“Antes,
porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora
as vossas repreensões. Servir-vos-ão de confusão, já que não seja de emenda. A
primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos
outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só
vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo
contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande
para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem
pequenos, nem mil, para um só grande. Olhai como estranha isto Santo Agostinho:
Homines pravis, praeversisque cupiditatibus facti sunt, sicut pisces invicem se
devorantes: «Os homens com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como os
peixes, que se comem uns aos outros.» Tão alheia cousa é, não só da razão, mas
da mesma natureza, que sendo todos criados no mesmo elemento, todos cidadãos da
mesma pátria e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer! Santo Agostinho,
que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo, mostrou-lho
nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável
é, quero que o vejais nos homens”.
Sermão
de Santo António aos Peixes (IV) – Padre António Vieira
Esta longa passagem do
Sermão do padre António Vieira, no Maranhão, ilustra bem a actualidade politica
portuguesa. Em muitos aspectos. Por ora apenas a dedicaremos a um: ao apoio
dado pelo Partido Comunista ao Partido Socialista (de António Costa).
É demais sabido, para a
decência, que António Costa se hoje governa o país, o deve a um esquema de “usurpação”
de poder que foi apoiado por comunistas e bloquistas. Permitida por vários
ramos da oligarquia que comanda o país, na qual se incluem figuras sinistras do
PSD.
Colocada a questão nos
termos concretos, vamos à questão do Sermão.
Por muitos apoios que
Costa tivesse, houve um efectivamente que na realidade lhe deu o “poder” – o do
Partido Comunista. Sem esse, Costa nunca teria desempenhado as funções que
desempenha. E é exactamente esse apoio que continua um dilema.
O PCP que não é um
Partido Politico qualquer, quando decidiu apoiar Costa, conhecia os factos como
ninguém. Sabia o que tinha acontecido a todos os Partidos Comunistas europeus
que se haviam aliado aos respectivos Partidos Socialistas – desapareceram!
É óbvio que o Partido
Comunista Português tem características próprias desde a sua fundação. E foi
nelas que o PCP se fiou, olvidando as leis da Natureza.
Em 2015 quando assinaram
aquela papelada, uma sondagem indicava que mais de 90% dos comunistas execrava
aquele apoio. Tinham razão. Porque a lei natural é que “os grandes comem os
pequenos”.
É óbvio que o PCP já
percebeu esta linguagem da comida. E mais cedo do que tarde irá abandonar a
mesa, mas com razões justificáveis. Por seu lado, Costa tentará abandoná-la
antes de tempo, provocando eleições antecipadas. Ou talvez não, porque a saída
de Pedro Passos Coelho mudou tudo.
O PCP não será enterrado como dizem certos
cangalheiros (porque é um partido com História e com especificidades próprias),
mas o sufoco poderá ser enorme.
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