Era
o que faltava à Porto Editora para se actualizar: após mais de
sete décadas ao serviço da excelência do serviço público, passou a
receber lições de pedagogia do poder político.
Pedagogia censória, passe o oxímoro, em nome de
valores respeitáveis, como a igualdade e a liberdade. E com solene chancela oficial, que manda - utilizando o eufemismo
"recomenda" - retirar duas publicações dos postos de venda. O
fantasma do doutor Salazar deve emitir uns sopros irónicos lá entre os vetustos
reposteiros de São Bento.
Com a diligente brigada dos bons
costumes apostada em pôr multidões ordeiras e ululantes a entoar a novilíngua
deste admirável mundo novo, condenando sem cuidar sequer do rigor dos factos, o vocabulário
comum em democracia torna-se policiado como se vivêssemos em ditadura.
E não tenhamos ilusões: esses patrulheiros não tardarão a exercer censura
com carácter retrospectivo, pois só quem controla o passado é capaz de
controlar o futuro. Atenção, misógino Pessoa. Toma cuidado,
falocrático Eça - reles perpetuador de "estereótipos de género".
Põe-te a pau, racista e islamófobo Camões.
Haja cuidadinho com as cores também. Os daltónicos,
coitados, é que se tramam.
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