quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Lembranças de Sião


Miguel Esteves Cardoso – jornal Público

Roger Waters é um músico rancoroso e atrabiliário cuja profissão é zangar-se com o mundo inteiro. Ultimamente tem feito tudo o que pode para impedir outros músicos de fazer concertos em Israel.
Por muitos sermões mal informados que ele pregue, o efeito tem sido o contrário. Nick Cave, por exemplo, fez questão de explicar que Waters e companhia têm convencido muita gente a fazer exactamente o contrário do que querem.
Também Thom Yorke dos Radiohead tem tentado explicar a Waters que cada um tem cabeça para pensar e é para isso que servem as cabeças: para pensar por elas próprias e não para gritar ordens que visam o obedecimento das pobres multidões insensatas.
Em 1983, Bob Dylan gravou a melhor canção de sempre sobre Israel e a política externa: Neighborhood bully. A letra é magnificamente sarcástica e cada vez se aplica melhor ao país minúsculo que é tão divertido perseguir, não só por ser pequeno e ter poucos amigos, mas porque as consequências de persegui-lo são inexistentes. Já as verdadeiras ditaduras são muito mais chatas para quem as denuncia, até porque também têm jeito para a perseguição, o que faz um certo medo, não é verdade?
Ele já está a levar no coco por causa disso. Não faz mal. Já está habituado, como Israel também.


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