por Pedro Correia - Delito de Opinião
Acabo de ver e ouvir uma arrepiante reportagem emitida no Jornal da Noite da SIC sobre a vida faustosa e totalmente dissociada da realidade que José Sócrates Pinto de Sousa levou nos anos e meses que antecederam a sua detenção, em Novembro de 2014, no âmbito da Operação Marquês.
Este indivíduo que se considerava um "pobre provinciano", talvez em involuntário plágio de uma célebre citação de Salazar, chegou a ter gastos de 26 mil euros mensais, dissipou 52 mil euros num ano e meio, e recorria a todo o tempo ao misterioso "engenheiro Carlos Santos Silva" - seu suposto amigo de quatro décadas, "um homem de posses", segundo declarou aos autos policiais o ex-chefe do Governo. Que, mesmo com a conta pessoal a zero, avançava para uma proposta de compra de uma sumptuosa quinta nos arredores de Tavira, disposto a pagar por ela a módica quantia de 900 mil euros.
Entretanto ia ligando ao amigo, exigindo em linguagem cifrada dinheiro, sempre mais dinheiro, cada vez mais dinheiro - com uma "sede de anteontem", como cantava Chico Buarque. Só em 2014, o tal amigo remeteu-lhe 47 cheques num valor próximo de meio milhão de euros.
Mesmo assim, na noite em que foi detido, Sócrates já vira novamente a luz vermelha acesa na sua conta bancária: 12 mil euros por saldar, um sorvedouro sem fim.
Nos quatro anos anteriores à detenção, um milhão e 200 mil euros em cerca de 150 cheques - com a proveniência de sempre - chegaram em dinheiro vivo às mãos deste político que acumulava uma "rede de amigas" sequiosas de notas bancárias e a quem ele se limitava a retorquir para lhes satisfazer a característica cobiça de qualquer alpinista social: "Tenho de falar ao Carlos."
O dinheiro aparecia, mas nunca em quantidade suficiente para saciar a inesgotável ganância de tais "amigas". Nem do auto-intitulado "animal feroz", que fazia questão em viver mergulhado num luxo depredatório - em Paris, Veneza, Suíça, Quénia, Baleares e Algarves - e comprar favores a terceiros com dinheiro que formalmente nunca foi seu mas de que usufruía com a prodigalidade de um senhor feudal.
Repito: é uma arrepiante reportagem, que constitui serviço público. Assinada por três jornalistas conceituados: Luís Garriapa, Amélia Moura Ramos e Sara Antunes de Oliveira.
Vejo-a e escuto-a com atenção. E questiono-me: como foi possível este homem totalmente descontrolado nas contas privadas e que durante anos cultivou um nível de vida muito acima das suas posses, sem fazer a mais remota ideia do valor do dinheiro, ter sido durante seis anos primeiro-ministro de Portugal?
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