ÁUREA
SAMPAIO e SÃO JOSÉ ALMEIDA 12/12/2015 - in jornal Público
Na
primeira entrevista depois das eleições de 4 de Outubro, Pedro Passos Coelho
assume-se como candidato a primeiro-ministro e líder da oposição ao Governo do
PS.
Matizando
a radicalidade discursiva com que considerou ilegítimo o Governo do PS, Pedro
Passos Coelho inicia em entrevista ao PÚBLICO o seu percurso como líder de
oposição. E não adianta a posição que tomará no Orçamento do Estado para 2016,
já que espera para ver o que o Governo vai apresentar. Faz o elogio da acção do
seu Governo e sobre o actual executivo sustenta que . “As medidas que foram
anunciadas valem 0,027% do PIB, 46 milhões é, portanto, o que nos separa de ter
um défice excessivo. Isso parece-me o maior elogio à política que fizemos.”
Vai
mesmo votar contra tudo o que vem do Governo no Parlamento?
Com
certeza que não. Não faria nenhum sentido.
Mas
declarou que o PSD não colaboraria com o PS em circunstância alguma.
Não.
É capaz de precisar, pois foi o que toda a gente entendeu.
É capaz de precisar, pois foi o que toda a gente entendeu.
Não.
O que eu disse foi que este Governo não é apoiado pelo PSD. O que me parece uma
evidência. Este Governo é minoritário, do segundo partido, que se recusou a
colaborar e a apoiar os partidos que ganharam as eleições e que se coligou no
Parlamento com a extrema-esquerda e a esquerda radical para formar Governo. É
aí que deve procurar apoio para o seu Governo. Julgo que seria uma perversão
completa que agora que perdeu as eleições, reclamasse de quem as ganhou que o
apoiasse. Isso não faz sentido de espécie nenhuma. Dito isto, o PSD é um
partido responsável que não é por estar na oposição que muda de opinião em
relação aquilo que é importante para o país e votará sempre de acordo com
aquilo que é a sua avaliação quer do mérito das propostas quer do interesse
nacional.
Mudou
o discurso em relação ao que disse antes.
Estou
a dizer exactamente o que disse no discurso de encerramento do debate do
programa do Governo e o que disse noutras circunstâncias. No dia em que o
actual Governo precisar de forma essencial do apoio PSD para poder governar,
então nesse dia o dr. António Costa deve reconhecer que conduziu o país ao
embuste, que o seu Governo não tem o apoio que ele disse que devia ter e que
ele deve demitir-se e pedir a convocação de eleições porque a função de quem
ganha as eleições não é apoia quem perde. Isso seria uma perversão democrática.
O
PSD é um partido responsável que não é por estar na oposição que muda de
opinião em relação aquilo que é importante para o país
Pode
divulgar a orientação de voto que vai dar em relação ao OE2016?
Não,
porque ainda não conheço o OE2016.
Há
alguma matéria inegociável?
Não
quero fazer esse tipo de abordagem, não vou antecipar o que vai ser o OE2016.
Isso compete ao Governo. O Governo é que tem de dizer qual é a proposta que vai
apresentar.
Pensa
apresentar propostas de alteração?
É
completamente prematuro estar a fazer esse tipo de avaliação. Primeiro vamos
aguardar pela proposta de OE2016 e depois iremos pronunciarmo-nos.
Como
viu as medidas aprovadas no Conselho de Ministros para que o défice fique
abaixo de 3%?
Sinceramente,
fiquei satisfeito com as conclusões que li do Conselho de Ministros. Eu tinha
transmitido ao dr. António Costa que Portugal tinha ao seu alcance sair do
procedimento por défice excessivo, tendo já este ano um défice inferior a 3%,
claro que isso pressupõe que a trajectória do défice público continue para a
futuro a manter um perfil de redução estrutural do nosso défice. E é isso que
consagrará, em Maio, a decisão de retirar Portugal do braço correctivo do Pacto
e passarmos a não ter défice excessivo. As medidas que foram anunciadas
correspondem basicamente aquilo que eu na altura disse ao dr. António Costa,
que me parecia razoável. Se o Governo quisesse realmente ter um défice inferior
a 3% estava nas mãos do Governo desde que o primeiro-ministro se empenhasse
nisso, porque é sempre preciso dar força ao ministro das Finanças, para não
ceder às pressões e para que possa haver uma gestão da tesouraria pública
consentânea com esse objectivo. Ora o que ontem foi divulgado pelo Governo foi
isso mesmo. As medidas que foram divulgadas quer dizer que o défice inferior a
3% está perfeitamente ao nosso alcance. As medidas que foram anunciadas valem
0,027% do PIB, 46 milhões é, portanto, o que nos separa de ter um défice
excessivo. Isso parece-me o maior elogio à política que fizemos.
