BARROSO da FONTE |
As primeiras fazem falta porque educam,
esclarecem, formam e informam. As segundas entretêm as crianças, promovem a
beleza feminina e consolam os sonhos de quantos acreditam no seringador.
Antes da revolução dos cravos eram poucas.
Mas a emigração e a guerra do ultramar tiveram nessas publicações, clientes
fiéis, porque privilegiavam folhetins romanescos, os aerogramas das madrinhas
de guerra e as estórias narradas por desertores que se manifestavam de qualquer
maneira para alimentar a insurreição.
As chamadas revistas cor-de-rosa
proliferam hoje por geração espontânea. Mesmo assim, de vez em quando, inserem
notícias que servem para denunciar situações anómalas da sociedade civil.
Um exemplo elucidativo.
A TV7dias de 19/11 traz em manchete na 1ª
página, a foto de Tony Carreira que está a ser investigado por «Fuga ao
Fisco. Depois do escândalo dos plágios, é agora a vez das Finanças, caírem em
cima do cantor». A denúncia revela suspeitas de evasão fiscal em mais de 25
milhões de euros».
No interior, pp. 124/127, diz-se que «pelo
menos nos últimos 8 anos consecutivos, faz evasão fiscal sistemática quando
atua para Comissões de festas e entidades privadas que não querem pagar IVA. E
quando são celebrados contratos com as câmaras municipais».
Os canais televisivos têm programas, quase
diários, com cantores portugueses (e não só). Quim Barreiros, Tony Carreira,
Marisa, Toy, Ágata, etc desfilam, diariamente, por esses palcos da fama. E
muito bem, porque a música é uma arte, quase divina. E, quando bem
interpretada, deve ser aplaudida porque cumpre a sua função social. Mas essas
exibições devem ser pagas e faturadas, porque como profissionais da música, os
cantores têm direito a ser remunerados, tal como devem, descontar os impostos
instituídos. Por semelhança devem ser remunerados nos espetáculos públicos,
contratados pelas autarquias, comissões de festas, ou outros eventos.
Sobretudo em anos de eleições, como foi
este ano que corre. As autarquias do interior do país contrataram, alguns
desses artistas mais populares, provavelmente pelos políticos em exercício e
com vista a cativar aderentes.
Tony Carreira que anda nas bocas do mundo
por ser um artista popular, anda também, nesta dupla geringonça que lhe ofusca o
mérito, fora da lei, ao abusar dos direitos de autores alheios e de fuga ao
fisco.
Em 12 de Agosto propiciou um espetáculo
que marcou a abertura da campanha eleitoral em Montalegre. De lá até ao
momento, nunca mais houve paz social no concelho. Juntamente com as festas do
Senhor da Piedade, no Parque de Merendas, onde se fez a apresentação dos
candidatos. O que sucedeu neste concelho fronteiriço do norte do país, terá acontecido, em muitos
outros, e com todos os executivos municipais, sejam de direita, de centro ou de
esquerda. Nem apontamos aqui este exemplo por razões clubistas. Mas por
conhecer bem este caso em particular e por termos assistido ao espetáculo que
teve muito público. É que este tipo de encargos não aparece descriminado na
contabilidade municipal. É, pois, um tema
de cariz político que merece ser tratado com rigor pela transparência
que se exige aos gastos da qualquer comunidade.
Não pode exigir-se ao cidadão comum que
pague iva pelos produtos que consome, no dia a dia, e fecha os olhos a esquemas
contratados à margem das leis, por autarquias, comunidades ou comissões de
festas, que exercem a sua influência sobre
quem presta serviços remunerados.
É muito difícil, nos dias que passam,
controlar a autoria de músicas, letras, de textos. Essas dificuldades tornam-se
cada vez mais difíceis de evitar.
Tony Carreira caiu em desgraça quando
plagiou onze músicas e letras, de autores estrangeiros que souberam do abuso e
aplicaram a lei. São erros que se pagam caro e que fragilizam a personalidade
de quem os comete.
Os serviços públicos tão exigentes com os
indefesos, devem ser responsabilizados pelo incumprimento na aplicação da lei.
É por essas e por outras que a sociedade portuguesa anda desacreditada. E esse
descrédito começa no primeiro ministro e acaba no mais ingénuo cidadão.
A justiça que deveria ser rápida,
igualitária, proporcional e cega, acompanha, por mais incrível que pareça, a
ineficácia, a incoerência e a lentidão.
Os mais hediondos crimes, os mais
flagrantes exemplos e as mais bizarras sentenças, são tomadas a destempo, contra o senso comum e,
algumas, tão desajustadas que acabam por irritar quem merecendo justiça, se vê
injustiçado, perante a pena suspensa, do infrator confesso.
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