BARROSO da FONTE |
Chamam-se: Cláudio
Amílcar Carneiro e João de Deus Rodrigues. Nasceram na mesma década, no mesmo
concelho (Macedo de Cavaleiros), vivem na mesma área urbana de Lisboa, ambos
têm cerca de uma dezena de livros editados, em prosa e em verso e ambos acabam
de publicar mais um livro: o Cláudio «Cantares da Minha Terra» e o João «Gente
de Trás-os-Montes». Têm, ainda mais afinidades: sócios da Casa de
Trás-os-Montes e Alto Douro, de Lisboa, membros efetivos da Academia de Letras
de Trás-os-Montes, Transmontanos de fibra que não escondem o seu saudável
bairrismo e um e outro, sempre presentes em bondade, em solidariedade e em
dedicação à terra e as gentes a que pertencem.
Exemplos
transparentes como estes, no que dizem, no que escrevem, no que fazem e naquilo
pelo qual a sociedade os reconhece, são bem distintos de outros transmontanos
que nas últimas quatro décadas, mancharam o nome da, até então, marca
distintiva que era a Província de Trás-os-Montes e Alto Douro. Em qualquer
parte dos países da Lusofonia, onde quer que estivesse um Transmontano e fosse
preciso separar as águas agitadas, desde que lá se encontrasse um Transmontano,
estava a situação resolvida. Fosse para pacificar, para reconciliar ou para
dirimir contendas, esse era o escolhido para liderar, para representar ou mesmo
para resolver os diferendos. Lamentavelmente esses bons exemplos foram traídos,
enxovalhados, desacreditados por causa de três ou quatro gabirus que mancharam,
para sempre, o nome mais honrado da geografia Portuguesa.
É por isso que nos
apraz citar estes dois nomes que emergiram das terras nordestinas da Terra
Fria. Cumpriram o destino de pastores, aprenderam a ler e a escrever, nos
intervalos da pastorícia, das refeições, foram à guerra (dos outros) e, no
regresso, entregaram-se à vida que suportaram com sacrifícios redobrados. Deixo
aqui exarado este orgulho pessoal porque me revejo nele, por tê-lo cumprido com
meus nove irmãos e tantos outros nossos conterrâneos, pois o drama de Barroso,
da Terra Fria e arredores era comum às gentes do verdadeiro povo, de ontem e de
hoje.
Receber, na mesma
semana, dois livros cujos títulos enobrecem essas Gentes de Trás-os- Montes e
esses Cantares da Minha Terra, aquele em prosa e este em verso, exige
que exulte de júbilo para reabilitar o Transmontanismo, enquanto os tribunais
não separem o trigo do joio. Estes três pastores não traíram as origens. Não
tiveram tempo de ser meninos, nem mandaram escrever livros e vendê-los, através
dos amigalhaços, para iludir as contas bancárias, de falsários sem vergonha.
Cláudio Carneiro, em 240 páginas, numa leveza,
finura e harmonia deslumbrantes, nomeadamente nas modalidades da quadra popular
e do soneto esparge meia centena de poemas, cada qual o mais harmonioso e
fecundo. Não conheço mais de meia dúzia de Poetas nacionais - e convivo com
centenas deles nos 65 anos de autor - que trabalhem o soneto com tanto vigor,
tanta musicalidade e tão grande harmonia temática.
Adriano Moreira, o
mais idoso, o mais popular e o maior talento intelectual português vivo, também
Transmontano, em duas cartas que remeteu ao Poeta destes Cantares da Minha
Terra, afirmou-lhe este mesmo encantamento: «meu caríssimo Cláudio
Carneiro: com uma vida tão rica e tão dispersa por terras que foram da
responsabilidade portuguesa, o seu vínculo à nossa Terra Transmontana deu-lhe
um talento enorme para «O Despertar da Alma Portuguesa». Todos temos de lhe
estar agradecidos».
João de Deus
Rodrigues exprime, em prosa vernácula, límpida e reluzente, idênticos
sentimentos e emoções telúricas, nos catorze contos (episódios ficcionados),
deste seu 13º livro. É uma vibrante canção poética, em prosa escorreita e
sedutora, porque não recorre a estrangeirismos, a neologismos ou a outros
preciosismos que grassam por aí, numa incontornável proliferação lexical.
Logo na página 13,
João Rodrigues, invoca outro inconfundível autor Transmontano, Miguel Torga:
«nós podemos, sem
atraiçoar o passado, recolher do passado o que ele tem de eterno».
A coincidência
destes dois livros de autores vizinhos que nasceram ao pé da porta e ao pé da
porta regressam, sempre que podem, quase gémeos no amor às origens, que
galgaram os mares em defesa da Pátria, como era seu dever e que cumpriram
vivências quase afins, irrepreensíveis e exemplares, legando testemunhos vivos
nestas páginas gloriosas da epopeia Nacional, é um facto e um feito para que os
distribuidores de comendas, de medalhões e de cifrões repensem nas injustiças
sociais.
Barroso da Fonte
Claro que há privilegiados e o meu amigo, Doutor Barroso da Fonte bem merece. Dia 14 vou assistir a mais o lançamento de um bom livro do amigo, João de Deus. O Amigo Cláudio Carneiro trazia-me preocupado, por não ter aparecido no IV Congresso. Felizmente está vivo e em forma. Parabéns aos dois amigos macedenses pelos seus novos livros e ao Doutor Barroso da Fonte pela dedicação e atenção aos nossos talentos. Jorge Lage
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