quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Restaurantes Canis


JORGE LAGE
Fui criado na aldeia num período em que a limpeza para muita gente era mais desmazelada que hoje. Numa casa de lavoura havia sempre um ou dois cães. Lembro-me que o meu avô materno dava melhor tratamento ao cão do que tinham muitas pessoas. Bem nutrido e tinha uma casota para dormir num canto do curral. Contudo, o meu Avô, Manuel, nunca permitiu que o cão entrasse sequer na varanda da casa quanto mais na cozinha, sala ou quartos. Essa cultura foi a que a minha Mãe me transmitiu. Se um filho meu, um dia meter um cão em casa sabe que eu não entrarei lá. Aliás, não vejo porque uma ovelha, uma cabrita, um cavalo, uma vaca ou um cavalo serão menos que um cão? A recente lei aprovada por gente da Assembleia da República em que quem decide se os cães entram num restaurante são os donos é de uma hipocrisia atroz. Essa gente ronceira lança o odioso para os donos dos restaurantes. Sendo assim, vai depender da disposição do dono e qualquer pessoa pode ser incomodada, a meio duma refeição por um cão. Esperam-se as cenas caricatas e ninguém está livre de ser mordido por um animal que se acirra ou apanhar uma camada de pulgas ou o odor desagradável a cão. Depois o cheiro começa a entranhar-se… Pouca diferença haverá entre alguns restaurantes e os canis bem tratados. Da minha parte, a partir de agora só tenho que perguntar ao gerente do restaurante, café ou pastelaria se aceita cães dentro. Em caso afirmativo eu não entro. Já agora, para rentabilizar a entrada dos novos inquilinos arranjem-lhe talheres e guardanapos apropriados, porque alguns donos vão sentá-los à mesa com eles, como fazem nas suas casas. Sei de pessoas que dormem com eles entre os lençóis e outras utilizam-nos para fantasias e bizarrices. Era bem melhor que os partidos do poio se interessassem por os espaços públicos, mantendo-os limpos, não os transformando em cagadouros. Muitas vezes, sou obrigado a caminhar pela estrada, desviando-me do passeio por estar cheio de trampa de cão. Os cães passaram a ocupar o lugar que tinham os velhos nas famílias. Hoje, os velhos são despejados em armazéns e as casas enchem-se de cães. Se acham que sou exagerado no que digo, observem quem passa na rua ou passeia num parque público. Ver um velhinho ser acompanhado por um filho ou neto é raro. Cães acompanhados pelos donos são aos magotes. Na minha rua um espécimen sai várias vezes por dia com o cão a «arejar» e, em década e meia nunca o vi com a mãe velhinha, seja a que hora for. Prefiro não comer a entrar num restaurante canil. Deixo o provérbio: «cada macaco em seu galho»!
Jorge Lage – jorgelage@portugalmail.com – 25OUT2017


Provérbios ou ditos:

Novembro vem do latim «november», por ser o nono mês do antigo calendário romano. Era  com este mês que começava o novo ano do calendário celta , com as festividades do Samhain, a meio caminho entre o equinócio de Verão e o solstício de Inverno.
      Desde que a castanha estoira, leve o diabo o que ela tem dentro.
      Em Novembro quem não semeou, que não semeie!
      O vinho é festa e o azeite é ouro.

 
Barriga de Aluguer

Já não há Mães... de sempre heroificada,
Pela força da lei, hoje a mulher
Não passa de barriga de aluguer
Sem direito à criança em si gerada.

A Mulher-Mãe, imagem consagrada,
Tornada agora, sem o entender,
Desprezível  e vil verbo-de-encher,
Bateu no fundo, para lá do nada.

O seu corpo, por digna condição,
Fonte de vida, após a parição,
Qual bezerra, sem cria, volta à corte.

Maldita seja a lei, quem a criou,
Quem votou nela e mais quem a apoiou                                    
E a sua descendência, em vida e morte!

Cláudio Carneiro, in «O Despertar da Alma Portuguesa». O Soneto tinha como título «Já não há Mães», que decidi alterar por ser um título com mais expressão em relação ao conjunto do texto poético.

Jorge Lage – jorgelage@portugalmail.com – 25OUT2017

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