Por BARROSO da FONTE
A RTP, mais uma vez, iludiu a raia miúda com a programação de um concurso de comes e bebes, sob o tema das «7 maravilhas à mesa». Durou cerca de quatro meses e envolveu 49 autarquias. O encerramento foi dia 16 de Setembro e teve Albufeira como cidade anfitriã. Talvez por isso esse concelho logrou maior destaque e tempo de antena, com honras dobradas, a começar pelo autarca que foi duas vezes ao palco e foi brindado como se Albufeira precisasse dessa publicidade, entre concelhos com melhor gastronomia e vinhos.
A RTP, mais uma vez, iludiu a raia miúda com a programação de um concurso de comes e bebes, sob o tema das «7 maravilhas à mesa». Durou cerca de quatro meses e envolveu 49 autarquias. O encerramento foi dia 16 de Setembro e teve Albufeira como cidade anfitriã. Talvez por isso esse concelho logrou maior destaque e tempo de antena, com honras dobradas, a começar pelo autarca que foi duas vezes ao palco e foi brindado como se Albufeira precisasse dessa publicidade, entre concelhos com melhor gastronomia e vinhos.
É claro que o Algarve tem tudo e mais alguma coisa,
que é a praia.
Gastronomia? Vinhos?
Se houvesse rigor científico neste tipo de concursos Albufeira,
dificilmente, teria ganho essa «maravilha da mesa»? Um concurso sobre
gastronomia, em bom rigor, deveria ter em conta a origem dos produtos, em
consonância com o local onde se consomem. Depois, dá muito nas vistas, que
sendo o concelho a concorrer, apareçam cidadãos famosos a ir ao palco, só pelo
facto de envolver e credibilizar o certame. Mais uma idiotice: já houve muitos
concursos gastronómicos e afins. Nalguns concelhos, são sempre os mesmos a ser
distinguidos. Por que não condicionar essa repetição de troféus, que cheiram,
quase sempre, a favoritismo. Este tipo de concursos deve ter objetivos claros.
Os regulamentos parecem ser copiados uns pelos outros.
Para o ano vai repetir-se esse tipo de concursos.
Pelos vistos, serão os mesmos organizadores. Apenas mudará o produto. Em vez da
carne ou do peixe, será doçaria. Vamos ver se tal prática é mais democrática,
mais coerente, mais transparente e mais plural. É que até os concelhos apurados
tiveram «bênção» do regime.
É evidente que um arroz de marisco, em Bragança, em Alijó ou em Montalegre, não pode concorrer com a lógica de Albufeira, ou outra vila ou cidade da orla marítima. A mesma lógica reside no campo das carnes, em oposição ao peixe. Daí que os organizadores tenham ignorado concelhos, como: Montalegre, Vinhais, Boticas, Chaves e outros. Este concurso branqueou esse tipo de produtos, menosprezou as regiões rurais e catapultou «farta-brutos» e reizetes com séculos de história. O melhor júri é o povo.
Foi pena que não tenham os jurados, atribuído qualquer
prémio a esses concelhos do interior. O tipo de votação, através do tele-voto é
um engodo. Como pode Montalegre, por exemplo, competir com Albufeira cuja maior
riqueza é a praia que, em meados de Setembro tem muitos milhares de banhistas
que assistem ao espetáculo e que, bem comidos e bem bebidos, se esquecem das
suas terras e,se deixam aliciar por ambientes ilusórios e, empolgados pelo
álcool da noite, clicam no telefone dessa noitada de luxúria veraneante. O
tele-voto não deve servir para todos os concursos, porque os públicos são
diferentes e tendem mais a prejudicar os carenciados do que aqueles que vão de
férias para lugares onde os pobres nunca foram nem irão.
Finalmente, os aspetos morais que esses concursos não
acautelam e que o Provedor de Justiça deverá recriminar. Os pivôs da RTP, nesse
programa, são profissionais da propaganda. Eles jogam com a inocência das
multidões. Os convites, os apelos, os aliciamentos, são frenéticos e o
tele-voto cai ali como uma tromba de água. Essa pedinchice é espúria, nojenta e
abominável! Todos os canais usam e abusam, Mas a televisão pública, em assédio
constante, aos mais frágeis, aos que menos podem e aos jovens que aceitam estes
apelos, é drama que urge ser tratado no Parlamento.
Dizem-me que há
Câmaras e outros serviços públicos de onde alguns funcionários passam horas
mortas a telefonar. Assim como há pessoas influentes e até menores, com
portáteis que telefonam a pedido ou por entusiasmo dos mais velhos, ou mais
fanáticos deste tipo de certames em que aqueles que mais precisam, são os que
mais apostam para tentarem que lhes saia alguma coisa.
De pouco têm valido a concelhos nortenhos que arrastam
as televisões para as enchentes das feiras do fumeiro, para, quando mais deveriam promover concursos que valorizassem
esses produtos regionais, são os primeiros fatores a conspurcar a verdade, a
economia e a justiça popular. Os municípios do país real são aqueles que os
canais generalistas mais procuram para entretenimento com enchentes de povo
desejoso de ter acesso à televisão. Cada espetáculo exige ao concelho recetor
pipas de massa. Brilham com enchentes de gente simples que abre as portas e
enche mesas para que todos saboreiem e regressem satisfeitos. Quando há este
tipo de espetáculos populares, têm sempre uma tendência para salvarem a
banalidade, com restaurantes, especiarias ou personalidades que já tresandam
pela repetição de prémios, fabricados em anos de populismo secular.
Este último concurso demonstrou essa evidência que
beneficiou Albufeira, que desde há muito vive do turismo que não dos vinhos,
não dos produtos autóctones, nem do trabalho campesino.
Barroso da Fonte
A única coisa boa que se come no Algarve é somente peixe grelhado, porque o mar é que dá e só tem de se por sal...
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