O desastre de Chernobyl ocorreu em 26 de
abril de 1986 na central eléctrica da Usina Nuclear de Chernobyl (então na
República Socialista Soviética Ucraniana). Os efeitos dessa explosão que lançou
partículas radioactivas para o mundo inteiro (ao contrário do que se diz),
incidindo na Europa Ocidental, ainda estão por consolidar. E só quando a
geração que assistiu ao desastre já não pertencer a este mundo é que os
resultados aparecerão. Porque por muita tecnologia que o homo sapiens já
domine, ainda não domina, em absoluto, a nuclear. Mikhail Gorbachev
reconheceu-o à época num discurso ao povo Russo, embora o tentasse esconder
inicialmente.
Pessoas deformadas, afectadas de cancro,
ou simplesmente em grau elevado de morrer prematuramente, são aos milhares! Mas
o dinheiro tem-se sobreposto à ética e à moral. Esperemos que esta raça saiba
harmonizar as duas coisas, pois desse equilíbrio depende a sua sobrevivência.
Vozes de Chernobyl é a mais aclamada obra
de Svetlana Alexievich, Prémio Nobel de Literatura 2015. Nele Svetlana
dá voz a centenas de pessoas que viveram a tragédia - cidadãos comuns, bombeiros e médicos, que
sentiram na pele as violentas consequências do desastre.
Realizou mais de 500 entrevistas,
apresentadas através de monólogos. O prefácio é de Paulo Moura e tradução de
Galina Mitrakhovich.
Do livro:
“... A única coisa que me salvou foi que
tudo aconteceu tão depressa, que não houve tempo para pensar, não houve tempo
para chorar." pag. 31.
"Mesmo contaminada com radiação,
ainda assim é a minha terra natal. Não há outro lugar onde nos queiram. Até um
pássaro gosta do seu ninho..." pag. 71.
"Quem quer maçãs? Maçãs de Chernobyl?”
Alguém aconselha: “Ó mulher, não digas que são de Chernobyl que ninguém tas
compra.” “Não se preocupe! Então não compram! Há quem compre para a sogra, há
quem compre para o chefe." pag. 78.
"Voltámos para casa. Tirei tudo,
despi toda a roupa que usava lá e atirei-a para a conduta de lixo. Quanto ao
barrete, dei-o ao meu filho pequeno. Ele pedira-mo muito. Andava de barrete sem
nunca o tirar. Dois anos depois foi-lhe diagnosticado um tumor cerebral."
pag. 104.
"A quantidade de mentiras com que
Chernobyl está associado na nossa mente só é comparável com a que houve em
1941. Sob Estaline." pag. 211.
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