Jorge Lage |
Os que conhecem o casal Nozelos, só têm palavras de
apreço e de elogio para a Celeste Nozelos. Tem uma enorme vaidade no marido,
Nuno Nozelos. É capaz de dar voltas e mais voltas para que o trabalho literário
do Nuno seja apreciado, conhecido e reconhecido. Ainda me lembro do quanto me
procurou e informou porque o Nuno ia ser homenageado na Torre Dona Chama em
final de Junho último, a par do seu conterrâneo e amigo, o académico e escritor
Ernesto Rodrigues, pedindo-me para que o Notícias de Mirandela, fizesse eco da
homenagem. Pelo meio da minha amizade com o casal Nozelos está o amigo comum,
Jorge Golias, que é peremptório: - a Celeste tem um orgulho enorme no Nuno
Nozelos. Depois, Ernesto Rodrigues não se esquece do valor do seu conterrâneo.
Hoje, tocou o meu telefone e do outro lado da linha, aparece a Celeste, de quem
eu queria dar notícias aos amigos leitores. O Nuno está fragilizado com uma doença
incapacitante no outono da vida (82 anos). A bela saga da Celeste, lisboeta da
Freguesia do Socorro, de 79 anos, começa no berço. A irmã mais velha mimoseava
apelidando-a de «mimalha» e de «boneca de casa» (por ser muito bonita) e
«vidrinho». Há 56 anos que ajuda o Nuno a ser feliz, pelo muito amor mútuo
deste casal. A Celeste teve um gravíssimo problema do peito há uns anos, mas
sempre pôs e põe como primeira preocupação o marido. Quando se apresentou aos
médicos para se tratar eles ficam espantados por ela detectar a doença no seu
início e disse-lhes que «tenho olhos na polpa dos dedos» (por ser
fisioterapeuta). De facto os seus conhecimentos profissionais de
fisioterapeuta, deram-lhe outra sensibilidade e outro apuro para tratar o Nuno
na doença. O Nuno nem quer ouvir falar de lares de idosos. E qualquer sugestão
de algum familiar ou profissional de saúde corta-a com a frase seca e húmida de
um mar de amor: - nem pensem em pô-lo num lar! A Celeste dá aos mais comodistas
e desumanos uma grande lição de vida! Vai tendo a ajuda dos apoios
domiciliários institucionais e da irmã mais nova do Nuno Nozelos, que ele
trouxe para Lisboa e reside por muito perto. Do irmão que está na Torre Dona
Chama e dos sobrinhos ouve o chamamento para se mudarem para ali, para todos o
poderem ajudar e que nas estadas prolongadas do Verão é apoiado. Nos momentos
mais lúcidos o Nuno, preocupado com a doença da esposa, vai dizendo à Celeste:
- já estás boa? Só confio em ti! E como recompensa de um imenso amor e
reconhecimento à companheira, atira-lhe beijinhos quando o muda do quarto para
a sala e os olhos enchem-se-lhe de luz e brilho. A vizinha Catarina vem vê-lo
e, também, lhe manifesta gratidão no olhar e nos gestos. Apesar das doenças de
ambos, tudo parece assentar num mar de humanidade e humor: - o Nuno está feliz!
O amigo e ilustre escritor, Ernesto Rodrigues, escreveu-lhe uma atenciosa carta
a desejar-lhes boas-festas. Pequenos grandes gestos que são de uma grande
nobreza e vão sempre para além dos actos formais desta vida. Nobre e de
merecido mérito foi ainda a homenagem da Junta da freguesia da Torre Dona Chama
ao instituir o «Prémio do Conto Nuno Nozelos», em justa homenagem, a que se
associou o Presidente do nosso Município, Almor Branco. Falta-lhe, quanto a
mim, a medalha da cidade, para «Gente da Minha Terra», para o maior e melhor
contista trasmontano, a par de Isaque Barreira, perdão, Jorge Tuela de Vinhais.
Mas nunca é tarde quando se acha o momento oportuno. Penso que há muita «gente
da minha terra» distraída quer da maioria quer da oposição. Só somos grandes
quando sabemos reconhecer o valor e o mérito dos nossos. Fica um ar de
injustiça sibilina se «escovamos as botas» aos de fora e esquecemos a «gente da
minha (nossa) terra»! Quis aproveitar o exemplo duma «Senhora» que sem saúde
mantém o marido em casa, enquanto muitos atiram os seus idosos para os
«depósitos de velhos», em situações que contratando os serviços de alguém se
ajudavam idosos a ter uma vida mais humana e feliz. Parabéns à Celeste e as
melhoras do grande Nuno Nozelos!
Sem comentários:
Enviar um comentário