ALBERTO GONÇALVES -
in: Diário de Noticias
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A extraordinária quantidade de
especialistas em política brasileira que ocupou as nossas televisões e imprensa
dispensa os palpites de um leigo. Ainda assim, não me dispenso de os fornecer,
principalmente porque esta coluna se alimenta de temas da actualidade e, na
última semana, a actualidade pareceu resumir-se às proezas do senhora Lula
& Associados. Logo, ou escrevo sobre o Brasil ou vejo-me forçado a escrever
sobre futebol, ou sobre a gripe que me atacou há dias. Desgraça por desgraça,
antes o Brasil. Eis, pois, as minhas impressões a propósito.
Primeira impressão. O efeito produzido por
milhões de pessoas em protesto nas ruas dissolve-se no instante em que, no meio
da multidão, é descoberta uma família branca com uma ama-seca preta. Pelos
vistos, este bombástico pormenor desvaloriza imediatamente as manifestações e
prova o "racismo" e o "classismo" dos manifestantes. A
circunstância de a ama-seca ter confessado empregar, ela própria, outra
ama-seca, ignoro de que cor, não invalida o essencial: se o povo está contra a
esquerda, não se trata de povo, mas de serviçais da "direita", do
capital e dos EUA.
Segunda impressão. Quando duas criaturas
de esquerda são escutadas a arquitectar trafulhices ao telefone, o problema
está na divulgação ilícita das escutas - e não nas trafulhices em si. Presumo
que se Fulano for filmado a amolgar o crânio de Sicrana com um martelo, o
culpado é Beltrano, que filmou à socapa e despejou o vídeo na internet. Isto se
Fulano for de esquerda, claro (se não for, configura-se o crime de violência
doméstica).
Terceira impressão. A julgar pelos
telefonemas entre ambos, a habilidade oratória da "presidenta" e do
seu antecessor é um portento. Não me refiro aos palavrões, mas às restantes
palavrinhas, das quais quase nenhuma existe nos dicionários. E as poucas que
existem não são ordenadas convenientemente. Embora seja absurda a exigência de
instrução básica para se subir na política, acho discutível que, conforme é
norma na esquerda internacional, a instrução, básica ou elevada, constitua
critério de exclusão.
Quarta impressão. Um deputado da oposição
que proferiu um impropério qualquer na falhada posse do sr. Lula enquanto
ministro foi imediatamente agredido por dirigentes do PT e, de seguida, por
jagunços do PT. Isto da liberdade e da tolerância é muito lindo sempre que não
afecta os esforços da esquerda em prol da liberdade e da tolerância.
Quinta impressão. Os
"telejornais" insistem em falar em manifestações contra o governo e a
favor do governo. Até sexta-feira, testemunhas avulsas (a soldo da CIA) não
tinham conhecimento das segundas. Mesmo as de sexta-feira foram, a julgar pelas
imagens (manipuladas pelo FMI), comparativamente residuais. As sondagens
(distorcidas pela Mossad) mostram 70% a 80% de opiniões favoráveis à
destituição da "presidenta". Como dizia uma comentadora isenta na
TVI24, o país está dividido: a divisão é que está mal feita.
Sexta impressão. Garantem-me que diversas
"figuras da cultura" local (de facto artistas de variedades e
escritores ilegíveis) defendem o sr. Lula e a "presidenta". Nada de
surpreendente: é público que a esquerda acarinha o saber. Certa ocasião,
inquirida acerca do livro da sua vida, a dona Dilma admitiu ter lido um, e por
pouco se recordava do respectivo título sem o auxílio das assessoras. E o sr.
Lula prefaciou a tortura do eng. Sócrates.
Sétima impressão. O sr. Maduro da
Venezuela, estadista credenciado, apela à "solidariedade mundial"
para com o sr. Lula e a "presidenta". Aguardam-se as posições do sr.
Kim da Coreia do Norte, do Estado Islâmico e de três régulos africanos para
completar o pleno democrático.
Oitava impressão. Os camaradas de cá não
tardaram a aderir à onda solidária exigida pelo sr. Maduro e a denunciar o
"golpe" em curso no Brasil. Onde o cidadão alienado vê um gangue de
salteadores a roubar o que se move (e o que não se move também, dado o Cristo
do Aleijadinho encontrado num cofre do sr. Lula), PCP e BE detectam
conspirações "neoliberais". E detectam bem. Se não a refutassem, a
propaganda capitalista faria esquecer o inegável trabalho social do PT, a
começar pela melhoria das condições materiais de inúmeros membros do PT. E a
terminar na preservação do património (ver estátua do Aleijadinho e obras
sortidas).
Nona impressão. O nosso querido PS oscila
entre a "neutralidade" (neutralidade, aqui, é fingir considerar tão
graves as acções dos juízes "justiceiros" quanto as dos políticos
corruptos - de modo a desvalorizar a corrupção) e o silêncio. É uma atitude
adequada: na verdade, o PS andou anos a venerar o sr. Lula e a
"presidenta", pelo que arriscaria o pleonasmo. Ou o descaramento.
Décima impressão. Quem acredita na
desonestidade, na inépcia e na prepotência de um governo de bolcheviques
analfabetos, acredita em tudo. Acredita, inclusive, que a aliança da esquerda
caseira é, para Portugal, uma tragédia sem precedentes. Fora o precedente brasileiro
e o imenso rol de sucessos comunistas.
Sites que deve consultar acerca do "caso Lula":
Sites que deve consultar acerca do "caso Lula":
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