domingo, 19 de fevereiro de 2017

O velho pântano


Eduardo Dâmaso – Revista Sábado

O que é o pântano político em Portugal? Basta pegar na actualidade política, económica e judicial dos últimos anos para responder. Ele está no financiamento da política e no ambiente institucionalizado de luvas milionárias (vulgo corrupção) nos negócios com o Estado, desde a contratação pública à obscena política de rendas na energia, nas parcerias público-privadas rodoviárias e noutras áreas. Está alapado nas leis penais ineficazes – como tem sido ao longo de décadas o tráfico de influências – ou nas leis-medida, por conta de privilégios particulares ou de casos em que um governo precisa de nomear um homem providencial.
Foi este último o caso da Caixa Geral de Depósitos. Aqui, não poderia haver pântano maior. Mário Centeno mentiu? Não só mentiu – por acção e omissão – como tenta sair da embrulhada, já tarde, a pedir-nos para sermos tolinhos com aquela coisa do "erro de percepção mútuo". Pede-nos para pôr alguma fé à frente da razão.
A novela da Caixa mostra também o pântano político em que se enfiou a esquerda. Quem vote à esquerda mas não seja fanático o que pensará deste espectáculo deplorável do BE e do PCP a fecharem os olhos em relação a Centeno mas, sobretudo, a matarem a comissão parlamentar de inquérito sobre os milhões de créditos concedidos sem garantias na CGD desde 2000 para cá!? Agitar o fantasma da privatização, em mais uma insuportável manifestação de maniqueísmo, é outra forma de pedirem aos portugueses para se ficarem pelos seus próprios "erros de percepção". Vêem a verdade, mas fingem que se enganaram. Só que, na CGD, a teoria Centeno, apadrinhada por Costa e Marcelo, vai custar uma factura bem pesada aos contribuintes.

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