Está agendada para 8 de Janeiro a
recuperação do feriado nacional do 1º de Dezembro que invoca o mesmo dia do ano de 1640, em que se operou
a Restauração de Portugal, depois de 60 anos sob o jugo filipino. Esse episódio
libertou-nos para não mais o perdermos. E foi até 5 de Outubro de 1910 um
período monárquico em que a Casa de Bragança desenvolveu a sua nobreza, com
altos e baixos, que bastou para mostrar o mérito e demérito de quem a
instituiu.
O feriado que se decretou para
assinalar a data da restauração teve e ainda tem simbolismo bastante para ser recuperado. Os nacionalistas que se
prezam e, sobretudo, a nobreza que a Monarquia instituiu, não me repugna. O que
me repugna é que se faça tanto alarido por causa da restauração e se ignore a
data de nascimento de Portugal. Apenas se restaura aquilo que já existe.
Qual é a data mais simbólica na vida de
uma pessoa, de um país, de um invento, por mais importante que seja? Restaurar
significa recuperar. Se Portugal se restaurou é porque já existia desde que,
naquela primeira tarde de 24 de Junho de 1128, se travou nos Campos de S.
Mamede a Batalha do mesmo nome.
No
caso concreto da restauração de
Portugal, em 1 de Dezembro de 1640, a História definiu-o como sendo o
período que começou com a revolução de 1 de Dezembro e terminou com a
assinatura da paz com a Espanha, em 1668.
Um
país, a exemplo de qualquer cidade, não deve celebrar mais um ano, por cada
salto que dá na vida académica, profissional, desportiva ou religiosa. Um país
deve, acima de tudo, celebrar o primeiro dia da sua vida. Foi por isso que se
universalizou o dia de anos em que se cantam os parabéns a você.
O
atual governo comprometeu-se recuperar os feriados civis e religiosos, caso
formasse governo.
Não teve legitimidade para formar governo,
porque durante a campanha eleitoral, intencionalmente, não informou o
eleitorado de que se aliaria à esquerda, se perdesse as eleições. Traiu o
eleitorado e por isso será sempre acusado dessa rasteira. Esta reversão do
feriado de 1 de Dezembro apenas acontecerá porque, de maneira anómala, conta
com os votos de esquerda. É uma legitimidade ferida de morte. Mas uma vez que a
democracia já nos habituou a estas excrescências, assiste ao governo de António
Costa o direito de anular a extinção daquele que começou a respeitar-se em
meados do século XIX. Fora o feriado mais antigo de Portugal. E é aqui que o
Parlamento vai corrigir um erro menor, cometendo um erro maior. Por outras
palavras: uma vez que Portugal, nos 888 anos
do seu nascimento (2016-1128), nunca teve um ato de lucidez histórica
para transformar o 24 de Junho no seu verdadeiro dia de anos, aproveitaria este
incidente para valorizar essa data, como a mais representativa para a História
de Portugal. Bastaria haver por parte dos representantes do Povo um momento de
reconciliação com a História, decretando o dia do seu nascimento como Feriado
nacional. Tudo o que se seguiu nos 888 anos que leva, de altos e baixos, em
termos de Portugalidade e da Lusofonia deveu-se a essa vitória que pôs fim ao Condado
Portucalense e passou a ser Afonso Henriques, o primeiro responsável pelas
consequências dessa emancipação. Mesmo que só em 1179 fosse reconhecido
universalmente pelo Papa, é inegável que tudo decorreu desde «aquela primeira
tarde Portuguesa nos campos de S. Mamede». Todos os países celebram, tal como
as pessoas, a data do seu nascimento. Portugal é dos Países mais velhos do
Mundo.
As
nossas vilas e cidades também celebram o feriado municipal na data do seu I
foral. Tudo o que acontecer, desde esse primeiro ato, deve fazer parte da
história dessa pessoa, país, cidade ou vila.
Em tudo há sempre uma primeira vez. É sempre a primeira pedra a servir de alicerce.
Sem alicerces seguros não pode garantir-se segurança, coerência e justiça.
A
Monarquia, cedeu lugar à República. A República teve três variantes. As duas
primeiras não deixaram saudades. Esta em que vivemos leva quase 42 anos de
democracia. Há muitas áreas da convivência social que ainda não acertaram o
passo com a Historiografia. E no que se refere ao simbolismo da cronologia da
História deveria haver mais respeito, mais rigor e maior divulgação.
A começar pelas escolas.
No dia 8 de Janeiro o Parlamento vai
desfazer o que o governo anterior fez:
reverter esses dois feriados: 5 de Outubro e 1 de Dezembro. Seria a altura ideal para acertar o
passo com essa cronologia que deve ser ensinada, justificada e exercida para
bem da cidadania plena.
Barroso da Fonte
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