Por norma ninho que uma
vez enjeite nunca mais ocupo. Sempre assim aconteceu comigo. Isto para dizer
que apesar da consideração com que fiquei por toda a vida em relação ao patrão
que tive em Nine, bastou o facto de certo dia me apetecer mudar de poleiro e
sem avisar abandonei o ninho para nunca mais lá voltar. Com certa facilidade de
adaptação e de relacionamento, onde quer que chegava fazia amizades e muitas
duradouras. Foi o caso do novo ninho que então arranjei em terras do Coronado (São
Mamede) ao tempo uma freguesia do concelho de Santo Tirso. Além da amizade
também a confiança que depositavam em mim valeu ser convidado pelos país de um
jovem que ia embarcar para Angola nessa ocasião para o acompanhar até Lisboa,
onde no Cais da Rocha apanhou o Príncipe Perfeito. Quando já em Santa Polónia
estava para apanhar o comboio de regresso ao norte, sou abordado por um
ferroviário de Nine que ver-me ali quis saber noticias minhas e vai de me convidar
a subir para a máquina e com ele vir de Lisboa até Campanhã a vê-lo, como
maquinista conduzir o comboio. Ficou a saber onde é que eu trabalhava pois
acontecer de nos encontrarmos uma vez por outra.
Pedi encarecidamente que
não desse a minha direção ao Sr. Luís. Prometeu que sim, mas passado um ou dois
dias lá tinha eu esse meu saudoso amigo na sua bicicleta motorizada a procurar
convencer-me regressar a Nine. Levou um não, motivado pela razão que já dei.
Mas vamos a falar de São Mamede do Coronado terra que foi abadia da
apresentação alternativa do papa, bispo e abade de São Romão de Vermoim. Gozou
do foral que D. Manuel concedeu à Maia em 1519, andou ligada ao julgado de São
Cristóvão do Muro e a Santo Tirso e desde 1998 faz parte do jovem concelho da
Trofa. Aqui vivi uns pares de anos bons e agradáveis onde fiz e deixei muitos
amigos que com os anos e a distância se foram deixando perder do contacto, mas
não da memória. O Zeca da Luz, o ti Epifânio, o saudoso António “barbeiro”, o
“Jornaleiro” do Casal, a Alice do Lavadouro, o Magalheiro, o Grilo, o “Londres”
e toda esta gentinha que do lugar do Casal eram habitantes. Ali convivi com
todos fazendo amigos e conhecendo pessoas que muito me estimaram. O Sr.
Camisão, na sua quinta, o santeiro José Thedim, autor da imagem de Nossa
Senhora de Fátima, na sua casa junto ao atelier, o Padre Joaquim de Sousa
Ferreira e Silva, tio de D. Serafim, bispo imérito de Leiria/Fátima, na sua
residência paroquial e na igreja; a todos os tive por amigos respeitáveis. E
outros como o ti Emídio Sousa, que deixou a fortuna a uma filha do ti Epifânio;
o Maia, que na pesca furtiva ficou sem uma mão, o Ferreira alfaiate, o Sr.
Assunção, que tinha um filho médico; tantos e tantos que já lhe perdi a conta.
Na altura eram famosos na terra, pela negativa, além do “Lestro”, também os
“Espanhóis”, figuras que davam hoje assunto para fazer uma novela se um bom
novelista pegassem a sério no fio da meada. Não se davam nem à bala, com um
vizinho que por apelido chamavam “Bodego”. Muitos tinham – lhe medo, mas eu
nunca tive queixa deles estimava-os como pessoas e eles a mim.
Outra freguesia que bem
conheci e sempre que viajava de comboio na sua estação o ia apanhar. Junto à
oficina do Monteiro, fabricante de maquinaria agrícola, como debulhadoras e
outras máquinas de grande porte, género Tramagal. Áh! Faltou-me falar do
Carneiro, de São Mamede que tinha uma fundição de metal na Trofa, e antes foi
madeireiro. Gabava-se de ter ganho muito dinheiro na compra de pinhais, da mãe
dos Maias de Mendrões, pagava melhor que nenhum outro, mas enquanto ela dormia
ele ia carregando. Como do Casal, tenho saudades do largo da Feira Nova ou Água
Levada, da Vila ou Igreja e daqueles lugares donde se petiscava e
confraternizava amistosamente. Memórias de tempos idos.
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