Sílvio Teixeira |
Era criança. Os meus avós maternos viviam
em Alcácer do Sal. O meu avo era chefe de Repartição de Fazenda nessa altura,
nessa localidade.
O local onde viviam os meus avós era numa
casa situada num largo, mas com a entrada pelo lado contrário, num primeiro
andar.
Vinha o padeiro, vinha a leiteira, vinha o
merceeiro e pelas traseiras a minha avó com um cesto e uma grande corda atirava
para ora da janela, fazendo deslizar o fio e aguardava que os fornecedores
colocassem no cesto o que a minha avó havia solicitado.
O meu avo chamava-se Francisco Ferreira,
acrescido de “Estudante”, que mais tarde retirou, ficando apenas a chamar-se
Francisco Ferreira.
O meu avo tinha um tio, que era toureiro
na ocasião e figurou num jornal denominado “A Trincheira, isto é, um periódico
de largas dimensões que figurava um grande quadro que com o tempo desapareceu,
ornado de artísticos desenhos dourados, que desapareceu, não se sabe para onde.
Tanto meu avo como minha avó, Albertina
Donísia Soares Ferreira, nasceram em Salvaterra de Magos, terra de touros e
touradas.
Voltando ao lugar onde residiam os meus
avós, não sabendo, porém, se o mesmo ainda existe.
Como havia dito, nas traseiras, havia
armazéns, sobretudo de sal, que se estendiam ao arruamento que se prolongava, ligando
outras povoações.
Ladeando a estrada. seguia o seu percurso,
o rio Sado.
Ora, nesse largo. havia uma
farmácia
e eu, dirigi-me lá e como criança que era, pedi ao dono uma caixinha.
Então o farmacêutico deu-me com um sorriso uma caixinha. E com um sorriso uma
pequena, mas mais comprida e dentro dela uma caneta de tinta permanente,
Embora o presente fosse a mim entregue, quando
o meu avô o viu, foi à dita farmácia e entregou ao dono a caixa com a aludida
caneta.
O meu avô perguntou ao farmacêutico, que o
conhecia bem: O sr. deu ao meu neto uma caneta de valor?
Entreguei com prazer, pois ela destina-se
mais a si.
Então o meu avô replicou:
Não aceito a caneta que entregou ao meu
neto com destino duvidoso.
Fique com ela que lhe pertence. Um bom
exemplo que existia em tempos idos.
Hoje, não é assim, pois a corrupção existe
e serve de mau paradigma. muito especialmente a todos os políticos do mundo.
Eu tinha apenas dez anos!
Gostaria de manter o apelido “Estudante”,
oriundo do Ribatejo de onde meus avós eram naturais.
Sílvio Teixeira
LAR IMACULADA CONCEIÇÃO
LORDELO - VILA REALRECORDAÇÃO
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