OBSERVADOR
O líder do PSD não se recandidata. Disse
a Maria João Avillez que convidou "estrelas" do PSD que recusaram ir
às autárquicas. Explicou à direção que não que continuar a ser a
"argamassa" da esquerda.
Pedro Passos Coelho não se vai
recandidatar à liderança do partido, anunciou na Comissão Permanente de manhã e
à tarde na Comissão Política Nacional, segundo apurou o Observador junto de
várias fontes presentes nestes órgãos nacionais. O líder do PSD tinha dito que
não se ia “pôr ao fresco” se houvesse uma leitura nacional das eleições
autárquicas, mas acabou por ceder. A derrota foi muito mais pesada do
que inicialmente o líder do PSD esperava — em Lisboa e no Porto. Mas
ainda havia quem na sede fizesse contas de modo a interpretar os dados de forma
menos catastrófica e quem falasse para o país todo a sentir o pulso aos
dirigentes locais e distritais. O líder do partido passou 48 horas em “reflexão
aprofundada” e concluiu que não devia recandidatar-se.
Entre os argumentos que Passos
apresentou à direção do partido estava a perceção de que ir à luta poderia
prejudicar o PSD mais do que beneficiar. Segundo apurou o Observador, o
presidente do partido agora demissionário convenceu-se de que a sua
manutenção aos comandos da São Caetano levaria a um ambiente de fogo cruzado,
externo e interno, que dificultaria muito o seu papel no combate político. Criticado
interna e externamente, poderia ser o “inferno” a que se sujeitava e que foi
identificado por Luís Marques Mendes num comentário na SIC logo na noite
eleitoral. Na sua “reflexão profunda”, Passos terá concluído que a sua
continuidade concentrava uma conjugação de esforços à esquerda contra o partido
que ele entendeu agora que devia evitar. Terá dado como uma das
justificações não querer continuar a ser a “argamassa da maioria”, que não lhe
daria sossego.
Segundo a conversa de Passos Coelho com
Maria João Avillez, a decisão de sair foi solitária. “Uma decisão destas
toma-se sozinho”. O líder do PSD justificou a sua criticada estratégia
eleitoral de deixar as concelhias e distritais em roda livre, exatamente com o
argumento da não interferência: ” Mas então eu havia de inteferir nas escolhas
autárquicas dos dirigentes locais? Eleitos para saberem, decidirem,
escolherem?”, disse à jornalista e colunista do Observador. A seguir atirou
àqueles que mais o criticam: “Candidatos fracos? Era perguntar a algumas
das estrelas do PSD, sondadas ou convidadas, se estavam disponíveis… Não
estiveram”.
Depois de, durante a manhã, Passos ter
comunicado ao seu núcleo duro que não se recandidatava (os seus
vice-presidentes, na Comissão Política Permanente), perto das cinco da tarde
anunciou na alargada Comissão Política Nacional. Depois disso fará o mesmo no
órgão máximo entre congressos, o Conselho Nacional. Isto é uma saída anunciada,
mas não é uma demissão, já que o líder levará o mandato até às próximas
diretas, cumprindo quase todo o tempo do mandato para qual foi eleito em abril
de 2014: dois anos.
Com o anúncio da não recandidatura, o
Conselho Nacional desta noite acaba por se esvaziar. Passos Coelho poderá ouvir
algumas críticas, mas o mais provável é esta ser uma reunião de entronização do
futuro ex-líder e de agradecimento pelos serviços prestados ao país e ao
partido.
Toda a campanha autárquica de Pedro
Passos Coelho foi feita no pressuposto de que a liderança não estaria em causa
com uma derrota. Não se previa a magnitude da derrota, mas sabia-se que o
resultado não ia ser bom. Era isto que Passos dizia cinco dias antes da noite
da derrocada: “Claro que se o PSD tiver um mau resultado autárquico é mau
para a liderança do PSD. Mas a liderança do PSD não está em jogo com o
resultado destas eleições”, dizia numa entrevista à Rádio Renascença. E
acrescentava: “As pessoas conhecem-me, sabem e já me ouviram dizer várias vezes
que as eleições autárquicas não servirão nem para eu me pôr ao fresco nem
para eu fazer provas de vida dentro do PSD.”
Se não se pôs ao fresco, também agora
não fará prova de vida num concurso eleitoral interno. Na mesma semana também
disse: à TSF: “Claro que não é irrelevante se Leal Coelho ficar atrás de
Assunção Cristas.”
A somar às razões políticas, motivos
pessoais e familiares — como a doença prolongada da mulher — terão contribuído
para Passos Coelho atirar a toalha ao chão no partido. No entanto, fontes
próximas do líder do PSD contrariam esta tese, porque Passos passou anos a
lutar nestas duas frentes, familiar e partidária e não foi esse o motivo da sua
decisão, eminentemente política. No entanto, numa conversa com Maria João
Avillez, Passos reconheceu aquilo que o Observador escreveu inicialmente neste
texto.Q ue não é fácil recomeçar uma vida profissional: “Convites? ‘É sempre
complicado convidar um ex-primeiro-ministro para trabalhar. Não sei se
teria o feitio…’. Projectos? “Acabar o meu livro, que gostaria que já estivesse
terminado?”.
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