domingo, 8 de outubro de 2017

O Partido Comunista e o Sermão de Santo António aos peixes


“Antes, porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora as vossas repreensões. Servir-vos-ão de confusão, já que não seja de emenda. A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande. Olhai como estranha isto Santo Agostinho: Homines pravis, praeversisque cupiditatibus facti sunt, sicut pisces invicem se devorantes: «Os homens com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os peixes, que se comem uns aos outros.» Tão alheia cousa é, não só da razão, mas da mesma natureza, que sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da mesma pátria e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer! Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo, mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens”.
Sermão de Santo António aos Peixes (IV)Padre António Vieira


Esta longa passagem do Sermão do padre António Vieira, no Maranhão, ilustra bem a actualidade politica portuguesa. Em muitos aspectos. Por ora apenas a dedicaremos a um: ao apoio dado pelo Partido Comunista ao Partido Socialista (de António  Costa).
É demais sabido, para a decência, que António Costa se hoje governa o país, o deve a um esquema de “usurpação” de poder que foi apoiado por comunistas e bloquistas. Permitida por vários ramos da oligarquia que comanda o país, na qual se incluem figuras sinistras do PSD.
Colocada a questão nos termos concretos, vamos à questão do Sermão.
Por muitos apoios que Costa tivesse, houve um efectivamente que na realidade lhe deu o “poder” – o do Partido Comunista. Sem esse, Costa nunca teria desempenhado as funções que desempenha. E é exactamente esse apoio que continua um dilema.
O PCP que não é um Partido Politico qualquer, quando decidiu apoiar Costa, conhecia os factos como ninguém. Sabia o que tinha acontecido a todos os Partidos Comunistas europeus que se haviam aliado aos respectivos Partidos Socialistas – desapareceram!
É óbvio que o Partido Comunista Português tem características próprias desde a sua fundação. E foi nelas que o PCP se fiou, olvidando as leis da Natureza.
Em 2015 quando assinaram aquela papelada, uma sondagem indicava que mais de 90% dos comunistas execrava aquele apoio. Tinham razão. Porque a lei natural é que “os grandes comem os pequenos”.
É óbvio que o PCP já percebeu esta linguagem da comida. E mais cedo do que tarde irá abandonar a mesa, mas com razões justificáveis. Por seu lado, Costa tentará abandoná-la antes de tempo, provocando eleições antecipadas. Ou talvez não, porque a saída de Pedro Passos Coelho mudou tudo.
O  PCP não será enterrado como dizem certos cangalheiros (porque é um partido com História e com especificidades próprias), mas o sufoco poderá ser enorme.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Acerca do V CONGRESSO de Trás-os-Montes e Alto Douro

                                                 https://www.calameo.com/read/00588743118dcd330d965 clique para aumentar a imagem