Dinis Costa, Hirondino Isaías, Armando Palavras e António Lopes |
“O Concelho de Murça na Grande Guerra”, documento a considerar para a
História recente de Trás-os-Montes.
Ontem, foi dia dos
avós, e dia de mais um evento cultural na Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro
de Lisboa: uma conversa sobre o livro de Dinis Serôdio da Costa.
Com a Grande Guerra
como pano de fundo, o autor de Murça, num rasgo de enorme desprendimento,
expressou perante o grupo que o recebeu (assim como ao seu editor – António
Lopes), um conhecimento total sobre o assunto, apoiando-se no trabalho rigoroso
transcrito no volume.
Um livro a divulgar. É
certo que ontem não foi o melhor dia, por várias razões, mas foi o dia possível
antes de férias da agremiação. Contudo, haverá outros dias.
O importante foi o
encontro e o tema em debate. E a oportunidade de se conhecer pessoalmente,
António Lopes (Sa Gué). O debate foi bastante produtivo, criativo e vivo.
Rigoroso e criativo, o
autor dissertou, seguro, sobre o tema. Apresentou gráficos, esquemas e pequenas
notas. Sem dúvida, uma intervenção memorável. Com a qual aprendemos pormenores
que desconhecíamos, de um modo geral (sobre a Grande Guerra) e, sobretudo, de
um modo particular: o elenco de homens do concelho de Murça que nela
participaram. Nada escapou ao olhar atento do autor, e ao rigor da investigação
– aspectos físicos, familiares, académicos … incluindo o nome dos navios que os
transportaram.
Para a História
recente de Trás-os-Montes, “O Concelho de Murça na Grande Guerra” é um
documento a considerar.
Os dados apresentados
pelo autor sobre as baixas em todos os concelhos da região, são os seguintes:
“É impossível separar a obra de um
autor, esta é uma das minhas poucas verdades e nesta parece-me ainda mais
evidente. Daí que falar deste binómio, obra/autor, separadamente me parece
impossível. Tentarei fazê-lo em conjunto.
Assim, e antes de mais, e para que
conste, eu e o autor somos camaradas de Armas. Ambos fizemos a mesma carreira
militar, embora apenas nos encontrássemos nos cursos, nunca estivemos na mesma
Unidade simultaneamente. A carreira militar tem esta particularidade, à medida
que a ascensão hierárquica vai acontecendo, vão acontecendo os cursos
respetivos e é sempre um período de reencontro de velhos amigos. Portanto, apesar dos encontros serem
esporádicos, alguns com longa duração, note-se, por tudo isto posso dizer que
conheço bem o Dinis Costa. Conheço bem a capacidade de trabalho dele, conheço
bem o seu espírito crítico e atento, conheço bem a sua frontalidade sempre que
algo lhe parece não estar dentro do seu racionalismo, conheço bem seu espírito
rigoroso e metódico e esta faceta de personalidade, talvez tenha contribuído,
enormemente, para levar esta «Carta a Garcia», para utilizar gíria militar, na
realização desta obra que, apesar de se poder revelar simples, há de ter sido
um trabalho de investigação imenso, de muitas leituras difíceis, porque
manuscritas, de muitas horas ganhas em volta de papéis bolorentos.
Obviamente que as palavras «elencar»
e «registar» são pobres para se poder exprimir a densidade do trabalho. Elencar
poderia significar apenas elaborar lista de todos eles. NÃO. Redondamente, NÃO.
Voltou a fazer deles HOMENS que nasceram, viveram e morreram. Percorreu os
arquivos Paroquiais e deu-lhe pai e mãe, avós, e até data e hora de nascimento.
Percorreu os arquivos militares e
registou o percurso de cada um deles. Registou-lhe a morte, as doenças, as
feridas, os louvores, as medalhas com que foram condecorados, tudo o que
fizesse deles novamente HOMENS, repito, restituindo-lhes a dignidade que merece
qualquer ser humano.
A partir daqui, depois deste
exaustivo registo, podemos imaginar as alegrias que os animou, as tristezas que
os deprimiu, as dores, os medos que sentiram quando enfrentaram o Inimigo ou
que os fez fugir. Sim, porque entre a coragem e o medo, em situações de grande
intensidade emocional, a diferença é mínima, dizem os entendidos.
Para mim são todos Heróis. Todos eles
foram para além daquilo que a vida nos proporciona, por natureza, todos
ultrapassaram as grilhetas da mera existência.
Termino com as palavras de um outro
interveniente nesta obra porque creio que elas sintetizam todo este arrazoado
que tenho estado a debitar.
Que
este trabalho nos centre no seu conteúdo humano e pessoal, porque é
exclusivamente de pessoas reais que trata, sem efeitos especiais ou ficção, sem
enredos.
Prestemos-lhe
então a merecida justiça e recordemo-los e orgulhemo-nos de quem, muitos de
nós, descendemos.
Obrigado.
Disse.
António Sá Gué”
Actualizado às 17 H 24 m
Sem comentários:
Enviar um comentário