Nos últimos tempos têm vindo a lume
inúmeras notícias sobre a crise financeira que Angola atravessa actualmente, em
consequência da diminuição do preço do petróleo, originando uma situação
deveras preocupante que se traduz no aumento da inflação e do custo de vida,
mas sobretudo no incumprimento de compromissos básicos como o pagamento de
salários na Função Pública e de facturas aos fornecedores, originando falências
sucessivas, deteriorando ainda mais a sua já débil economia.
O petróleo representa 42% do PIB, 90% das
exportações e 75% das receitas do Estado e as receitas totais de Angola, de
capital e correntes, decresceram 85% face ao ano transacto, tornando-se fácil,
face a estes números, entender o drama por que está a passar aquele país
africano.
Meditava em tudo isto quando me veio à
memória o que era Angola em 1972 e nalguns casos com dados até Maio de 1973
(não vou contabilizar os quatro meses de 1974, porque a partir daí Angola
entrou em colapso, graças ao processo da “descolonização exemplar” levada a
cabo pelos socialistas e comunistas portugueses), sendo então Governador de
Angola o Engº Santos e Castro que, seguindo a anterior política de governar com
a cabeça bem assente, sem demagogias, sem interesses próprios, pensando apenas
no bem comum, e com competência, fazia daquele território o mais cobiçado de
África – daí os diversos apoios estrangeiros aos “terroristas” – cuja economia,
além de ser um exemplo, fazia inveja a muita gente.
Ora, dentro dos critérios anteriormente
descritos, a diversificação tornava-se palavra de ordem, e assim a economia
angolana prosperava através do investimento agrícola, industrial, científico e
de turismo e serviços, com resultados espantosos e crescimentos assinaláveis.
Para se ter uma ideia, passarei a
transcrever alguns dados, mantendo os valores em escudos (lembro que mil
escudos representava um conto de réis, o equivalente a € 4,987).
Comecemos pela exploração de minérios: o
total de exportações no ano de 1972 foi de 96.142.702$00 (como exemplo
refira-se que entre 1967 e 1972 Cassinga exportou 24 milhões de toneladas de
minério de ferro de alto teor); o total de exportações de café atingiu
37.095.932$00, no mesmo ano; a produção de algodão ocupava uma área superior a
100 mil hectares, atingindo cerca de 95 mil toneladas de produção em 1972,
correspondendo a um valor a rondar os 550.000 contos, tendo-se exportado
algodão no valor de 332.037 contos em 1972; o valor das exportações do café em
grão atingiu os 2.183.937 contos (até Maio de 1973; o total em 72 cifrou-se nos
3.834.941 contos); a exportação de diamantes contabilizou 724.152 contos (até
Maio de 73 – 1.583.059 contos em 72); as exportações de sisal orçaram os
117.722 contos até Maio de 1973 (332.037 contos em 1972); petróleo em bruto,
1.540.585 contos até Maio de 1973 (3.535.396 contos, em 1972). Veja-se que em
primeiro lugar nas exportações estava o café em grão, secundado então pelo
petróleo.
Quanto a índices de produção em 1972,
temos (em contos): produtos alimentares – 3.760.780; bebidas – 1.067.779;
tabaco – 580.121; têxteis – 1.080.403; borracha – 304.294; químicas (inclui
óleos e farinha de peixe) – 1.275.845, etc., sendo que o total de produção no
sector industrial atingiu o valor total de 11.479.774 contos.
Na área da pecuária, Angola bastava-se a
si própria, produzindo em 1971 47.915 toneladas de carne, das quais exportava
aproximadamente 2.466 toneladas. A pesca atingiu em 1972 um milhão de contos em
captura, correspondendo a 599 toneladas, sendo o Distrito de Moçâmedes o
principal responsável por estes resultados com uma captura na ordem das 375
toneladas. Também a importância das madeiras tropicais foi aumentando e em 1971
exportaram-se 111.687 toneladas de madeira em toros e serrada no valor de 170
milhões de escudos. O açúcar chegou a atingir as 40.000 toneladas anuais de
produção.
Paralelamente a estes dados há que referir
o esforço e desenvolvimento económico em áreas tão diversificadas como a saúde,
assistência social, educação, científica, construção de estradas, portos,
barragens e aeroportos.
Na saúde e assistência social destaca-se o
combate às doenças endémicas, a assistência sanitária – em 1973 estava-se à
beira das metas exigidas pela O.M.S. – e a construção de hospitais e centros,
bem como de bairros sociais; na educação, a abertura de escolas, liceus e
universidades (em 1972 entre o ensino primário e liceal existiam 5.424
estabelecimentos de ensino para um total de 16.506 professores e 565.150
alunos); a construção de barragens e a existência de sete importantes centrais
hidroeléctricas; os caminhos-de-ferro, através das Companhias de Benguela,
Moçâmedes, Luanda e Porto Amboim que actuavam sem interligações num total de
2.653 quilómetros; o investimento em estradas atingiu o valor de 7.882.188
contos, ligando todas as capitais de Distrito a Luanda, com excepção de S.
Salvador (previa-se a conclusão dos trabalhos para finais de 1974), com relevo
para a destruição do mito do “Meridiano 17”, e finalmente a construção de diversos
aeródromos e aeroportos bem como de, por exemplo, a ampliação do porto de
Luanda.
E como resultado desta política, Angola,
em 1972, apresentava um saldo positivo na balança de pagamentos na ordem dos
960 mil contos, sendo que em 1973 se atingiu a capacidade própria de bens
essenciais ao desenvolvimento da produção interna, a par com o esforço de
liquidação de dívidas acumuladas, esperando saldar a dívida em 1975, assente
numa política da diminuição das importações e aumento das exportações. Em 1973
exportou mais 11 milhões de contos do que em 1972, enquanto as importações
tiveram apenas um crescimento de 1400 mil contos.
E foi esta Angola em plena pujança social
e financeira, não dependente do petróleo, que os arautos da “descolonização
exemplar” encontraram e que quarenta anos depois é considerado um dos países
mais pobres de África (independentemente das riquezas naturais que possui e de
que dispõe), e com um dos maiores índices de mortalidade do mundo, sem
estradas, sem agricultura, sem saúde, sem educação, sem estratégia e sem
economia, dependente apenas do “ouro preto” (enquanto for ouro), que para
conseguir empréstimos no exterior tem que “hipotecar” território nacional,
agora sim à laia de “colónia” de deixar qualquer angolano de “olhos em bico”.
Uma derradeira, mas importante ressalva.
Todos os números apresentados dizem respeito aos respectivos anos, não tendo
existido qualquer indexação ou correcção monetária, ou seja, são números de há
43 anos!
Contra factos, não há argumentos.
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