domingo, 19 de junho de 2016

A CGD e os três macacos sábios

Paulo Baldaia,Diário de Noticias

Não há nada que o comum dos portugueses não consiga adivinhar sobre o que aconteceu na Caixa Geral de Depósitos (CGD) e que levou a instituição à desgraça que também toda a gente adivinha que está para chegar. Podem e devem fazer uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para tornarem públicos os negócios ruinosos de milhões e ficarmos a saber o nome dos administradores, gestores e clientes que participaram no "saque". Mas já todos sabemos o que aconteceu. A CGD serviu muitas vezes para satisfazer a necessidade de crédito dos amigos do poder, créditos concedidos com grandes riscos e poucas garantias. E sabemos igualmente que a Caixa foi gerida pelo bloco central (PS e PSD) com a ajuda a espaços do CDS. Não foi com surpresa, por isso, que vimos a cara de espanto de António Costa quando o PSD anunciou a comissão de inquérito potestativo. E também não é surpresa nenhuma que Manuela Ferreira Leite e Bagão Félix alertem para o perigo desta CPI. E que atrás deles siga um coro de virgens ofendidas, alertando para os perigos de hecatombe que se aproxima.
Vai haver muita lama partidária lançada de um lado para o outro? Cá estaremos, nós os cidadãos, para fazer a distinção entre o que importa ficar a conhecer e o que será para esquecer. O povo não é tão burro que não saiba distinguir um crédito que correu mal, porque o negócio não resultou, de um negócio que tinha mesmo de correr mal, porque não havia negócio para correr bem. Havia apenas relações de amizade e outras coisas que importa investigar.
Querem-nos como os três macacos sábios, figuras de um provérbio japonês, com a boca, os olhos e os ouvidos tapados, para que ninguém diga o mal, veja o mal e ouça o mal. Mas o contribuinte comum não é do bloco central de interesses e não se importa que se zanguem as comadres para que se descubram as verdades. Em raras circunstâncias, esconder a verdade é a melhor das soluções. Não seremos nunca capazes de corrigir os erros se não formos capazes de admitir esses erros. Querer que paguemos, outra vez, milhares de milhões de euros, não nos explicando direitinho porque é que isso tem de acontecer, é inadmissível. E não devemos ficar assustados com o medo que já nos começaram a incutir. O descrédito da CGD, o perigo de Bruxelas passar a jogar mais duro connosco e até o brexit já foram jogados como razões para não avançar com a CPI. Podem procurar mais mil pretextos para não a fazer, um só argumento chega para me convencer. O povo que paga merece a verdade.

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