segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Ponham-se a pau, Eça e Camões


por Pedro Correia - Delito de Opinião

Era o que faltava à Porto Editora para se actualizar: após mais de sete décadas ao serviço da excelência do serviço público, passou a receber lições de pedagogia do poder político.
Pedagogia censória, passe o oxímoro, em nome de valores respeitáveis, como a igualdade e a liberdade. E com solene chancela oficial, que manda - utilizando o eufemismo "recomenda" - retirar duas publicações dos postos de venda. O fantasma do doutor Salazar deve emitir uns sopros irónicos lá entre os vetustos reposteiros de São Bento.
Com a diligente brigada dos bons costumes apostada em pôr multidões ordeiras e ululantes a entoar a novilíngua deste admirável mundo novo, condenando sem cuidar sequer do rigor dos factos, o vocabulário comum em democracia torna-se policiado como se vivêssemos em ditadura. E não tenhamos ilusões: esses patrulheiros não tardarão a exercer censura com carácter retrospectivo, pois só quem controla o passado é capaz de controlar o futuro. Atenção, misógino Pessoa. Toma cuidado, falocrático Eça - reles perpetuador de "estereótipos de género". Põe-te a pau, racista e islamófobo Camões.
Haja cuidadinho com as cores também. Os daltónicos, coitados, é que se tramam.

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