PAULO DE MORAIS - jornal Público
Só a extinção dos contratos de PPP rodoviárias poderá resgatar e salvar as
finanças públicas.
São ruinosas, constituem o cancro da
contratação pública e irão depauperar as finanças públicas até 2039. São as
parcerias público-privadas (PPP). As do sector rodoviário (que representam 93%
do investimento em PPP) irão onerar os cofres do Estado em 18 mil milhões de
euros, apesar do seu valor actualizado representar pouco mais de cinco mil
milhões. As rendas a ser pagas por todos os contribuintes, inscritas nos
Orçamentos do Estado futuros, são desproporcionadas, obscenas, face ao valor do
património em questão.
O Estado deve pois pôr fim a este
despautério: indemnizem-se os concessionários e extingam-se os contratos. Com
esta medida, a despesa pública terá poupanças, só no próximo ano, de mais de
1100 milhões, face à redução das rendas de 1500 milhões para cerca de 340
milhões. O ganho acumulado até ao fim dos contratos seria, neste cenário, de 11
mil milhões. Esta é uma verba avultadíssima, representa 12 vezes o valor de
privatização dos CTT. Com esta poupança, poder-se-iam construir 33 hospitais ou
2000 escolas, reduzir drasticamente as portagens, baixar o IVA da electricidade
para a taxa de 6%... É, pois, uma decisão que não pode esperar.
As PPP rodoviárias têm sido, sem
excepção, um péssimo negócio para o Estado. A primeira obra neste modelo de
negócio foi a Ponte Vasco da Gama, contratualizada por Cavaco Silva e pelo seu
ministro Ferreira do Amaral. Foi o primeiro de muitos negócios ruinosos. Vieram
depois novas PPP: Guterres, Durão Barroso e Sócrates celebraram inúmeros
contratos de PPP, comprometendo as finanças públicas, enquanto os grupos
económicos que deles beneficiaram rejubilavam. Foi a era de ouro para a
Mota-Engil, Espírito Santo ou Grupo Mello, entre outros.
São vários os pecados originais dos
contratos. Por um lado, as taxas de rentabilidade garantidas aos privados são
excessivas, atingindo montantes de 14%, 15% ou mais, valores que até hoje se
mantêm. Acresce que, ao longo dos anos, através de renegociações sucessivas,
visando uma aparente "reposição de reequilíbrio financeiro" dos
contratos, o Estado tem transferido milhares de milhões para os privados. Só em
2011, pagou a mais em compensações aos concessionários cerca de 800 milhões de
euros, a somar ao que estava contratualizado. Um descalabro que se foi
repetindo em anos subsequentes. Finalmente, os contratos nem se deveriam
designar de “parcerias”, pois não há partilha de investimentos e de risco. Nos
contratos ainda em vigor, o Estado garante o pagamento pela disponibilidade da
via, ou seja, paga um “tráfego mínimo garantido”, haja ou não haja movimento.
Mas se esse valor estimado de tráfego for ultrapassado, as receitas já são...
divididas com o concessionário.
Não bastasse tudo isto, muitos dos
contratos de PPP são ilegais: incluem cláusulas confidenciais e remetem para
anexos igualmente secretos. Em alguns, não foi sequer respeitada a Lei de
Enquadramento Orçamental, não fazendo verter nos sucessivos Orçamentos do
Estado as responsabilidades plurianuais com as despesas respectivas.
Todas estas irregularidades só foram
possíveis face a uma enorme promiscuidade reinante entre a política e os
sectores financeiro e de construção de estradas. Os exemplos são por demais
escandalosos: Ferreira do Amaral, ministro das Obras Públicas de Cavaco Silva,
contratou a Ponte Vasco da Gama; é hoje presidente da Lusoponte, a
concessionária da mesma. O titular da pasta com Guterres, Jorge Coelho, é
administrador na Mota-Engil, maior construtor de PPP rodoviárias. A ele se
juntou o seu secretário de Estado Luís Parreirão, bem como o ministro de Durão
Barroso, Valente de Oliveira. O ex-presidente das Estradas de Portugal,
Almerindo Marques, transitou directamente para a privada Opway, empresa de PPP
do Grupo Espírito Santo. Em suma, os consecutivos responsáveis governamentais
pela pasta das Obras Públicas foram todos servir (e servir-se!) aqueles a quem
facultaram rendas fabulosas, à custa das PPP ruinosas para os contribuintes.
Só a extinção dos contratos de PPP
rodoviárias poderá pois resgatar e salvar as finanças públicas. Pelo que os
partidos que estiveram no poder nos últimos 20 anos (PS, PSD e CDS) têm de se
redimir das responsabilidades graves que têm nestes negócios perdulários. Devem
aliar-se aos que suportam a governação actual (Bloco e PC) e acabar com este
pesadelo.
Presidente da Frente Cívica
Comentário de João Portugal
Absolutamente!
O texto deste artigo, escrito pela
Presidente da Frente Cívica, revela dados absolutamente impossíveis de passarem
para o esquecimento, sem que o AUTOR ou alguma autoridade, toma as previdências
que o próprio propõe: A Extinção dos contratos de PPP Rodoviárias. É um
imperativo Nacional ! 10 milhões de Portugueses não podem aceitar semelhante
situação. Remetam JÁ o assunto para os Tribunais. Ninguém pode ficar
indiferente ao pagamento a MAIS, de 11 mil milhões de euros.
Um problema dificílimo de resolver. Os
antigos ministros conseguiam bons cargos no privado. Os futuros ministros
também esperam tal destino. Assim é difícil resolver as PPP....
Excelente chamada de atenção para o grau
em que as PPP são veículo de crime económico e atividade mafiosa em favor da
grande família saprófita do arco de governação. Deviam ser simplesmente
extintas, pelas várias razões listadas neste excelente artigo. Entre
privatizações como os da CTT, lavagem de impostos como faz a GALP em Amsterdão,
e as ruinosas PPP rodoviarias deste artigo, temos um cozinhado insalubre cuja
única função é criar rendas que alimentem estas elites. Ter a Comissão Europeia
e as Troikas a exigir que este caminho fosse seguido dá bem uma ideia do grau
em que estás práticas configuram um sistema político a uma escala neocolonial -
o tal "establishment".
Todos os responsáveis não devem ser
julgados pelo crime de "governação danosa"? Em Portugal os nossos
governantes podem ser "criminosos autorizados"? A eles não podem
assacadas responsabilidades criminais? Estão só sujeitos a responsabilidades
"pulhiticas" e inqueritos "paralamentares" da treta e para
a treta. Há que levar toda esta gente a tribunal, já.
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