A revista Veja, em Outubro de 1962, sobre a
publicação do livro de Solsjenitsin, respigava: “Com publicação prevista para a
próxima edição da Noviy Mir, uma
revista literária russa, o romance Um Dia
na Vida de Ivan Denisovich, de Aleksandr Soljenitsin, promete dar detalhes
nunca antes conhecidos do cotidiano dos prisioneiros do gulag, o sistema de campos de trabalho forçado da URSS. A obra é
muito aguardada tanto dentro como fora do país – afinal, é o primeiro trabalho
literário significativo de um dissidente do regime a ser lançado na URSS desde
os anos 20”.
Era, na
verdade, o primeiro testemunho publicado na antiga URSS, por um dos presos
políticos a mando de Estaline. O Ocidente soube tarde da tragédia dos Gulag. E
parta isso contribuíram intelectuais como Bertolt Brecht que há muito se sabia dessa
tragédia e continuava a venerar (é este o termo) o sanguinário Estaline.
Foram
poucos os sobreviventes, e desses nenhum teve voz para relatar o drama humano
que, felizmente, Solsjenitsin teve em Um
Dia na Vida de Ivan Denisovich, e mais tarde em Arquipélago de Gulag, publicado no Ocidente em 1973. Temática
desenvolvida por outro gigante da Literatura do século XX, em Tudo Passa: Vassili Grossman.
Ivan Denisovich é um prisioneiro politico do antigo regime soviético que revela as atrocidades (psicológicas e físicas, nas quais se inclui a repressão) dos campos de trabalho forçado, os Gulag, que o regime de Estaline aproveitaria do tempo dos Czares.
Os vários campos de trabalho forçado na antiga URSS |
Alexandr Solsjenitsin preso do Gulag, com o número de prisioneiro na camisa |
A presente
edição (Sextante Editora, 2012), segue em rigor a edição russa e no fim, anexa
uma nota do autor, onde este explica a génese da narrativa.
Solzhenitsyn
nunca questionara a ideologia comunista ou a propagandeada superioridade dos
soviéticos em relação ao mundo capitalista. Oito anos nos Gulag tornaram-no um
homem ocidentalizado.
Interrogam-se
ainda hoje alguns académicos (e não só), porque razão Kruschev autorizou a
publicação sem censura. Não foi a questão dos misseis de Cuba, nem outras
questões politicas internas ou externas. Se no império soviético essa posição
era inédita, na Rússia era antiga. Não existe nenhum grande escritor russo que
não tenha passado adversidades idênticas a Alexandr, noutras circunstâncias. E
não deixaram de escrever o que escreveram. Não é por acaso que a Literatura Russa
é uma das Literaturas maiores de sempre. É disso exemplo DOSTOIÉVSKI, ou
Tolstoi.
Quantos
desapareceram nos Gulag? Pelo menos seis vezes mais dos que foram chacinados no
holocausto Nazi. Anne Applebaun em Gulag,
trata dos números e de muito mais. Uma fonte recomendável. Armando Palavras
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