JORGE LAGE |
Fui criado na aldeia num período em que a limpeza
para muita gente era mais desmazelada que hoje. Numa casa de lavoura havia
sempre um ou dois cães. Lembro-me que o meu avô materno dava melhor tratamento
ao cão do que tinham muitas pessoas. Bem nutrido e tinha uma casota para dormir
num canto do curral. Contudo, o meu Avô, Manuel, nunca permitiu que o cão
entrasse sequer na varanda da casa quanto mais na cozinha, sala ou quartos.
Essa cultura foi a que a minha Mãe me transmitiu. Se um filho meu, um dia meter
um cão em casa sabe que eu não entrarei lá. Aliás, não vejo porque uma ovelha,
uma cabrita, um cavalo, uma vaca ou um cavalo serão menos que um cão? A recente
lei aprovada por gente da Assembleia da República em que quem decide se os cães
entram num restaurante são os donos é de uma hipocrisia atroz. Essa gente
ronceira lança o odioso para os donos dos restaurantes. Sendo assim, vai
depender da disposição do dono e qualquer pessoa pode ser incomodada, a meio
duma refeição por um cão. Esperam-se as cenas caricatas e ninguém está livre de
ser mordido por um animal que se acirra ou apanhar uma camada de pulgas ou o
odor desagradável a cão. Depois o cheiro começa a entranhar-se… Pouca diferença
haverá entre alguns restaurantes e os canis bem tratados. Da minha parte, a
partir de agora só tenho que perguntar ao gerente do restaurante, café ou
pastelaria se aceita cães dentro. Em caso afirmativo eu não entro. Já agora,
para rentabilizar a entrada dos novos inquilinos arranjem-lhe talheres e guardanapos
apropriados, porque alguns donos vão sentá-los à mesa com eles, como fazem nas
suas casas. Sei de pessoas que dormem com eles entre os lençóis e outras
utilizam-nos para fantasias e bizarrices. Era bem melhor que os partidos do
poio se interessassem por os espaços públicos, mantendo-os limpos, não os
transformando em cagadouros. Muitas vezes, sou obrigado a caminhar pela
estrada, desviando-me do passeio por estar cheio de trampa de cão. Os cães
passaram a ocupar o lugar que tinham os velhos nas famílias. Hoje, os velhos
são despejados em armazéns e as casas enchem-se de cães. Se acham que sou
exagerado no que digo, observem quem passa na rua ou passeia num parque
público. Ver um velhinho ser acompanhado por um filho ou neto é raro. Cães
acompanhados pelos donos são aos magotes. Na minha rua um espécimen sai várias
vezes por dia com o cão a «arejar» e, em década e meia nunca o vi com a mãe
velhinha, seja a que hora for. Prefiro não comer a entrar num restaurante
canil. Deixo o provérbio: «cada macaco em seu galho»!
Jorge Lage – jorgelage@portugalmail.com –
25OUT2017
Provérbios
ou ditos:
Novembro vem do latim
«november», por ser o nono mês do antigo calendário romano. Era com este mês que começava o novo ano do
calendário celta , com as festividades do Samhain, a meio caminho entre o
equinócio de Verão e o solstício de Inverno.
Desde que a castanha estoira, leve o diabo o que ela tem
dentro.
Em Novembro quem não semeou, que não semeie!
O vinho é festa e o azeite é ouro.
Barriga
de Aluguer
Já não há Mães... de
sempre heroificada,
Pela força da lei, hoje a
mulher
Não passa de barriga de
aluguer
Sem direito à criança em
si gerada.
A Mulher-Mãe, imagem
consagrada,
Tornada agora, sem o
entender,
Desprezível e vil verbo-de-encher,
Bateu no fundo, para lá
do nada.
O seu corpo, por digna
condição,
Fonte de vida, após a
parição,
Qual bezerra, sem cria,
volta à corte.
Maldita seja a lei, quem
a criou,
Quem votou nela e mais
quem a apoiou
E a sua descendência, em
vida e morte!
Cláudio Carneiro, in «O
Despertar da Alma Portuguesa». O Soneto tinha como título «Já não há Mães», que
decidi alterar por ser um título com mais expressão em relação ao conjunto do
texto poético.
Jorge Lage – jorgelage@portugalmail.com –
25OUT2017
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