MIT Portugal e as parcerias internacionais de que poucos falam, mas tanto dão ao país
por Alexandre Guerra - Delito de Opinião
Quando li há dias que arrancou a segunda fase do Programa MIT Portugal, prevendo-se mais dez anos de parceria entre universidades, investigadores nacionais e aquele prestigiado instituto, fiquei francamente contente, porque tive o privilégio de ter contribuído para o arranque desse projecto. O MIT Portugal, lançado em 2006, é considerado um caso de sucesso, sobretudo por duas razões: permitiu às universidades e investigadores nacionais terem acesso ao conhecimento e práticas geradas no MIT; trouxe para o nosso país uma cultura de relacionamento íntimo entre a academia/investigação e o desenvolvimento empresarial. Não é de estranhar que na altura do seu lançamento, o MIT Portugal tenha sido alvo de algumas críticas provenientes de uma certa academia mais conservadora, instalada nos seus feudos, onde o mais importante era manter um determinado status quo de interesses, pouco dada a privilegiar a produção de mais-valias de conhecimento ao serviço de soluções tecnológicas empresariais. O MIT Portugal foi a maior das quatro grandes parcerias internacionais que Portugal celebrou há doze anos (Austin Texas, Carnegie Mellon e Fraunhofer, foram as outras três que agora também foram renovadas), tendo os responsáveis daquela instituição de Massachusetts reconhecido com particular interesse as especificidades deste Programa face a outros do género em diferentes partes do mundo.
Acompanhei o processo praticamente desde o início, enquanto consultor de comunicação do MIT Portugal, já que a agência onde trabalhava tinha precisamente acabado de ganhar essa “conta”. Foi uma experiência enriquecedora, onde foi possível perceber as diferenças abissais entre os modelos das duas academias, sobretudo o pragmatismo, a simplicidade e a simpatia na forma de trabalhar dos responsáveis e investigadores do MIT. A mim, enquanto responsável pela comunicação do Programa, cabia-me “puxar” pelo MIT Portugal, comunicá-lo nas suas diferentes vertentes, contando histórias de projectos, promovendo entrevistas e conversas com investigadores do MIT, organizando conferências, entre tanta outra coisa. Tudo isto, naturalmente, sempre em contacto permanente com os meus homólogos no MIT, em Boston, além do acompanhamento próximo da tutela, nomeadamente do saudoso ministro Mariano Gago, um homem do conhecimento e que importante legado deixou com estas parcerias. Anos depois, quando a vida profissional me levou por outros caminhos e deixei de trabalhar com o MIT Portugal, senti que o Programa tinha ganho fôlego e estava no bom caminho, embora pairassem muitas dúvidas quanto à sua continuidade por causa de questões de financiamento. De vez em quando ia acompanhando o “estado da arte” daquele Programa e ficava com a sensação de que alguns agentes da sociedade portuguesa, empresas e media nunca reconheceram a verdadeira importância destas parcerias internacionais. Infelizmente, e atendendo à falta de massa crítica nesses círculos, continua-se a assistir à primazia de acontecimentos mediatos e mediáticos, de fácil consumo e muito “trendy”, mesmo que poucos ou nulos resultados produzam para o conhecimento e tecido económico nacional.
No que me toca, gosto de enaltecer o bom trabalho que é feito em prol do conhecimento sólido e do desenvolvimento empresarial sustentável, com base na verdadeira inovação e não em clichés. Doze anos após a criação do MIT Portugal e das outras parcerias internacionais, e depois de muito trabalho, o retorno para a sociedade portuguesa é inegável, tendo sido formados centenas de mestres e doutores, produzidos papers, feitas descobertas científicas e geradas soluções inovadores, e criadas centenas de startups, algumas delas a valerem mais do que empresas cotadas no PSI20. Provavelmente, uma Web Summit (que tem muitas virtudes) nunca irá gerar este tipo de riqueza para o país, mas veja-se a atenção, os recursos e o foco que tal iniciativa mobiliza. Ou ainda, a forma como os media e agentes políticos não hesitam em abraçar a criação de startups da “moda” que tão rapidamente aparecem como desaparecem, sem terem deixado qualquer mais-valia para Portugal. Agora, se o leitor pensar bem, quantas vezes ouviu falar do MIT Portugal? Quantas reportagens viu sobre as parcerias com Carnegie Melon ou Austin Texas? Quantas empresas nascidas destas parcerias mereceram a atenção da classe política ou das elites? O leitor já ouviu falar na Veniam? Vale 118 milhões. E da Feedzai? Vale 508 milhões de euros. Dá que pensar, mas é precisamente a pensar que estas parcerias internacionais conseguiram gerar estas empresas
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