BARROSO da FONTE |
Foi em 6 de
Dezembro de 1185 que morreu o Fundador de Portugal. Na FNAC de Guimarães, será
apresentado às 18,30 h o livro sobre a Saga da Santidade de D. Afonso Henriques
que pretende invocar essa data e esclarecer a comunidade científica de que, em
Julho de 1728, foi defendida e editada, em Roma, uma tese doutoral onde se
demonstra que o nosso primeiro Rei,foi «Pio, Beato e Santo». Essa tese foi
investigada pelo Teólogo Vimaranense e Cavaleiro da Ordem de Cristo José Pinto
Pereira que foi destacado durante 29 anos pela Cúria Romana.
Com base nas
muitas lendas e indícios de santidade, entre o nascimento, em 25 de Julho, em
Guimarães e a sua morte em Coimbra, em 6 de Dezembro de 1185, o nosso primeiro
monarca, sob o signo da predestinação, tudo fez para autonomizar o novo
Reino, tudo tendo feito, em ordem ao
bem-estar do povo e à expansão da religião católica.
Foram dez os argumentos em que esse Teólogo se
apoiou para concluir que Afonso Henriques não teve vida fácil, mas sempre agiu
em conformidade com os princípios da sã convivência humana e divina.
Desde a
Batalha de Ourique, em 25 de Julho de 1139 , em que venceu os cinco reis
Mouros, até ao encontro, do seu Corpo, incorrupto, na Igreja de Coimbra, onde
jaz, foram dois dos indícios de Santidade analisados.
A essa tese
chamou o Teólogo José Pinto Pereira Lusitano:«Aparato Histórico». Foi escrito
em Latim, o que terá contribuído para se manter inacessível à comunidade
científica, quer nacional quer estrangeira.
Durante 283 anos, embora publicada, em Roma, na Tipografia Rochi
Berrnabò, em MDCCXXVIII (1728), a obra foi engavetada.
O autor
esclarece que referiu «estes favores extraordinários, não só em vida, como
depois da morte, referidos neste Aparato na mesma língua em que foram escritos,
para que nem um só jota ou ápice faltasse na Versão; esta será talvez dada
depois em idioma Latino em favor dos Estrangeiros para os quais o nosso e o
Espanhol ou não são suficientemente conhecidos ou absolutamente estranhos».
José Pinto Pereira explica por estas palavras
as razões de escrever o livro em Latim, a pensar nos estrangeiros visto que por
essa altura nem a Língua espanhola nem a portuguesa, tinham a importância que
têm hoje.
Fosse como
fosse, já passaram 832 anos desde a morte do Rei Fundador de Portugal. E já passaram
878 desde que lhe apareceu, na véspera da Batalha de Ourique, a hierofania da
visão divina a garantir-lhe que iria vencer os cinco reis mouros, o que se
concretizou. Desde essa altura brotaram os primeiros perfumes da santidade que
até hoje se adensaram na opinião pública.
José Pinto Pereira confrontou-se com essa
dúvida que chegou até nós. Mas ele por ser Teólogo, por ser cavaleiro da Ordem
de Cristo e, nessas circunstâncias privilegiadas, conhecer as regras, os
métodos e as formas de agir, investigou
até à exaustão, as lendas, os mitos e as tradições, para que, separando às
águas, pudesse chegar a conclusões.
Só motivações
de força maior poderiam interromper aquilo que era fácil: iniciar o processo de
beatificação, a exemplo de outros casos, como foi, entre nós, o do beato D.
Nuno de Santa Maria.
88 anos antes
desta tese favorável à beatificação de D. Afonso Henriques, tinha-se travado a
guerra da Restauração. Ainda não tinham sarado as feridas entre Portugueses e
Espanhóis. D. João V ainda não estava em condições de falar de igual para igual
com Filipe IV. E para que o Papa Bento XIII pudesse dar seguimento ao processo
de beatificação de D. Afonso Henriques, era necessário que a Santa Sé que liderava
os destinos dos Povos, gozasse do clima favorável ao entendimento. Nessa altura
o Vaticano funcionava como funciona hoje a União Europeia. Os países eram
representados através das nunciaturas, normalmente, chefiadas por um cardeal.