Era
possível fazer melhor? Manter nos 2,7%?
2,7%
parecer-me-ia difícil de alcançar, até porque havia expectativa de receitas que
não se confirmaram, nomeadamente com algumas concessões e privatizações que
acabaram por não se concretizar. E também porque houve alguns imprevistos do
lado de alguns programas que foram executados que não tiveram tanto sucesso
quanto nós esperaríamos e que acabaram por pesar um bocadinho mais em despesa
do que nós tínhamos pensado. Mas julgo que dependendo da forma como a economia
fechar este último trimestre assim poderemos ficar mais perto de 2,8 ou 2,9.
Isso depende um bocadinho da evolução da receita fiscal e, portanto, da
actividade económica deste último trimestre. O que é importante sublinhar é que
aquilo que é mais discricionário dentro do Governo, que é a despesa, essa
estava muitíssimo bem encaminhada. O relatório da Unidade Técnica de Apoio
Orçamental reconheceu e vale a pena sublinhá-lo muito bem porque foi a primeira
vez, desde que vivemos em democracia, que tivemos um ano de eleições em que a
despesa corrente primária baixou e baixou mais do que estava previsto, o que
mostra que houve um cuidado muito grande em não fazer demagogia, em não fazer
eleitoralismos e populismos e em submeter a acção do Governo, mesmo em ano de
eleições, aquilo que é o objectivo mais importante para o país que é livrar-se
do défice excessivo e com isso ganhar espaço de manobra e de negociação com os
nossos credores para podermos ter um crescimento mais sustentado nas finanças
públicas nos próximos anos.
As
medidas que foram anunciadas valem 0,027% do PIB, 46 milhões é, portanto, o que
nos separa de ter um défice excessivo. Isso parece-me o maior elogio à política
que fizemos
Em
relação à reversão da venda da TAP e das concessões no Metro, Carris, que estão
em cima da mesa, acha que ela não se colocava se Sérgio Monteiro tivesse sido
mais rápido a concluir estes processos?
O
dr. Sérgio Monteiro foi um magnífico secretário de Estado dos Transportes e
sendo um objectivo do Governo, no seu todo, ter feito na área dos transportes a
pequena revolução que se fez, deve-se muito à sua preparação e à sua
determinação, os resultados que alcançamos. Andámos à velocidade que foi
possível, demos os passos tão seguros quanto possível para termos bons
resultados. Não creio que fosse, no essencial, possível ter feito melhor e mais
depressa. Portanto, a resposta à sua pergunta é não.
Promoveu
alguma diligência junto do Banco de Portugal e de outros operadores do sector
para a nomeação de Sérgio Monteiro?
Não.
Sou completamente alheio a essa escolha do BdP. Não é matéria que tivesse tido
qualquer relação com o Governo.
Como
comenta a remuneração de 30 mil euros que ele vai auferir?
Não
comento porque nem sequer sei que renumeração é. Não é uma matéria que tivesse
estado à disposição do Governo, foi uma decisão que coube ao BdeP. Não conheço
os termos do contrato e, portanto, não vou fazer comentários sobre aquilo que
não conheço.
Acha
que este Governo vai cumprir a legislatura?
Não
sou advinho e não gosto de formular palpites sobre isso. Posso dizer que é
importante para Portugal a estabilidade e, independentemente, das referências
que possamos ter sobre as escolhas dos programas dos governos. É bom princípio
que eles possam durar para mostrar o que valem.
Conhecendo
os meandros de Bruxelas, está a contar com uma ajuda de Bruxelas para que este
Governo não consiga chegar ao fim? Por causa da acomodação da despesa.
Vamos
ver as duas partes da sua pergunta. Primeiro, que atitude vai ter Bruxelas em
relação ao novo Governo? Eu esperaria uma atitude de cooperação, de
colaboração, porque é a atitude que se deve esperar.
O
senhor próprio viveu essa exigência e provavelmente teve que engolir uns sapos
de vez em quando para lidar com as exigências.
Repare,
a vida não é fácil para ninguém. Eu não me costumo lamuriar nem queixar. Mas
penso que a abordagem deve ser de cooperação. É do interesse da Comissão
Europeia, da União Europeia e da zona euro, que Portugal seja bem sucedido e
creio que será do interesse do Governo apresentar bons resultados. Portanto, à
partida, deverá haver um bom relacionamento. Segunda questão, a Comissão
Europeia vai adoptar uma estratégia, regras, objectivos feitos à medida do
Governo português? Provavelmente não, porque esse não é o mecanismo europeu.
Espero que haja exigência, mas não é em particular com este Governo. Também
aconteceu com o anterior e também existe com os Governos dos outros países.
Estou certo que a Comissão Europeia dentro dessas regras não deixará de ajudar
o Governo português a cumprir essas regras.
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