terça-feira, 2 de outubro de 2018

É bom poder recordar, é bom sinal


Por Costa Pereira Portugal, minha terra

Foi das primeiras terras de Vila Nova de Gaia que nos finais da década de 60 conheci. Depois conheci outras, mas ao fixar-me em Lisboa só muito raramente voltei a Arcozelo. Mas vamos à história: Um dia apareceu um ilusionista em São Mamede do Coronado que fazia equipa com outros. Era conhecido pelo apelido de “Maia”, e um dia encontrei-me de novo com ele num certame que no Porto decorreu na Av. dos Aliados. Nesse tempo eu falava pelos cotovelos e tinha muito jeito para filosofar, de tal forma que tendo adquirido um livro de poesia do qual ele era coautor logo me agradeceu a carta que lhe dirigi a falar do livro e de pronto me convidou para ir almoçar a sua casa.
Lá fui parar. Atenção que esta casa nada tem a ver com a casa desse meu amigo, é doutro. Aproveitei para fazer uma reportagem, que saiu assim:  “Fica esta populosa e simpática freguesia no concelho de V.N.de Gaia e dista da cidade do Porto uns 13 kms. É servida por boas estradas e pela estação da CP de Miramar. Sob o aspecto económico é por natureza agrícola, mas também a industria e o comércio concorrem aí para a ostentação e luxo das suas lindas e airosas vivendas que alojam os seus aproximados 12 mil habitantes. É nesta ridente e espaçosa freguesia que se encontra desde 1885 o cadáver incorrupto de D. Maria Adelaide de S José Sousa Gama (a Santa de Arcozelo),numa capela mandada erigir para tal fim no cemitério local por volta de 1931 pela Junta de Freguesia. Ao largo fronteiriço do cemitério foi dado o nome : Parque D. Maria Adelaide. Nele se levanta formosa e altaneira a igreja paroquial, mandada construir no  século passado pelos arcozelenses em substituição da antiga capela de N.S. da Hora, a qual não tinha dimensões para albergar todos os fieis da paróquia.  É hoje esta freguesia visitada anualmente por milhares de transeuntes que dos mais variados pontos do país e estrangeiro, ali se deslocam para verem o cadáver da serva de Deus, D. Maria Adelaide, no seu esquife, que não obstante os decretos de Urbano VII e da S.C.dos Ritos – jamais alguém ter o direito de se antecipar aos juízos da Santa Igreja  no julgamento de fenómenos como os de Arcozelo, deixam de ali afluir  chamados muitas vezes pela consciência e dever de cumprir uma prece feita em momentos angustiosos e em que só o poder sobrenatural poderá interceder. O cadáver encontra-se coberto de cordões e jóias de ouro e o esquife rodeado de notas e moedas. A casa dos milagres que fica ao lado direito da capela, está repleta de ofertas e quadros com fotografias de indivíduos que por sua intercessão têm obtido graças. Todas as oblações ali colhidas ficam na posse de uma comissão composta pela Junta de Freguesia, e revertem á conservação da capela e melhoramentos da terra”
São Mamede de Coronado / Dez de 6O
In “ Noticias de Basto” de 1O /12 1960”.
Quase 60 anos depois lá voltei de novo no passado dia 24 Setembro, e por mero acaso passei no local onde então almocei. O prédio ainda lá está, muito bem conservado, embora com ares de desabitado e mal cuidado. Ia de boleia e todos nós muitos apressados para chegarmos ao destino que agora nos levava aquela terra. Memórias de tempos idos.

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