Tratando-se
de homens,mesmo no interior da Igreja Católica, algumas vezes houve
divergências com sangue e pancadaria. Por essa altura os cargos hierárquicos
eram preenchidos por interesse político. E nem sempre eram defendidos os
valores essenciais. Foi o caso.
Vicente Bichi
quando liderara a nunciatura Suíça (1703), como Monsenhor, foi acusado, por
vários dos seus pares de vender as indulgências, bulas e atos afins, o que
constituía graves afrontas, aos católicos. O Papa transferiu-o em 1709, para
Lisboa, onde continuou a praticar os vícios de que fora acusado. Inicialmente o
Rei D. João V foi um dos contestatários. Mas quando quis ter em Lisboa uma
nunciatura forte e influente, mudou de
ideias, por saber que Bichi tinha esses defeitos. Mas, por outro lado, era o
Cardeal capaz de transformar a
nunciatura de Lisboa, numa frente de relevância para impor D. João V, ao nível
dos melhores reis da Europa. Em 1719 D. João V não permitiu que Bichi deixasse
Lisboa, enquanto a Santa Sé não promovesse Bichi ao Cardinalato que o rei lhe
prometera.
Em 1720 o
Papa Clemente XI chamou Bichi a Roma e nomeou para o seu lugar, em Lisboa,
Giuseppe Firrao. D. João V não gostou da troca e assim se mantiveram as
relações. Nem Bichi saiu, nem Firrao entrou. No ano seguinte morreu o Papa que
não chegou a ver cumprida a sua ordem. Com a nomeação de Inocêncio XIII para
Papa, que fora Núncio em Lisboa, entre 1697 e 1710, limitou-se a confirmar
Firrao como Núncio, mas D. João V continuou a rejeitar a substituição de Bichi
por aquele. Em 1724 morre o Papa Inocêncio XIII, dando lugar a Bento XIII, que
tinha ascendência real portuguesa por descender de El- Rei D. Dinis.
A situação transformou-se num caso diplomático
que enfureceu o Rei português, a ponto de cortar as relações coma Santa Sé.
Fechou a nunciatura de Lisboa, ordenou o regresso de todos os súbditos,
eclesiásticos e leigos e foi total o corte de relações com o Vaticano. Bento
XIII pediu a mediação de Filipe V de Espanha. Mas D. João V não se sujeitou a
essa humilhação. Ele que durante o seu longo reinado, entre 1706 e 1750, mandou
para o Vaticano somas fabulosas de que Portugal tanto precisava, fez com que
esse corte de relações, coincidindo com o aparecimento do Aparato Histórico,
nem Bento XIII, nem os seus sucessores dessem seguimento ao processo que em1728
estava organizado para a beatificação de D. Afonso Henriques.
A causa direta foi a fação do Cardeal
Polignac que era embaixador de França, em Roma, entre 1724 e 1732 e sempre fora
contrário às ideias e práticas de Vicente Bichi. Dois cardeais às avessas que
estiveram na origem da interrupção do processo que só em 2011 levou à
descoberta do Aparato Histórico sobre a Santidade de D. Afonso Henriques.
Nestes quase 300 anos do silenciamento desta
tese, impressa e prontinha a circular, nomeadamente pelas universidades
Portuguesas, continuou a especular-se muito, com palpites e teorias sem pés nem
cabeça. Travámos essas atoardas, contra ventos e marés, desde1990.
Um punhado de Vimaranenses não alinhou com
essas tentativas de mercantilizar a história, ou de fabricar heróis de cera, na
presunção de que pegariam de estaca, desde que se arranjassem apoios
científicos. Houve tentativas falhadas, ipso facto.
O Aparato
Histórico vem responder a essas e outras questões, sem encargos públicos, sem
congressos ou seminários, sem enciclopédias ou manuais profusamente
publicitados. Os chamados historiadores biscateiros são cidadãos comuns.
Fica o repto para que se constitua uma
Comissão especializada que retome o processo interrompido em 1728.
Este desafio
deve-se à Fundação Lusíada e à Ordem de Ourique cujo Fundador e Presidente - Doutor Abel de Lacerda Botelho, - aqui se
deslocou, ainda a refazer-se de uma melindrosa operação Cirúrgica.
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