Alberto Gonçalves Revista Sábado |
A actual
frequência de atentados cometidos por islâmicos em nome do islão é
desagradável. Não, claro, por causa das vítimas envolvidas, que quase ninguém
evoca. Mas por causa da dificuldade em arranjar desculpas para tamanha
quantidade de perpetradores.
O atentado de
Munique, na sexta -feira, ainda alegrou provisoriamente autoridades,
comentadores especializados e as tropas da correcção política em geral: durante
horas, acreditou-se que o assassino era alemão, logo branco, logo de
extrema-direita, logo neonazi, logo pertencente a uma cáfila odiosa que urge
exterminar sem demora. Na televisão e nas redes sociais, as tropas babavam
satisfação: isto sim, é um atentado como deve ser, com um autor que se pode
condenar sem reservas, uma "razão" que se pode generalizar sem
receios e baixas que se podem lamentar sem rodriguinhos. A alegria durou pouco,
dado que o afinal autor possuía ascendência iraniana e o fatal (nos dois
sentidos) fervor pelo Profeta. A fim de emendar a mão, tratou de se lhe
arranjar um problema psiquiátrico qualquer, para o distinguir dos muçulmanos
moderados e dos sujeitos mentalmente sãos que chacinam terceiros apenas por
pirraça.
Desde aquele
dia, não é fácil inventariar os atentados similares e as vezes em que se
recorreu a diagnósticos de distúrbios mentais para os justificar, perdão,
explicar. Aliás, julgo que à força de querer evitar a islamofobia, começa a
cair-se no erro de chamar malucos a uma data impressionante de islâmicos. O
que, em si, é um bocadinho islamofóbico. E, no mínimo, bastante irritante.
Dizer à
rapaziada que berra "Allahu Akbar" enquanto agita o machado que o seu
gesto nada tem a ver com Allah é o mesmo que informar um benfiquista aos saltos
no Marquês que, no fundo, ele simpatiza com o Sporting. É do senso comum que,
se um tipo aprecia as vitórias do Benfica, usa um cachecol do Benfica e cola a
buzina do carro a cada golo do Benfica, esse tipo é adepto do Benfica.
Curiosamente, semelhante evidência não se aplica a 97% das análises e notícias
acerca do terrorismo islâmico, para as quais este raramente é terrorismo e
nunca é islâmico.
Porém, não há
necessidade de atribuir as acções dos "mártires" exclusivamente à
loucura. Só nos comentários online a um artigo do Expresso alusivo a Munique,
estipulou-se que a responsabilidade cabe: à polícia; aos traficantes de armas;
aos médicos que prescrevem calmantes; ao imperialismo americano; aos bairros
sociais; ao grupo Bilderberg; ao nacionalismo; às experiências da CIA em
"controlo da mente"; ao sr. Breivik da Noruega; às alterações
climáticas; etc. À hora a que escrevo, a tendência fresquinha é responsabilizar
as notícias sobre as matanças pelas matanças.
Careço da
sofisticação intelectual que fundamenta essas teses. Por comodismo e
ingenuidade, continuarei a acreditar que o islão é uma ameaça que, cedo ou
tarde, a Europa, esta Europa de cócoras, terá de reconhecer e enfrentar. E que,
com crescente frequência, o negacionismo (o termo não é familiar?) participa no
derrame de sangue em curso, hoje próximo de uma guerra. Só não digo que os
negacionistas também são culpados porque já há desculpas em demasia. E
demasiada gente, "deles" e "nossa", que não merece nenhuma.
O BOM
estamos nas mãos de chalupas
No Twitter,
crianças entretêm o ócio a discutir a utilização do frisbee pelos meninos (nave
espacial) e pelas meninas (prato). De repente, um contributo: "A minha
faria dele o escudo do Cap. América e certamente o faria voar para a tola de q
[sic] lhe dizia que era um prato." Isto apareceu, e de seguida
desapareceu, na conta oficial do governo (@govpt). Tanta imbecilidade e
indigência não são fortuitas. Cada vez mais me convenço de que Portugal se
tornou uma experiência para averiguar o tempo que uma sociedade sobrevive à
demência absoluta. Um palpite: pouco.
O MAU
isto vai lindo vai
Por dificuldades
de dicção e carências na gramática, metade do que o dr. Costa diz não se
entende. Mas pior é a metade restante, como quando promete reagir a sanções
processando as "inchtções" europeias – e acrescenta que Portugal
merece apenas "uma palavra de carinho". Será que na cabeça dele isto
faz sentido? Ou será que ele atribui aos seus eleitores o QI de Forrest Gump?
Em qualquer dos casos, um portento destes não poderia rodar uma tômbola de
feira. Tê-lo a liderar um Governo já roçaria a anedota forçada, exactamente o
que o País é hoje.
O VILÃO
costa em grande
"Mais uma
vez, a violência e o terror surgem do nada", declarou o dr. Costa acerca
do atentado de Munique. Do nada surgiu obviamente o dr. Costa. A violência e o
terror em causa têm, se não me engano, uma origem comum, por acaso aquela que
meia Europa recusa nomear por má-fé, cobardia ou apenas estupidez natural. Juro
que não consigo perceber a que categoria pertence o dr. Costa. E mesmo que, por
milagre ou descuido, um jornalista lhe pedisse explicações, sei que ficaríamos
a perceber ainda menos. E a recear o futuro ainda mais.
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