quinta-feira, 7 de julho de 2016

Estado de coma



ALBERTO GONÇALVES - Diário
de Noticias
A economia abranda. O investimento estrangeiro foge apavorado. As despesas estatais sobem. A dívida pública aumenta. Os impostos prosperam. As receitas encolhem. O défice derrapa. Porquê? Mistério. Nada indiciava que um governo socialista apoiado por estalinistas, sindicalistas e terceiro-mundistas pudesse correr mal. Sobretudo quando o rosto do espectacular arranjo é um balão de ar morno com poucas letras e muitos sorrisos, também conhecido por "príncipe da política", "grande negociador" ou "António Costa".
Caso apreciem analogias, a situação lembra a do bêbado que, a 150 km/h, desce a rampa da Falperra de olhos vendados num carro sem travões. Se, passados dois minutos, o carro se assemelhar a uma escultura contemporânea e o bêbado aguardar o INEM com fracturas múltiplas e um olho de fora, alguma coisa de esquisito aconteceu. Não se sabe se foram ovnis, se as interferências dos "mercados", se os ameaçadores presságios do sr. Schäuble: sabe-se que, à luz das evidências, o acidente é inexplicável.
A instantes de bater de frente na primeira árvore, eis o estado de uma nação que vive a exigir conforto sem trabalho, dinheiro sem custos, soberania sem vergonha na cara. Talvez não valha a pena discutir se merecemos o caldo de mentirosos e maluquinhos que nos orienta rumo ao desastre. A verdade é que teremos de suportar as consequências das respectivas proezas até ao dia em que estas se tornem insuportáveis. Entretanto, beneficiamos daquilo a que o afectuoso Presidente da República chama "estabilidade", leia-se a satisfação das clientelas, a retribuição de favores, a compra de votos e a genérica folia.
Mal a folia rebente, chegará com sorte novo "resgate" e, bastante mais pobres, partiremos para novas eleições, na certeza de que, ao contrário dos bichos de Pavlov, uma parte do bom povo não aprende. Ainda que o bêbado se espatife uma, duas, cinco, trinta vezes, não deixará de haver quem culpe o fabricante dos pneus, o clima, os ovnis, os "mercados" ou o sr. Schäuble. E depois vá festejar a selecção da bola.
Isto vai acabar mal porque não há maneira de acabar bem, e continuar indefinidamente a fintar a realidade não é hipótese. É pena? É. Porque se aproximam tempos capazes de transformar a "austeridade" numa memória agradável. Porque há gente que os previu. Porque, generalizações de lado, existem inúmeros inocentes que sofrerão. E sobretudo porque os principais culpados sairão ilesos, descarados como nunca, sorridentes como sempre. E não estou a falar dos ovnis ou do sr. Schäuble.

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