quinta-feira, 7 de junho de 2018

Dois pastores enxertados deram autores afamados


BARROSO da FONTE

Chamam-se: Cláudio Amílcar Carneiro e João de Deus Rodrigues. Nasceram na mesma década, no mesmo concelho (Macedo de Cavaleiros), vivem na mesma área urbana de Lisboa, ambos têm cerca de uma dezena de livros editados, em prosa e em verso e ambos acabam de publicar mais um livro: o Cláudio «Cantares da Minha Terra» e o João «Gente de Trás-os-Montes». Têm, ainda mais afinidades: sócios da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro, de Lisboa, membros efetivos da Academia de Letras de Trás-os-Montes, Transmontanos de fibra que não escondem o seu saudável bairrismo e um e outro, sempre presentes em bondade, em solidariedade e em dedicação à terra e as gentes a que pertencem.
Exemplos transparentes como estes, no que dizem, no que escrevem, no que fazem e naquilo pelo qual a sociedade os reconhece, são bem distintos de outros transmontanos que nas últimas quatro décadas, mancharam o nome da, até então, marca distintiva que era a Província de Trás-os-Montes e Alto Douro. Em qualquer parte dos países da Lusofonia, onde quer que estivesse um Transmontano e fosse preciso separar as águas agitadas, desde que lá se encontrasse um Transmontano, estava a situação resolvida. Fosse para pacificar, para reconciliar ou para dirimir contendas, esse era o escolhido para liderar, para representar ou mesmo para resolver os diferendos. Lamentavelmente esses bons exemplos foram traídos, enxovalhados, desacreditados por causa de três ou quatro gabirus que mancharam, para sempre, o nome mais honrado da geografia Portuguesa.
É por isso que nos apraz citar estes dois nomes que emergiram das terras nordestinas da Terra Fria. Cumpriram o destino de pastores, aprenderam a ler e a escrever, nos intervalos da pastorícia, das refeições, foram à guerra (dos outros) e, no regresso, entregaram-se à vida que suportaram com sacrifícios redobrados. Deixo aqui exarado este orgulho pessoal porque me revejo nele, por tê-lo cumprido com meus nove irmãos e tantos outros nossos conterrâneos, pois o drama de Barroso, da Terra Fria e arredores era comum às gentes do verdadeiro povo, de ontem e de hoje.
Receber, na mesma semana, dois livros cujos títulos enobrecem essas Gentes de Trás-os- Montes e esses Cantares da Minha Terra, aquele em prosa e este em verso, exige que exulte de júbilo para reabilitar o Transmontanismo, enquanto os tribunais não separem o trigo do joio. Estes três pastores não traíram as origens. Não tiveram tempo de ser meninos, nem mandaram escrever livros e vendê-los, através dos amigalhaços, para iludir as contas bancárias, de falsários sem vergonha.
 Cláudio Carneiro, em 240 páginas, numa leveza, finura e harmonia deslumbrantes, nomeadamente nas modalidades da quadra popular e do soneto esparge meia centena de poemas, cada qual o mais harmonioso e fecundo. Não conheço mais de meia dúzia de Poetas nacionais - e convivo com centenas deles nos 65 anos de autor - que trabalhem o soneto com tanto vigor, tanta musicalidade e tão grande harmonia temática.
Adriano Moreira, o mais idoso, o mais popular e o maior talento intelectual português vivo, também Transmontano, em duas cartas que remeteu ao Poeta destes Cantares da Minha Terra, afirmou-lhe este mesmo encantamento: «meu caríssimo Cláudio Carneiro: com uma vida tão rica e tão dispersa por terras que foram da responsabilidade portuguesa, o seu vínculo à nossa Terra Transmontana deu-lhe um talento enorme para «O Despertar da Alma Portuguesa». Todos temos de lhe estar agradecidos».
João de Deus Rodrigues exprime, em prosa vernácula, límpida e reluzente, idênticos sentimentos e emoções telúricas, nos catorze contos (episódios ficcionados), deste seu 13º livro. É uma vibrante canção poética, em prosa escorreita e sedutora, porque não recorre a estrangeirismos, a neologismos ou a outros preciosismos que grassam por aí, numa incontornável proliferação lexical.
Logo na página 13, João Rodrigues, invoca outro inconfundível autor Transmontano, Miguel Torga:
«nós podemos, sem atraiçoar o passado, recolher do passado o que ele tem de eterno».
A coincidência destes dois livros de autores vizinhos que nasceram ao pé da porta e ao pé da porta regressam, sempre que podem, quase gémeos no amor às origens, que galgaram os mares em defesa da Pátria, como era seu dever e que cumpriram vivências quase afins, irrepreensíveis e exemplares, legando testemunhos vivos nestas páginas gloriosas da epopeia Nacional, é um facto e um feito para que os distribuidores de comendas, de medalhões e de cifrões repensem nas injustiças sociais.
  Barroso da Fonte

1 comentário:

  1. Claro que há privilegiados e o meu amigo, Doutor Barroso da Fonte bem merece. Dia 14 vou assistir a mais o lançamento de um bom livro do amigo, João de Deus. O Amigo Cláudio Carneiro trazia-me preocupado, por não ter aparecido no IV Congresso. Felizmente está vivo e em forma. Parabéns aos dois amigos macedenses pelos seus novos livros e ao Doutor Barroso da Fonte pela dedicação e atenção aos nossos talentos. Jorge Lage

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