domingo, 27 de agosto de 2017

Dos textos da Porto Editora à canção de Chico Buarque

O Grande Irmão - Filme 1984 (Geroge Orwell)


                              “Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada.”
                                                                                                     Edmund Burke

Evgueni Zamiatine (1884-1937), escritor por vocação e engenheiro naval por profissão, é um dos primeiros vultos a tratar o homem comum da época soviética nos seus contos. No Ocidente tornou-se famoso com Nós (1924), a pioneira distopia que iria influenciar textos de género como 1984 de Geroge Orwell, Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, A Escavação de Andrei Platónov ou Fahrenheit de Ray Bradbury.
Têm em comum descreverem, por antecipação, a engenharia social que, apoiada no controlo do pensamento e na repressão da dissidência, garante a unanimidade totalitária.
Nós, denuncia as maluqueiras bolcheviques de 1917 (como o havia feito Walter Benjamin), ao intervirem na vida privada, acabando com a instituição família, transformando o espaço doméstico em espaço colectivo onde viviam várias famílias com dormitórios colectivos e salas próprias para o sexo! -  onde o individuo é abolido em favor da uniformidade dos seres. Aliás, como os Mencheviques  (ambos originários do socialismo revolucionário) também defendiam, mais coisa menos coisa. 
Os que leram a literatura que indicámos “sabem como o ideal de igualitarismo comunista resultou em tiranias brutais, que tentaram controlar todos os aspectos da vida quotidiana” [1]. Em suma, enumerando todas as patifarias, todas as experimentações e processos de anular tudo o que vinha de antes para criar o “homem novo”, os bolcheviques, com o comunismo, pretenderam fundar uma religião.


Ora o que se passou ultimamente com os cadernos de actividades da Porto Editora, ou com a canção de Chico Buarque é execrável. E não estamos longe de Nós, 1984, A Escavação ou Fahrenheit. 
Censurar, proibir a liberdade individual, uniformizar os seres, só pode levar uma sociedade ao abismo. 
Só um Estado CORRUPTO (publicitado por uma imprensa corrupta) consente esta javardice totalitária.
Censurar os cadernos da Porto Editora e a canção de Chico Buarque é obra de javardos nostálgicos do Estado  Único; das "Tábuas dos Mandamentos Horários que sincronizam actividades produtivas e relações sexuais, na transparência absoluta das casas de vidro", da obra de Zamiatine!
Actualizado a 28 de Agosto de 2017



[1]HARARI, Yuval Noah, Sapiens, de animais a deuses – História Breve da Humanidade, Elsinore, 2017, p. 199.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Ucrânia assinalou ontem, 90 anos do Holodomor

     https://pt.euronews.com/2023/11/25/ucrania-assinala-os-90-anos-do-holodomor   Fomos mortos por sermos ucranianos