Os acontecimentos selvagens de
Hamburgo, na Cimeira do G20, só deixam estupefactos aqueles que desconhecem o
percurso politico e social das esquerdas. Aliás, as autoridades alemãs há muito
que se preparavam para isso. Porque foi na Alemanha que tudo aconteceu no
inicio do século XX.
A biografia de Rosa Luxemburgo,
que deixou a sua Polónia natal para ingressar no Partido Social-Democrata
alemão, foi genialmente contada por J.P. Netil. E ainda hoje não existe melhor
livro que retrate o período crucial do socialismo europeu, desde as últimas
décadas do século XIX até ao dia fatídico de Janeiro de 1919, em que Rosa
Luxemburgo e Karl Liebknecht (os dois lideres da Spartakusbund -
precursora do partido
Comunista Alemão) foram assassinados em Berlim, com a conivência do regime
socialista então no poder.
O que aí se passou nesse
tempo, deixaria o cidadão comum de hoje atónito. Desde considerar-se este assassinato
legal, até tentar inserir a Alemanha no Império Vermelho, depois da Primeira Guerra, por Moscovo – apenas não concretizada por uma organização para militar
(Freikorps),
onde se iriam recrutar os futuros nazis (também implicada neste assassínio).
Foi, pois, com este
assassinato que se fez a cisão da esquerda europeia em partidos socialistas e
comunistas. Foi uma cisão irrevogável, como o tempo demonstrou. E todos aqueles que se desiludiram com o Partido Socialista se tinham aproximado do Partido
Comunista, acabaram por ter uma desilusão ainda maior com o declínio moral e a
desintegração politica do Partido Comunista.
O debate de Edward Bernstein
(critico de Marx – como o fora Rosa), no SPD alemão, colocou a alternativa
entre reforma e revolução. Lenine que se iniciara como social democrata
escolheu a revolução. Mas o tempo deu razão a Rosa.
Os próprios socialistas alemães depois de Rosa ter assistido à primeira revolução de 1905, e contar os factos, estavam convencidos que tais coisas só aconteciam em países Bárbaros e distantes (Hannah Arendt).
Os acontecimentos de Hamburgo
têm esta génese, não fossem eles consumados por gente da velha esquerda. Os
sovietes portugueses (Jerónimo, Catarina, Costa, Mariana, e por aí adiante),
podem dizer o que quiserem. A sua génese ideológica é essa.
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