazer uma reportagem, que saiu assim:
“Fica esta populosa e simpática freguesia no concelho de V.N.de Gaia e
dista da cidade do Porto uns 13 kms. É servida por boas estradas e pela estação
da CP de Miramar. Sob o aspecto económico é por natureza agrícola, mas também a
industria e o comércio concorrem aí para a ostentação e luxo das suas lindas e
airosas vivendas que alojam os seus aproximados 12 mil habitantes. É nesta
ridente e espaçosa freguesia que se encontra desde 1885 o cadáver incorrupto de
D. Maria Adelaide de S José Sousa Gama (a Santa de Arcozelo),numa capela
mandada erigir para tal fim no cemitério local por volta de 1931 pela Junta de
Freguesia. Ao largo fronteiriço do cemitério foi dado o nome : Parque D. Maria
Adelaide. Nele se levanta formosa e altaneira a igreja paroquial, mandada
construir no século passado pelos arcozelenses
em substituição da antiga capela de N.S. da Hora, a qual não tinha dimensões
para albergar todos os fieis da paróquia.
É hoje esta freguesia visitada anualmente por milhares de transeuntes
que dos mais variados pontos do país e estrangeiro, ali se deslocam para verem
o cadáver da serva de Deus, D. Maria Adelaide, no seu esquife, que não obstante
os decretos de Urbano VII e da S.C.dos Ritos – jamais alguém ter o direito de
se antecipar aos juízos da Santa Igreja
no julgamento de fenómenos como os de Arcozelo, deixam de ali
afluir chamados muitas vezes pela
consciência e dever de cumprir uma prece feita em momentos angustiosos e em que
só o poder sobrenatural poderá interceder. O cadáver encontra-se coberto de
cordões e jóias de ouro e o esquife rodeado de notas e moedas. A casa dos
milagres que fica ao lado direito da capela, está repleta de ofertas e quadros
com fotografias de indivíduos que por sua intercessão têm obtido graças. Todas
as oblações ali colhidas ficam na posse de uma comissão composta pela Junta de
Freguesia, e revertem á conservação da capela e melhoramentos da terra”
São Mamede de Coronado /
Dez de 6O
In “ Noticias de Basto” de
1O /12 1960”.
Quase 60 anos depois lá
voltei de novo no passado dia 24 Setembro, e por mero acaso passei no local
onde então almocei. O prédio ainda lá está, muito bem conservado, embora com
ares de desabitado e mal cuidado. Ia de boleia e todos nós muitos apressados
para chegarmos ao destino que agora nos levava aquela terra. Memórias de tempos
idos.
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