Batalha de Ourique |
BARROSO da FONTE |
Relativamente aos
feriados nacionais é uma questão de cultura. Quer o (s) governo(s) anterior(es)
quer o atual, deveriam repensar a cronologia da História de Portugal. E obter
de um grupo de Historiadores sérios e isentos, uma graduação da sua importância
historiográfica. A começar pela 1ª Batalha que ditou aquela frase
lapidar:«Naquela tarde de 24 de Junho de 1128 nos Campos de S. Mamede viveu-se
a primeira tarde Portuguesa». O reconhecimento da independência do Rei de
Portugal, apenas foi feito em 1179. Mas o 24 de Junho, em S. Mamede, quer
queiram quer não queiram, deveria ser o dia de aniversário da Pátria
Portuguesa. Em vez de ser feriado municipal (nalgumas cidades por ser dia de S.
João), esse - sim - deveria ser o dia principal ou dia fundamental, como se
vangloriou o atual primeiro Ministro. É tudo uma questão de (in) cultura e de
partidarismo. Ora a História deve reger-se por quem sabe e por quem coloca os
interesses nacionais acima dos partidários. No 1º de Dezembro de 1640, apenas e
só, foi restaurada a História de Portugal . Tinha-se perdido a soberania,
durante o jugo Filipino. Foi bom retomar a independência. Mas não foi mais
importante do que a de Ourique (25/7/1139) ou de Aljubarrota (Agosto de 1385).
Apenas se restaura aquilo que já existiu. Se já existira, é porque houve uma
primeira data. E essa sim - foi o ponto de partida para dezenas de outras datas
que Portugal travou, dentro e fora de fronteiras nos 888 anos que, entretanto
decorreram. Pessoalmente comemoro e orgulho-me do 1º de Dezembro de 1640. Na
década de oitenta/noventa do século XX, na qualidade de vereador da Cultura, na
Câmara de Guimarães (a única do país que celebra no dia 24 de Junho, o seu
feriado municipal) escrevi o texto, que, ano a ano, era lido, no Altar da
Pátria, cerca da meia-noite, junto à Estátua de D. Afonso Henriques. Esse texto
foi sempre lido perante a multidão que desfilava pelas ruas Históricas, atrás
da Fanfarra. Sinal de que respeito e propago esse simbolismo restaurador. Não
tendo nascido, mas vivendo em Guimarães desde 1975, sempre tive discernimento
bastante para graduar a importância dos feriados nacionais. Como jornalista
profissional, ainda nas vésperas do último 1º de Dezembro e antes da votação na
Assembleia da República, alertei na imprensa para que os Deputados (todos eles)
não cometessem um erro maior do que aquele que pretendiam anular. De nada valeu
o meu alerta. E por isso, irritado fiquei, quando, António Costa, veio
proclamar a grande vitória que prometeu na campanha. Nem assim ganhou as
eleições. Teve de rastejar até ao Bloco de esquerda para cantar vitória. Que
fique claro que a Vitória Parlamentar dessa votação é do tamanho da ignorância
que prevaleceu contra a verdade científica. Quem me contestar deverá refletir
neste logro em que permanece o espírito de quem pratica o jogo do «quanto pior
melhor» ou estoutro «baralhar para confundir e reinar».
Não é de estranhar que
com o rodar dos anos se esqueçam datas, episódios, personagens deste ou daquele
conflito. À medida em que os anos passam esses pormenores diluem-se porque o
cérebro é o mais perfeito dos computadores mais sofisticados. Mas também
falham. Ora a História de Portugal é a mais elementar gramática da cultura
Portuguesa. E essa deve manter-se viva, ativa e atuante, tal como a
Constituição da República que – essa sim – é a Lei fundamental da democracia.
Ora os deputados têm o dever de zelar pelo rigor histórico. Tal como invocam a
lei fundamental da democracia para levarem a água ao seu moinho, também devem
ter, na ponta da língua, a História de Portugal, desde 1128 até ao presente.
São 888 anos. Lamentavelmente todos lutam para chegar ao Parlamento. Mas uma
vez eleitos e no exercício das suas funções, julgam-se detentores da verdade absoluta.
Debitam argumentos sem consistência. E, sem prepararem a matéria, reavivando a
memória, debitam palavras e induções inconsistentes que, muitas vezes conduzem
ao fracasso absoluto.
EGAS MONIZ |
Aquilo que se viu e
ouviu na sede da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, com António
Costa aos abraços ao anfitrião da Casa, dão para perceber o vazio cultural de
quem nos governa. Antes dele já José Ribeiro e Castro, ex-líder do CDS, dentro
e fora do Parlamento, gerou um movimento, em torno do 1º de Dezembro de 1640,
ignorando 522 anos da História de Portugal. Isto é: apenas se cuidou do telhado
da casa. Quem colocou o telhado não reparou que faltavam os alicerces e os
muros. Com esta metáfora fazem crer que Portugal começou a existir, em Dezembro
de 1640. Subtraíram 522 anos à História Lusa, exatamente a época da
consolidação e dos Descobrimentos.
Em 2009 viveu-se um
cisma histórico com a celebração dos nove séculos do nascimento do nosso
Fundador, em Viseu. Até a Academia Portuguesa de História tentou queimar os
manuais escolares, trocando a tradição de Guimarães, pela «pátria distrital» do
autor dessa «inventona». Em 2016
roubam-se 522 anos à verdadeira data da Fundação de Portugal. Mais um cisma
histórico. Quando e qual teremos o terceiro?
Barroso
da Fonte
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