sexta-feira, 27 de julho de 2018

“O Concelho de Murça na Grande Guerra”, documento a considerar para a História recente de Trás-os-Montes.

Dinis Costa, Hirondino Isaías, Armando Palavras e António Lopes

“O Concelho de Murça na Grande Guerra”, documento a considerar para a História recente de Trás-os-Montes.

Ontem, foi dia dos avós, e dia de mais um evento cultural na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Lisboa: uma conversa sobre o livro de Dinis Serôdio da Costa.
Com a Grande Guerra como pano de fundo, o autor de Murça, num rasgo de enorme desprendimento, expressou perante o grupo que o recebeu (assim como ao seu editor – António Lopes), um conhecimento total sobre o assunto, apoiando-se no trabalho rigoroso transcrito no volume.
Um livro a divulgar. É certo que ontem não foi o melhor dia, por várias razões, mas foi o dia possível antes de férias da agremiação. Contudo, haverá outros dias.
O importante foi o encontro e o tema em debate. E a oportunidade de se conhecer pessoalmente, António Lopes (Sa Gué). O debate foi bastante produtivo, criativo e vivo.
Rigoroso e criativo, o autor dissertou, seguro, sobre o tema. Apresentou gráficos, esquemas e pequenas notas. Sem dúvida, uma intervenção memorável. Com a qual aprendemos pormenores que desconhecíamos, de um modo geral (sobre a Grande Guerra) e, sobretudo, de um modo particular: o elenco de homens do concelho de Murça que nela participaram. Nada escapou ao olhar atento do autor, e ao rigor da investigação – aspectos físicos, familiares, académicos … incluindo o nome dos navios que os transportaram.
Para a História recente de Trás-os-Montes, “O Concelho de Murça na Grande Guerra” é um documento a considerar.
Os dados apresentados pelo autor sobre as baixas em todos os concelhos da região, são os seguintes:



A tertúlia iniciou com texto de António Lopes, que se transcreve:

“É impossível separar a obra de um autor, esta é uma das minhas poucas verdades e nesta parece-me ainda mais evidente. Daí que falar deste binómio, obra/autor, separadamente me parece impossível. Tentarei fazê-lo em conjunto.
Assim, e antes de mais, e para que conste, eu e o autor somos camaradas de Armas. Ambos fizemos a mesma carreira militar, embora apenas nos encontrássemos nos cursos, nunca estivemos na mesma Unidade simultaneamente. A carreira militar tem esta particularidade, à medida que a ascensão hierárquica vai acontecendo, vão acontecendo os cursos respetivos e é sempre um período de reencontro de velhos amigos.  Portanto, apesar dos encontros serem esporádicos, alguns com longa duração, note-se, por tudo isto posso dizer que conheço bem o Dinis Costa. Conheço bem a capacidade de trabalho dele, conheço bem o seu espírito crítico e atento, conheço bem a sua frontalidade sempre que algo lhe parece não estar dentro do seu racionalismo, conheço bem seu espírito rigoroso e metódico e esta faceta de personalidade, talvez tenha contribuído, enormemente, para levar esta «Carta a Garcia», para utilizar gíria militar, na realização desta obra que, apesar de se poder revelar simples, há de ter sido um trabalho de investigação imenso, de muitas leituras difíceis, porque manuscritas, de muitas horas ganhas em volta de papéis bolorentos.


O Dinis Costa é assim, férreo, depois de iniciar algo é incapaz de voltar atrás, é incapaz de admitir que as dificuldades são imensas e que desiste. É assim que eu o vejo, é com esta capacidade de trabalho, que lhe reconheço, que conseguiu elencar todos os homens do concelho de Murça que estiveram envolvidos na 1.ª Guerra Mundial, elencar e extrair desses velhos documentos a informação que resgata a memória desses valorosos homens que deram tudo pelo País, um País que por várias circunstâncias históricas, que neste momento não importa analisar, os abandonou.
Obviamente que as palavras «elencar» e «registar» são pobres para se poder exprimir a densidade do trabalho. Elencar poderia significar apenas elaborar lista de todos eles. NÃO. Redondamente, NÃO. Voltou a fazer deles HOMENS que nasceram, viveram e morreram. Percorreu os arquivos Paroquiais e deu-lhe pai e mãe, avós, e até data e hora de nascimento.
Percorreu os arquivos militares e registou o percurso de cada um deles. Registou-lhe a morte, as doenças, as feridas, os louvores, as medalhas com que foram condecorados, tudo o que fizesse deles novamente HOMENS, repito, restituindo-lhes a dignidade que merece qualquer ser humano.
A partir daqui, depois deste exaustivo registo, podemos imaginar as alegrias que os animou, as tristezas que os deprimiu, as dores, os medos que sentiram quando enfrentaram o Inimigo ou que os fez fugir. Sim, porque entre a coragem e o medo, em situações de grande intensidade emocional, a diferença é mínima, dizem os entendidos.
Para mim são todos Heróis. Todos eles foram para além daquilo que a vida nos proporciona, por natureza, todos ultrapassaram as grilhetas da mera existência.
Termino com as palavras de um outro interveniente nesta obra porque creio que elas sintetizam todo este arrazoado que tenho estado a debitar.
Que este trabalho nos centre no seu conteúdo humano e pessoal, porque é exclusivamente de pessoas reais que trata, sem efeitos especiais ou ficção, sem enredos.
Prestemos-lhe então a merecida justiça e recordemo-los e orgulhemo-nos de quem, muitos de nós, descendemos.
Obrigado.
Disse.                  
António Sá Gué


Actualizado às 17 H 24 m 

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